A pandemia de COVID-19 tornou as máscaras descartáveis um acessório essencial no nosso quotidiano. Apesar de serem cruciais na proteção individual de cada um de nós, estas representam também uma grande ameaça ambiental de poluição do solo e, principalmente, dos oceanos. É como resposta a esta problemática que surge o projeto “ReDuCe – Uso de Resíduos de Máscaras Descartáveis em Compósitos com Diversas Formulações” que tem como objetivo principal a promoção da reciclagem das máscaras cirúrgicas IIR usadas, contribuindo para uma construção mais sustentável e para a redução da quantidade de resíduos de plástico em aterro ou incineração.
O projeto que conta com uma equipa multidisciplinar do Técnico liderada pela investigadora do CERIS – Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade, Maria Paula Mendes, irá aproveitar os resíduos em forma de fibras ou partículas das máscaras cirúrgicas usadas, e incorporá-los em compósitos para a construção. A equipa de investigadores “está a estudar a incorporação deste tipo de resíduos em compósitos usados para soluções construtivas, tal como as argamassas, betões não estruturais e camadas de enchimento de pavimentos ou paredes”, como começa por explicar Maria Paula Mendes.
Para tal, estão a ser testados “vários rácios de incorporação destes resíduos em materiais de construção, tendo presente um delicado equilíbrio entre o desempenho do compósito e o maior índice de incorporação de resíduos plásticos das máscaras. Vamos, igualmente, avaliar a durabilidade dos materiais otimizados”, tal como partilha Maria Paula Mendes. “Todo este processo é exigente e na equipa ReDuCe estamos comprometidos para que no final possamos ter potenciais materiais de construção ambientalmente sustentáveis”, atesta a investigadora do CERIS. O estudo permitirá abordar outros resíduos de plástico para além dos provenientes das máscaras descartáveis.
O ReDuCe arrancou em setembro de 2021 e depois de definidos os compósitos que irão ser usados para a incorporação dos resíduos das máscaras é agora altura de otimizar as formulações. “Já fizemos ensaios de caracterização de resíduo e está em curso a realização de vários testes de desempenho”, expõe coordenadora do projeto.
A longo prazo, o objetivo do projeto passa pelo desenvolvimento de produtos com uma boa relação preço/desempenho/sustentabilidade, capazes de competir com as soluções construtivas já existentes. “A nossa perspetiva sempre foi de acharmos que o que torna a União Europeia competitiva em relação ao resto do mundo, é o facto de estarmos ao abrigo do Pacto Ecológico Europeu e todas as demais políticas e programas em matéria de Ambiente”, defende Maria Paula Mendes.
Um dos compromissos do ReDuCe passa por enquadrar os seus resultados na atividade das empresas que integram a BCSD [Business Council for Sustainable Development] ou das empresas do antigo grupo CUF, no desenvolvimento final do(s) produto(s) para o mercado. “Consideramos que esta fase é parte integrante do projeto e fundamental para que possamos criar produtos comercialmente competitivos e que respeitem as atuais exigências”, destaca a investigadora do CERIS.
Ainda antes de arrancar, o projeto dava já que falar e o seu relevo acabaria por ser reconhecido com o Prémio de Investigação Científica Alfredo da Silva, em julho de 2021, com um valor pecuniário de 25 mil euros. De acordo com a investigadora do Técnico, esta distinção “deu um novo estímulo à equipa e foi recebida com grande satisfação, a nível pessoal, senti o peso da responsabilidade”.
Além de Maria Paula Mendes compõem o grupo de investigação do ReDuCe, docentes e investigadores dos dois centros de investigação do Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos (DECivil), entre os quais: a professora Inês Flores-Colen (CERIS/DECivil), o professor Carlos Oliveira Cruz (CERIS/DECivil), o professor Manuel Francisco Pereira (CERENA/DECivil), o doutor Giovanni Borsoi (CERIS), o professor Rui Galhano (CERENA/Departamento de Engenharia Química- DEQ) e o doutor Rui Silva (CERIS/DECivil). Integram ainda a equipa os bolseiros e alunos de Mestrado do Técnico: Bernardo Ramalho (DEQ), Júlio Veloso (DECivil) e Juliana Chen (Departamento de Engenharia Mecânica). A empresa do sector têxtil, a Betinatêxteis é também aliada do projeto, colaborando de forma estreita com o grupo de cientistas do Técnico. A coordenadora do projeto salienta, no entanto, que “um projeto não deve ter uma estrutura fechada”, e por isso adianta que “à medida que forem surgindo novas perspetivas de aplicação e desafios, iremos buscar novos talentos”.
A investigadora do CERIS sublinha que apesar de já existirem outros estudos que têm como objetivo a reciclagem de máscaras cirúrgicas estes estão “ainda numa fase experimental e longe do que seria desejável”.
Alinhado com a crise pandémica e com as questões da sustentabilidade ambiental que estão na ordem do dia este projeto tem tudo para ser bem-sucedido. Maria Paula Mendes destaca que a investigação aplicada tem mesmo “que estar atenta às necessidades societais”, e o ReDUCe é um bom exemplo disso.