Imagine-se uma embalagem com uma mistura de frutos secos – cajus, avelãs, amêndoas e amendoins amontoam-se, encerrados na escuridão abafada de um pacote com interior espelhado. Mais importantemente para o caso, eis a estrela do grupo – um punhado de castanhas-do-Brasil, de maiores dimensões que os seus companheiros de cárcere, distribui-se por diferentes zonas da mistura. Se o pacote for agitado durante algum tempo, é provável observar-se que as castanhas-do-Brasil tenderão a acumular-se em posições mais elevadas, enquanto que os restantes frutos de casca rija afundam-se na mistura. Deu-se a este fenómeno o nome de ‘efeito castanha-do-Brasil’ – em sistemas granulares mistos, as partículas maiores tendem a subir para o topo quando o sistema é agitado ou vibrado.
Entra em cena Miguel Albino. O aluno do Mestrado em Engenharia Geológica e de Minas do Instituto Superior Técnico analisou este ‘efeito castanha-do-Brasil’, não em frutos secos, mas em misturas granulares do solo lunar, no âmbito da exploração de recursos espaciais, recorrendo a modelos de simulação 3D. O estudo foi feito em colaboração com o Imperial College London, que forneceu dados experimentais com diferentes tipos de amostra.
Com este projeto, o estudante mostrou que o ‘efeito-castanha-do-Brasil’ é mais forte na gravidade lunar, com segregação em todos os testes (ao contrário de apenas em alguns casos em condições terrestres). Também foi estudado o efeito da frequência das vibrações, revelando que valores muito baixos ou altos prejudicam a separação das partículas. A melhor segregação ocorre quando a amplitude e a frequência da vibração estão em equilíbrio, numa proporção próxima de 1:1.
“Desde que entrei no curso que queria fazer uma coisa um bocadinho diferente e gosto da área do Espaço”, partilha Miguel Albino. O Técnico foi uma boa plataforma para explorar esse interesse, “especialmente pela mente aberta dos professores” que o acompanharam. “O projeto foi uma experiência de aprendizagem e, acima de tudo, foi divertido”, comenta.
Entre 19 e 21 de maio, Miguel Albino marcou presença na na Space Resources Week 2025, no Luxemburgo, onde arrecadou o prémio de melhor póster na categoria de Ciência Fundamental.
O objetivo para um eventual doutoramento é expandir a investigação nesta área. Há um “aconchego no coração de ter conseguido fazer algo, de ter algo para apresentar – a melhor parte foi experimentar, foi falhar, foi aprender”, acrescenta o aluno com um sorriso.