Pela primeira vez, uma equipa portuguesa realizará investigação na Gronelândia e um estudo integrado sobre os efeitos do aquecimento global na dinâmica do mercúrio e da matéria orgânica em solo permanentemente gelado (permafrost). A 18 de julho, João Canário, investigador do Instituto Superior Técnico, partiu para a estação científica Zackenberg, situada a 74ºN na costa leste da Gronelândia. Integram também a equipa Beatriz Martins e Diogo Ferreira, estudantes de doutoramento do Técnico.
Para a realização do estudo, o grupo recolherá amostras de água e solos. “As águas serão recolhidas em lagos resultantes da degradação do permafrost (a diferentes profundidades) e os solos numa área em que recentemente se começou a verificar a emissão de metano diretamente dos mesmos”, explica João Canário. Será nesta área que os investigadores medirão a quantidade de gases de efeito de estufa (dióxido de carbono e metano) que se libertam para a atmosfera, para depois relacionarem estas emissões com a composição química e microbiológica dos solos.
Os 112kg de equipamento a usar saíram do Técnico no início de junho e permitirão o processamento inicial das amostras. As amostras recolhidas nesta expedição serão enviadas para o Instituto Superior Técnico que analisará parte delas. As restantes serão processadas no Canadá por Beatriz Martins e Diogo Ferreira.
A equipa pretende “avaliar a distribuição de mercúrio e metilmercúrio” (a forma mais tóxica de mercúrio) e como esta poderá ser explicada pela composição química do lago, a degradação do permafrost e também pela composição microbiológica. Este último aspeto é particularmente relevante, uma vez que a transformação da forma menos tóxica para a forma mais tóxica de mercúrio (contaminante prejudicial ao ambiente) é feita à custa da atividade microbiana.
Estudar a dinâmica do mercúrio e da matéria orgânica implica “perceber todos os processos biogeoquímicos pelos quais estes materiais se comportam logo que ficam disponíveis no meio ambiente”. Sendo esta uma zona onde “só muito recentemente o permafrost começou a degradar-se”, trata-se de uma oportunidade para “estudar processos que estão ainda no início”, a que se junta “o facto de nunca terem sido realizados estudos de mercúrio” ali. Entender estes processos é, na opinião de João Canário, fundamental para conseguir avaliar os impactos para o ambiente e vida selvagem e, de alguma forma, investigar possíveis medidas de mitigação ou remediação” dos mesmos.
Chegados ao local na data prevista, 19 de julho, os investigadores não deverão contar com temperaturas acima dos 6ºC, durante a estadia. Numa zona em que apenas é possível trabalhar no verão, além do mau tempo, poderá condicionar os trabalhos a presença de ursos polares no terreno. E, se todo o percurso até Zackenberg é feito de avião, na base todas as deslocações serão a pé.
O trabalho de campo decorrerá até ao dia 3 de agosto. Contará com a colaboração de investigadores dinamarqueses da Universidade de Aarhus e do Greenland Ecosystem Monitoring e de outras Universidades parceiras do projeto como as Universidades de Trent e Laval no Canadá, o Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa e o Centro Interdisciplinar de Observação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto.