Comecemos pelas devidas apresentações. O “Sesimbra a Bordo” é um pequeno barco não tripulado que faz parte do projeto Leva Portugal ao Mundo – Escola Azul, e que foi projetado para navegar pelos “altos mares” da literacia do oceano, ao sabor da curiosidade dos mais jovens, envolvendo-os na viagem e nesta área. Na passada-sexta-feira, 14 de junho, um lançamento simbólico dava o barco por concluído, encerrando-se da melhor forma o ano letivo dos alunos do Agrupamento de Escolas Navegador Rodrigues Soromenho – que simbolizaram uma importante parte no ativo que preparou a embarcação. O projeto tem sido acompanhado e orientado permanente pela Direção-Geral de Política do Mar (DGPM) e pelo Instituto de Sistemas e Robótica (ISR-Lisboa), contando com o apoio da Câmara Municipal de Sesimbra. Tal como o próprio nome indica, o objetivo é levar Portugal ao Mundo, neste caso Sesimbra em particular, e quando este barco se faz ao mar metade da sua trajetória já está cumprida: o despertar dos jovens para o mundo dos oceanos.
A ideia original por detrás deste projeto partiu de Richard Baldwin, um antigo navegador solitário norte-americano de 67 anos que quando decidiu deixar de navegar – e questionando o que podia fazer continuar a divertir-se -, rapidamente percebeu que podia instalar unidades GPS em pequenos barcos não tripulados e segui-los pelos oceanos no conforto e na segurança da sua sala-de-estar. Mais tarde, o navegador compreenderia que podia usar a sua ideia para levar os mais jovens numa espécie de viagem virtual pelo oceano, incentivando o interesse pela geografia, oceanografia ou ciências da terra. A ideia tornou-se um projeto de sucesso – o Educational Passages – cativando centenas de instituições de ensino americanas.
O conceito foi trabalhado e desenvolvido em Portugal pela atual equipa de Literacia do Oceano da DGPM, lançando-se os programas ‘Leva Portugal ao Mundo’ e ‘Escola azul’. Ao longo do tempo, os projetos têm vindo a ganhar consistência e admiradores, sendo o “Sesimbra a Bordo” mais uma das iniciativas que dá continuidade e seguidores à ideia, envolvendo os jovens na preparação dos barcos, no lançamento e despoletando nos mesmos a vontade de o acompanhar ao longo da sua trajetória. Isto é possível graças ao GPS e emissor via-satélite que o barquinho leva a bordo, mantendo a ligação a um sistema da agência americana NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) que permite monitorizar a sua trajetória. É isto que o torna numa espécie de ‘garrafa com mensagem’ do século XXI.
A mensagem apresenta-se sob forma de conteúdos nas áreas das ciências naturais, geografia, história, matemática, cidadania, tecnologias de informação, artes, ou língua portuguesa, e está compilada em várias pens USB, que seguem a bordo. Para além dos conteúdos, o barco foi meticulosamente decorado pelos jovens com motivos alusivos a Sesimbra e a Portugal. “A parte da mensagem é muito importante, pois ajuda a fazer a ligação entre os lançadores e os que o recolhem o barquinho”, explica o engenheiro Luís Sebastião, investigador do ISR-Lisboa, que tem acompanhado de perto o projeto. “As componentes humana, social, linguística, histórica e geográfica são mais importantes do que se poderia imaginar e talvez o que torna o projeto mesmo especial, tocando mesmo nas pessoas”, destaca ainda.
Outro detalhe importante nesta história de descobertas e navegadores é o facto de a embarcação não tripulada ser movida com a energia do vento e da corrente. O barco foi desenhado para seguir automaticamente na direção do vento o que, tal como partilha Luís Sebastião, “é também um excelente motivo para interessar os mais novos pelo estudo das correntes, da hidrodinâmica e da meteorologia”. “O projeto acaba por ser uma forma de levar as crianças e jovens a olhar para o mar para além daquilo que vêm quando vão à praia, alguns andam de barco pela primeira vez no dia do lançamento, e depois de transportado pelos ventos e pelas correntes o barco faz uma ponte (virtual) entre a escola de partida e uma escola que se procura envolver no local da chegada e que habitualmente continua o projeto”, evidencia o investigador do ISR-Lisboa. “O próprio projeto é renovável!”, sublinha de seguida.
O ISR-Lisboa tem tido um papel fundamental no programa “Leva Portugal ao Mundo”, envolvendo-se desde o início no mesmo. “Tudo começou com um primeiro barco que deu à costa em Aveiro [barco WEST] e alguém conhecia uma colega do centro MARETEC do Técnico. Como era necessário alguém recondicionar e programar o GPS falaram com o ISR-Lisboa. A partir daí o mentor do programa ficou a conhecer-nos e a saber que poderia contar connosco”, recorda Luís Sebastião, lembrando o sucesso da primeira embarcação.
Apesar de meramente simbólico, o lançamento da passada sexta-feira foi muito importante no cumprimento de um dos principais objetivos do projeto: o envolvimento dos jovens em todos os processos “O lançamento final, em alto mar, está previsto para setembro e desta forma, logo no início do ano letivo, os alunos poderão segui-lo à distância a partir desse momento usando o sistema de GPS e transmissão via satélite”, partilha o investigador do ISR-Lisboa. Até lá e quem quiser ver o barco ao vivo poderá fazê-lo no Museu Marítimo de Sesimbra.