Soro, plasma, sangue venoso, tecidos tumorais e saliva são apenas algumas das amostras biológicas que o recentemente criado biobanco do Centro de Química Estrutural (CQE), o biobank|CQE, permite conservar. O conceito não é novo, e pode mesmo ser comparado a uma espécie de “biblioteca da vida”, um acervo de material biológico humano agregado a dados de histórico pessoal frequentemente usado em investigação científica. Este instrumento estratégico no desenvolvimento de investigação em biomédica passará agora a estar acessível a qualquer investigador do Instituto Superior Técnico, de forma simples e a uma curta distância.
O uso deste tipo de amostras já era obviamente uma prática comum a vários grupos de investigação do Técnico que exercem atividade nesta área, sendo as amostras para tal cedidas por laboratórios externos ou através de colaborações. É desta necessidade premente de acesso a este tipo de amostras que nasce a ideia de criar o biobank|CQE. “Este biobanco em particular foi criado no âmbito de um projeto de investigação, a correr no nosso grupo, em que se pretende estudar de que forma algumas células do sistema imunitário reagem a estímulos externos como, por exemplo, alguns fármacos”, explica o investigador Pedro Pinheiro, membro da coordenação e comissão científica do biobanco. “Foi criado na sequência de um outro projeto de investigação, chamado TrImmuR, em que se desenvolveu uma molécula capaz de ativar seletivamente a resposta das células natural killer e que necessitou, na altura, de acesso a grandes quantidades de amostras humanas”, acrescenta.
Tal como nos explica o investigador Pedro Pinheiro, “o biobank|CQE foi projetado para armazenar até um total de 750 amostras de células viáveis, isto é, que podem ser usadas em cultura celular, e um máximo de 10 000 amostras para fins de análise, como soro, plasma, frações celulares, entre outros e para já está ainda muito longe de atingir esta capacidade máxima”. “No entanto, esperamos atingir a meta dos 50% de ocupação dentro de 18 meses”, realça o investigador do CQE”, salienta o investigador, aproveitando para apelar à doação de amostras por parte de toda a comunidade.
Qualquer investigador da comunidade Técnico poderá aceder às amostras preservadas no biobank|CQE, desde que reunidas as condições necessárias. “Há, no entanto, que ressalvar que o manuseamento de amostras de origem humana carece de condições técnicas, humanas e de segurança biológica específicas e adequadas a cada tipo de amostra, pelo que o acesso às mesmas requer a avaliação prévia dessas condições”, frisa Pedro Pinheiro.
Ainda que existam condições para recolher e processar diferentes tipos de amostra, desde tecidos- biópsias ou mesmo tumores- a fluidos, como sangue e urina, neste momento a equipa do biobank|CQE está a recolher principalmente amostras de sangue, através da colaboração com os Serviços de Saúde do Técnico. “O biobank|CQE coleciona também amostras de biópsias que nos têm permitido estudar a deposição de algumas proteínas amilóides em tecidos como osso, rim, derme, gordura abdominal, entre outros”, destaca o investigador do CQE.
Qualquer pessoa maior de idade pode doar uma amostra, sendo o processo totalmente anónimo. “Os únicos dados recolhidos e que ficam associados a cada amostra são a idade, sexo e eventual medicação crónica utilizada, sendo estes dados fornecidos de forma totalmente voluntária”, assegura Pedro Pinheiro.
Criados com o objetivo de facilitar a investigação na área da saúde, os biobancos ajudam a desvendar as causas e os mecanismos das doenças e a encontrar formas de as prevenir e mitigar. “Apenas com o acesso a amostras processadas em condições específicas, bem catalogadas e armazenadas em boas condições, é possível desenvolver trabalhos científicos com alto impacto e expressividade”, afirma o investigador do CQE.
Já não há dúvidas de que os dados obtidos a partir de amostras de portadores de algum tipo de patologia podem contribuir significativamente para a caracterização dos processos biológicos associados ao mesmo. “No entanto, e isto é um ponto extremamente importante, dada a alta variabilidade genética, exposição a diferentes condições ambientais, medicação, hábitos alimentares e outros parâmetros, para identificar um denominador comum é necessário analisar um grande número de amostras e comparar os resultados obtidos com o que se observa em amostras de dadores saudáveis”, explica o investigador do Técnico. É por essa razão que no biobank|CQE são armazenadas amostras de dadores saudáveis, não medicados e de várias idades diferentes, tendo como fim último contribuir para o avanço da investigação e consequentemente para a produção de conhecimento em medicina.