Gravitas é o nome do projeto que se propõe a explorar e descobrir o potencial dos buracos negros e que vai reunir 9 investigadores de excelência, avaliados por um painel externo de renome. Fruto de mais uma proposta inovadora recebe, pela terceira vez, um financiamento atribuído pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC), que lhe permitirá desenvolver uma dinâmica de trabalho multidisciplinar pronta a desafiar o entendimento da gravidade.
“Esta é uma bolsa muito avançada, o que significa que o Conselho Europeu de Investigação e todos os colegas que leram as propostas e que depois as aprovaram acham que o que temos estado a fazer aqui em Lisboa, no Técnico e no país, é um trabalho de topo mundial”, salienta.
Este financiamento é “a única forma de manter os melhores investigadores em Lisboa, aqui no Técnico”, garante. Para o físico, a possibilidade de a equipa de investigação trabalhar em full-time e entrar como investigador num projeto desta dimensão financiado pelo ERC é muito importante para o universo do Técnico. “A probabilidade de depois virem a arranjar emprego numa instituição de renome é extremamente alta”, reforça.
Em que consiste a investigação no âmbito do projeto Gravitas?
Segundo o professor Vítor Cardoso, houve uma revolução na ciência desde que foi possível observar ondas gravitacionais na Terra, que foi acompanhada por todo o seu grupo de investigação. Por esse motivo, as questões que se colocam agora são, essencialmente, três: “Será que os buracos negros existem? Aquilo que vemos que parecem objetos gigantes negros e escuros são mesmo os buracos negros da teoria do Einstein? Ou é algo diferente?”, realça.
“Um buraco negro é algo muito especial”, segundo o especialista. Crê-se que existam cerca de triliões de buracos negros com as suas singularidades. “Nós sabemos que a teoria atual prevê que a teoria no interior dos buracos negros falhe. Como é que a equação matemática que dá origem aos buracos negros que nós vemos afinal falha no interior deles?”, é uma das questões do físico.
Mais ainda, acrescenta, que os buracos negros possuem uma membrana (a que se chama horizonte de eventos e funciona como uma barreira) de onde nenhuma informação sai. Mas por que motivo é que isso acontece? “Apesar da teoria falhar no interior dos buracos negros, nunca vemos essa falha. Mas é uma propriedade fantástica. Temos que certificar-nos que estes bichos a que chamamos buracos negros existem realmente”, esclarece.
Os objetivos do projeto Gravitas
Segundo o especialista, o primeiro objetivo do projeto é, justamente, mostrar o caminho e comprovar que aquilo que se está a ver são efetivamente buracos negros. O segundo objetivo (altamente ambicioso) é testar toda a teoria do Einstein através da medição e deteção de ondas gravitacionais e procurar falhas.
“A teoria prevê algo muito específico. Ela prevê que a Terra anda à volta do Sol de uma certa forma que nós testámos, mas também prevê que existem regiões nos buracos negros onde a gravidade é muito, muito forte”, esclarece. Esta análise envolve complexas formas de cálculos matemáticas e um estudo aprofundado da teoria.
O terceiro e último objetivo do projeto Gravitas é “usar os buracos negros como ferramenta”, realça. “Uma ferramenta para estudar o local do universo onde os buracos negros estão e que não temos nenhuma outra forma de estudar. E isto significa o quê? Nós sabemos que a maior parte do universo é feito de matéria que não conhecemos. Nós chamamos a isto matéria escura, mas se os buracos negros estão lá fora e estão em pares a colidir uns com os outros, eles estão de alguma forma a sentir o efeito desta matéria.”
Este é um projeto que prevê marcar significativamente a carreira deste professor de física e investigador do Centro de Astrofísica e Gravitação (CENTRA), que já conta com 13 anos de trabalho e investigação no Técnico, e vai acolher este novo projeto de investigação por um período de 5 anos.
Nesta edição da ERC Advanced Grants 2021 foram apresentadas, no total, 1.735 propostas divididas por três categorias: Ciências Físicas e Engenharia, Ciências Sociais e Humanas e Ciências da Vida, distribuídas por 21 países e 28 nacionalidades. Foram selecionadas propostas de 253 investigadores de renome em toda a Europa.
Além do projeto de investigação Gravitas, do professor Vítor Cardoso em representação do Técnico, ficaram ainda selecionadas mais três propostas de investigadores portugueses: João Alves, da Universidade de Viena, Nuno Bicho, da Universidade do Algarve, e Nuno Santos, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto.