“O convite surgiu de forma muito natural”, afirma a professora Zita Martins, docente do Departamento de Engenharia Química do Técnico, quando questionada sobre o facto de integrar a equipa científica da nova missão da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês). Por detrás desta “naturalidade” que a docente atribui ao convite estão, claro, muitos anos de trabalho na área da astrobiologia, e um currículo internacionalmente reconhecido com muitas parcerias de valor, e muitas colaborações com investigadores de outras instituições. É, aliás, no âmbito de uma dessas parceiras que surge o honroso convite, como explica a docente: “os investigadores principais desta missão são britânicos, eu já tinha colaborado com eles em outros projetos, e eles quando estavam a escrever a proposta disseram que gostariam que eu pudesse dar o meu contributo”, recorda a docente do Técnico. “Fiquei, claro, muito satisfeita com o convite”, assume.
Designada de Comet Interceptor, a missão da agência espacial europeia que a docente do Técnico integra tem como objetivo intercetar e analisar com mais detalhes um cometa intacto que se aproxime do sistema solar interno. “Vamos tentar estudar um determinado objeto que vem de fora do sistema solar, um objeto muitíssimo primitivo, preservado e nunca antes analisado”, destaca a professora Zita Martins. “Desse ponto de vista vamos tentar obter muitíssimas informações, quer em termos de geologia, quer em termos de química, ou ao nível da dimensão, etc.”, acrescenta. O contributo da docente será, claro, na sua área de estudos, ajudando a analisar toda a informação que tenha importância para a química do sistema solar original.
O objetivo desta missão passa por dar resposta a uma das grandes questões da ciência: “Quais eram as condições aquando da formulação do nosso sistema solar?”. Como não existem máquinas do tempo que nos permitam viajar até há 4,6 mil milhões de anos atrás, a melhor maneira de o descobrir é “através da analise de determinados corpos celestes que tenham preservado as suas condições desde a sua formação”, como esclarece a docente do Técnico. Designada como uma missão de classe F, de Fast (rápido em português), a Comet Interceptor só será lançada em 2028, até lá serão anos de muita preparação para que no momento nada falhe.
A professora Zita Martins está habituada às expressões de admiração sempre que se refere a esta missão como “fast” e que a mesma durará 9 anos, sabendo que pode gerar alguma confusão visto que no senso comum quase uma década parece realmente muito tempo. “Em ciências planetárias é exatamente ao contrário e 9 anos vai ser um tempo muito curto. Significa que desde agora até ao lançamento tem que estar tudo preparado”, refere a docente. “A agência tem que ter a certeza que do ponto de vista técnico está tudo pronto para avançar”, adiciona de seguida. “Efetivamente pode parecer estranho eu já estar a planear a minha vida para a próxima década, mas é por uma boa razão”, sublinha entre sorrisos a professora Zita Martins.
Esta nova missão será lançada juntamente com a sonda Ariel, que estudará exoplanetas. Além da aeronove principal, ou nave mãe, a Comet Interceptor inclui duas sondas que serão lançadas em direção ao objeto celeste identificado para fazer observações a curta distância. Para descobrir e escolher qual o cometa a explorar, a ESA contará com equipamentos modernos como o Pan-STARRS, atualmente a máquina de descoberta de cometas mais eficiente da agência, e ainda o Large Synoptic Survey Telescope, em construção no Chile.
Questionada sobre quando surgirão os resultados desta missão a professora Zita Martins explica que “levará muitos anos até tal acontecer”. “Depois do lançamento irá demorar mais alguns anos até se atingir o corpo celeste em estudo e depois disso demora-se também algum tempo a analisar os resultados”, adianta. “Dentro do grupo consideramos que os próximos 12 a 15 anos serão dedicados a esta missão”, prevê a docente do Técnico. “Portanto estarei envolvida nisto muito mais do que uma década”, diz com um sorriso que espelha a felicidade que assim seja.
A Comet Interceptor envolverá cientistas e engenheiros da University College London(UCL), Universidade de Edimburgo, NASA, JAXA, entre outros colaboradores. O projeto será liderado por Geraint Jones, que está no Laboratório de Ciências Espaciais Mullard da UCL. A professora Zita Martins é a única cientista portuguesa na equipa, algo que encara com grande orgulho. “Traz-me uma grande alegria conseguir trazer estas colaborações para o Técnico, e esse sempre foi o meu objetivo quando regressei a Portugal, e a esta escola. O objetivo sempre foi colocar o Técnico neste mapa”. Este convite é um grande passo nessa direção.