Campus e Comunidade

“A inteligência é uma caraterística totalmente dominante”

A frase é do professor Arlindo Oliveira, autor do ensaio "Inteligência Artificial" editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e lançado esta quarta-feira no Técnico.

 

O Salão Nobre do Instituto Superior Técnico foi esta quarta-feira, 30 de janeiro, palco da apresentação do ensaio “Inteligência Artificial” editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e do qual o presidente do Técnico, professor Arlindo Oliveira, é autor. Os lugares vazios – ou temporariamente ocupados pelas obras que os primeiros a chegar iam adquirindo para saciar curiosidade – rapidamente ficaram lotados. A apresentação propunha desvendar um pouco da obra do presidente do Técnico, mas também propiciar um debate construtivo em torno de uma das temáticas mais preponderantes da atualidade.

A apresentação do ensaio ficou a cargo do professor Mário Figueiredo, docente do Técnico e investigador do Instituto de Telecomunicações na área da aprendizagem automática. Expondo a amizade e admiração que sente em relação ao autor, sobretudo pelo “brilho nos olhos que ainda tem ao discutir estes assuntos com grande paixão”, o professor Mário Figueiredo demonstrou de forma exemplarmente clara porque é que se deve comprar este ensaio, tratando posteriormente de espicaçar com um resumo do conteúdo da obra a curiosidade dos que não ficaram convencidos com os argumentos iniciais.

“Este é um livro que faz serviço público”, começava por explicar, focando a ideia de que face ao protagonismo crescente da Inteligência Artificial (IA) é cada vez mais preponderante que os cidadãos tenham uma “literacia tecnológica” que lhes permita saber o que é que estas novas tecnologias fazem, em que é que se baseiam e quais são os seus limites. “Não é preciso saber nada em especial para ler este livro, a não ser ter uma mente curiosa”, declarava a seguir, enfatizando a acessibilidade da obra, quer pelo seu conteúdo quer pelo seu custo. Relatando a facilidade com que devorou o livro, o docente do Técnico ia repetindo os elogios ao seu conteúdo, destacando o facto de estar “muito bem escrito”, e a “quantidade impressionante de informação que detém”. Os enaltecimentos não eram de todo vazios e perceber-se-ia progressivamente que os fez como base numa uma análise profunda da obra, permitindo que com as suas palavras a assistência folheasse algumas das questões que cada capítulo toca.

Foi depois a vez do autor de proferir algumas palavras sobre o ensaio, esclarecendo antes de tudo que tentou “escrever este livro de maneira que os amigos que não conseguem ler o meu outro livro pudessem ler este”. Sem entrar em grandes detalhes sobre o ensaio propriamente dito, o professor Arlindo Oliveira salientava que gostou de o escrever, esperando também que os leitores sintam o mesmo em relação à sua leitura. Incontornavelmente – não fosse esse o tema central da obra- o autor acabou por abordar as questões da inteligência, mas não apenas na sua dimensão artificial. “A inteligência é uma caraterística totalmente dominante, a espécie que tem mais inteligência tipicamente domina o planeta e na visão mais otimista disto a espécie mais inteligente do planeta pode mesmo vir a dominar a galáxia”, vincava a determinada altura o professor Arlindo Oliveira.  “Nós não conhecemos nenhuma caraterística que seja tão fascinante e tão importante como a inteligência. Tudo à nossa volta é o resultado da inteligência humana”, assinalava de seguida. Desafiando a audiência a ler a sua obra, mas também outros livros sobre a mesma temática, o autor terminou a sua breve intervenção destacando que “percebermos o que é a inteligência e onde é que ela nos pode conduzir, seja artificial ou não, é provavelmente o maior desafio da humanidade, porque se acabarmos extintos vai ser uma consequência da inteligência”.

A sessão prosseguiu com um debate moderado pelo jornalista do Público, João Pedro Pereira, que fez questão ele próprio de lançar algumas perguntas aos dois docentes do Técnico, dando depois palavra à curiosidade da audiência. As motivações por detrás deste protagonismo crescente da IA, a discussão filosófica por vezes associada à questão, a inspiração que esta área pode ir buscar às neurociências, a evolução dos últimos anos em torno da IA geral e ainda a existência de inteligência fora do corpo humano foram algumas das questões levantadas e que ambos os oradores responderam sem rodeios, transmitindo as suas convicções e expetativas face às mesmas.

Para encerrar o debate, como não podia deixar de ser, o futuro veio à baila através de uma pergunta acerca dos sucessos futuros que se podem esperar da IA. “Termos uma tradução em tempo real de uma língua para outra com grande qualidade seria uma coisa significativa, sem erros, com uma alta taxa de precisão seria um salto gigante”, apontava o professor Arlindo Oliveira. Para o professor Mário Figueiredo, “a grande explosão em IA, e que vai mudar a maneira como essa área vai funcionar é o diagnóstico médico, nomeadamente a parte da imagiologia. Daqui a 40 anos, e sendo bastante conservador, não vai haver imagens médicas no sentido atual”.

À saída, a fila crescente para adquirir a obra demonstrava bem o sucesso da sessão e a pertinência deste ensaio.