“A Ciência nem sempre corre bem, é isso mesmo Ciência”, esta frase de Carina Crucho, investigadora do Técnico, podia muito bem ser dita por qualquer pessoa que pratica investigação e faz dela profissão e prioridade. “É preciso diariamente encontrar motivação e força para continuar a acreditar que amanhã será diferente”, refere ainda, sendo que para ela o hoje já está a ser diferente . Desde esta quarta-feira, 21 de março, a investigadora terá uma nova e honrosa motivação: é uma das mais recentes contempladas com a Medalha de Honra Mulheres na Ciência. “Fiquei muito feliz e é sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido, o reconhecimento dá-nos força para fazer mais e melhor”, realça.
O trabalho que valeu o prémio à investigadora do Centro de Química-Física Molecular está inserido num tema bastante atual: a resistência aos antibióticos pelas bactérias. “Hoje em dia a maior parte da investigação científica está direcionada para a cura do cancro. Eu optei por escolher um tema também atual e importante, que são as bactérias multi resistentes”, explica Carina Crucho. Localizado o problema, a investigadora idealizou uma solução que passa por potenciar o efeito dos antibióticos, concentrando a sua ação através de uma libertação exclusiva no alvo, usando para tal as nanopartículas capazes de reconhecer as bactérias. Evitando o uso de doses mais altas, o projeto da investigadora do Técnico pretende ainda que o uso destas nanocápsulas possa contribuir para evitar o desenvolvimento de bactérias resistentes.
O potencial do projeto é gigantesco, contrastando com as nanocápsulas de sílica a utilizar neste projeto que são muito, muito pequenas — terão entre 30 e 100 nanometros, sendo que cada nanometro é um milionésimo de milímetro. O seu tamanho minúsculo permitirá que o organismo as expulse assim que já não necessite delas, sendo que as mais pequenas são eliminadas pelo próprio sistema de limpeza do corpo, como os rins, e as maiores apanhadas e eliminadas pelo sistema imunitário.
O projeto foi escrito a pensar no prémio da L’Oréal, e apesar de recém-chegada à área das nanocápsulas, a investigadora do Técnico encara-o como um desafio e pretende ter resultados para mostrar a curto-médio prazo. O valor do prémio que recebeu, por sua vez vai ajudar no desenvolvimento do projeto.
“Reconhecer o trabalho fantástico realizado por jovens cientistas” e “inspirar outras mulheres a seguirem uma carreira na área científica, desafiar mentalidades, transformar sistemas e promover um mundo inclusivo sustentado por uma política de igualdade de oportunidades baseada no mérito”, é o grande objetivo das Medalhas de Honra Mulheres na Ciência. Para Carina Crucho “se conseguir motivar uma pessoa que seja então já vale a pena”. “É preciso passar a mensagem, que com trabalho e dedicação tudo é possível. É preciso acreditar”, frisa ainda a investigadora.
Nesta edição, cujo júri científico foi presidido por Alexandre Quintanilha, concorreram mais de 70 cientistas. Além da investigadora do Técnico, também Inês Bento, do Instituto de Medicina Molecular (IMM), Margarida Fernandes, bolseira de pós-doutoramento na Universidade do Minho e Dulce Oliveira, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera foram galardoadas. Desde 2004 que o prémio distingue mulheres cientistas até aos 35 anos e além da L’Oréal, também a Comissão Nacional da UNESCO e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia estão envolvidas na iniciativa.