Ciência e Tecnologia

Técnico leva o Ártico a escolas de Lisboa

Investigador João Canário (Técnico/CQE) lidera projeto de ligação da sua investigação a estudantes de 3º ciclo e secundário, sobre ciências polares.

Decorreu no dia 31 de maio o lançamento de uma parceria de divulgação de ciência do Técnico com a Escola Secundária Padre António Vieira, em Lisboa. Esta parceria no âmbito do projeto “Biogeoquímica e impacto do mercúrio em áreas de degradação de permafrost (PERMAMERC)“, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), coordenado por João Canário, professor no Departamento de Engenharia Química (DEQ) e investigador do Centro de Química Estrutural (CQE), que pretende a divulgação das Ciências Polares no ensino secundário. Em particular, será abordado o papel das alterações climáticas na degradação do solo permanentemente gelado do Ártico e na consequente libertação de mercúrio para os ecossistemas boreais. O lançamento desta parceria em Lisboa contou com a presença do Ministro da Educação João Costa que apadrinhou a iniciativa.

O projeto financiado inclui a investigação sobre esses temas no terreno, bem como uma ligação às comunidades de estudantes tanto portugueses como Inuítes, do Canadá. Serão tidas em consideração as respetivas realidades locais e o seu envolvimento com o ambiente, e serão os estudantes a identificar os pontos de maior interesse para aprofundar do ponto de vista científico. Serão também tidos em consideração os currículos escolares, em especial as disciplinas de geografia, biologia, química e física, para maior complementaridade da aprendizagem formal e não formal. O objetivo final é aproximar os jovens da investigação científica, e de os envolver em projetos em co-criação. Desta forma, promover-se-á a construção de uma sociedade mais informada e com maior consciência ambiental.

Durante os próximos dois anos serão efetuadas diversas atividades de cariz científico pedagógico com alunos do 9.º e 12.º ano da Escola Secundária Padre António Vieira, que serão convidados a conhecer os laboratórios do Técnico e do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), escola parceira do projeto juntamente com o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), onde os cientistas estão a trabalhar estes temas, bem como levá-los em saídas de campo para que possam aprender a utilizar as mesmas ferramentas que os investigadores precisam para o estudo do Ártico – só que sem o gelo.

Sobre o projeto

O recente aumento da temperatura global tem tido o seu maior impacto no Ártico e, entre outras consequências, tem conduzido à degradação do permafrost (solo permanentemente gelado), um grande problema ambiental.

Os solos permanentemente gelados têm sido considerados como uma barreira ao transporte de poluentes, no entanto, o aquecimento do ártico poderá levar a um incremento da mobilidade de contaminantes historicamente retidos nesses solos.

Muitos estudos sobre poluentes no ártico têm estado focados noutros compartimentos ambientais que não os solos permanentemente gelados. De facto, para além da estimativa da quantidade de poluentes acumulados, só recentemente a comunidade científica começou a prestar especial atenção ao estudo de processos biogeoquímicos de metais pesados e compostos orgânicos persistentes em solos permanentemente gelados. Estes estudos tornam-se prementes, principalmente para o mercúrio (Hg). Num trabalho recente, foi estimado que os solos permanentemente gelados do hemisfério norte conteriam cerca de 1656 g de mercúrio, o que é o dobro de todo o metal existente conjuntamente no oceano, atmosfera e solos. Esta situação preocupante, aponta para a necessidade urgente de estudos científicos que permitam perceber as consequências e impactos para o meio ambiente resultantes da degradação acelerada do solo permanentemente gelado e na consequente libertação de mercúrio, para todos os ecossistemas árticos.

O projeto PERMAMERC tem como objetivo contribuir para o melhor conhecimento do ciclo do mercúrio em ambientes de degradação de solo permanentemente gelado Pretende ainda contribuir para melhor perceber a importância da degradação do solo permanente gelado, no ciclo global do mercúrio e ainda avaliar o seu impacto na ecologia do ártico, nos serviços dos ecossistemas e na saúde humana das comunidades Inuits.