Não é só num laboratório que se faz ciência – entre 19 e 27 de junho, investigadores e estudantes do Instituto Superior Técnico estiveram no Campo Militar de Santa Margarida, em Constância, a testar projetos no terreno. A oportunidade surgiu no âmbito da segunda edição do ARTEX (acrónimo de ARmy Technological EXperimentation), um programa organizado pelo Exército Português para a sua modernização que permite a empresas e instituições de ensino superior testar soluções tecnológicas em desenvolvimento e com possíveis aplicações militares em campo.
É uma “oportunidade para experimentar coisas que não estão certificadas ou que ainda não têm enquadramento legal para que esses testes sejam feitos”, explica Alexandra Moutinho, professora do Técnico e investigadora no Instituto de Engenharia Mecânica (IDMEC). A título de exemplo, a docente partilha que os equipamentos que sobrevoaram o campo militar estiveram sujeitos a um limite de altitude mais permissivo do que o aplicável em meio civil, onde não poderiam ter ido além dos 120 metros. Em comparação, o drone de asa fixa do Técnico pôde atingir os 3104 metros de altitude durante os exercícios, para os quais a Escola também levou um drone terrestre não-tripulado (UGV, sigla inglesa de Unmanned Ground Vehicle), um drone hexarrotor e um balão de grande altitude.
O drone terrestre, apelidado de UGV Vigilant, possui um sistema “que combina uma câmara térmica e uma câmara visível, fazendo a deteção de pessoas e que as classifica como civis ou militares”, avança Alexandra Moutinho. Comandado remotamente, o dispositivo permite a inspeção de infraestruturas e vigilância de campo, com capacidade de transporte de pequenas cargas. “Cumpriu bastante bem os objetivos”, observa o tenente Artur Machado do Exército Português, envolvido neste projeto, sublinhando que aspetos como velocidade e manobrabilidade do UGV Vigilant só poderiam ser testados eficazmente em campo. “O Técnico tem sido chave para o desenvolvimento destas tecnologias de Defesa em conjunto com o Exército”, comenta o militar.
O Técnico participou também em exercícios de telecomunicações em local inóspito através da montagem de um repetidor de comunicações (de uma empresa que também participava nos testes do ARTEX) num drone hexarrotor desenvolvido por investigadores da Escola. Quando em voo, este permitiu estabelecer comunicações com um posto de comando a mais de dez quilómetros de distância, um feito não replicável se o equipamento se encontrasse no solo.
Por sua vez, o balão de grande altitude e o drone de asa fixa, inseridos no projeto Eye in the Sky, foram testados num lançamento em voo a 3104 metros de altitude, algo inédito em Portugal. Estes equipamentos “têm o potencial para ser usados pelas Forças Armadas seja para comunicações de longo alcance ou para uma vista aérea como se fossem um satélite ‘a pedido'”, informa Alexandra Moutinho. Este balão foi também testado anteriormente para apoio ao combate a incêndios rurais e vigilância, acumulando essas potenciais funcionalidades.
Os projetos testados tiveram o envolvimento do IDMEC, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores Inovação (INOV) e do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR-Lisboa), contando também com a participação de sete estudantes, dois deles pilotos dos equipamentos testados e membros do Núcleo de Estudantes de Engenharia Aeroespacial (AeroTéc).
Dando continuidade à ligação entre a investigação do Técnico e as Forças Armadas portuguesas, o almirante Henrique Gouveia e Melo visitou a Escola para contactar com alguns dos Núcleos de Estudantes e respectivos protótipos. Durante a visita, o militar ficou a conhecer as iniciativas do Técnico Solar Boat, a TLMoto, o Projeto de Sustentabilidade Energética Móvel (PSEM), o AeroTéc e o Técnico Formula Student (FST Lisboa), contactando também com os equipamentos testados durante o ARTEX.
Em setembro, alguns destes projetos de estudantes do Técnico farão parte do REP(MUS) (Robotic Experimentation and Prototyping using Maritime Uncrewed Systems), exercício militar anual da NATO do qual Portugal é anfitrião, acolhendo forças militares de outros estados-membro. A par do UGV Vigilant e do Eye in the Sky testados no ARTEX, marcarão presença neste exercício o barco solar do Técnico Solar Boat, o Rocket Experiment Division (para a construção de rockets) e o projeto ATLAS (aeronaves autónomas), estes dois últimos inseridos no AeroTéc.