São estudantes comuns, umas dezenas no extenso universo do Técnico, e despendem muito do seu pouco tempo para ajudar a resolver os problemas dos colegas. Assumem responsabilidades, encabeçam os problemas, dão a cara pela solução, porque gostam, mas também porque se querem envolver na Escola e deixar uma marca na melhoria da qualidade pedagógica do Técnico. Estes são meros pormenores, numa lista enorme de caraterísticas que tornam o corpo de delegados elementos fundamentais no funcionamento dos cursos, e em última instância na harmonia da própria Escola. Com as eleições à porta fomos falar com dois veteranos no exercício destas funções, Francisca Simões e Pedro Garvão, e perceber o que os levou a candidatar-se e o balanço que fazem da experiência.
Francisca Simões já tinha sido delegada de turma no secundário, e assim que percebeu que a experiência se podia repetir quando entrou na faculdade teve vontade de se candidatar. Porém a incerteza do que a esperava no primeiro ano, fê-la esperar mais um tempo, mas não muito. No ano seguinte, vence as eleições e assume as funções de delegada do 2º ano do curso de Engenharia Mecânica. Gostou tanto que se recandidatou. Nos dois anos em que desempenhou funções enfrentou várias adversidades, a maior de todas foi o desconhecimento dos colegas em relação ao cargo e à sua importância: “embora isso tenha vindo a mudar um pouco nos últimos dois anos, acho que os alunos antes não percebiam a relevância de ter alguém a representá-los, não percebiam que fazia sentido participarem nas eleições”. “Eu posso ter uma postura ativa na minha faculdade, eu sei que algo está mal e eu posso fazer algo para mudar isso”, reitera de seguida Francisca. Recusa-se a assumir a inércia como uma caraterística da sua geração, ou refugiar-se no argumento de que está de passagem pelo Técnico. Prefere acionar o seu sentido crítico e a vontade de fazer alguma coisa em prol da sua Escola e dos seus colegas e o cargo de delegado tem sido um meio para tal. Não pinta o quadro perfeito, afinal há situações mais complicadas no exercício destas funções, mas na balança pesa muito mais a sensação de que “posso fazer diferença na vida dos meus colegas e mesmo na vida dos professores”, destaca a aluna de Engenharia Mecânica. “A melhoria global da qualidade pedagógica do Técnico consegue-se muito à conta daquilo que os delegados fazem”, declara de forma determinada, num exercício de argumentação perfeito que confessa que aprimorou no exercício das funções de delegada.
Pedro Garvão vai acenando a cabeça à medida que a sua colega de funções fala em jeito de concordância total. A bagagem do aluno de Engenharia Biológica é ainda mais pesada, e por isso tem algo a acrescentar. Ao contrário de Francisca avançou sem medo, logo no primeiro ano na candidatura ao cargo, e desde então a jornada tem sido contínua, assumindo as funções de delegado há já 5 anos. “Fui fazendo questão de prosseguir o trabalho que fui fazendo e retribuir a confiança dos meus colegas”, refere. Quando lhe pedimos para definir as funções de delegado tenta não ser redutor, porque o cargo nunca o será e tenta não complicar demasiado. “É um mediador, no fundo, e às vezes essa é a tarefa mais complicada de assumir”, declara. Há tarefas inevitáveis e fulcrais a executar ao longo do ano como o preenchimento dos relatórios de discência no âmbito do Subsistema para a Garantia da Qualidade das Unidades Curriculares (QUC), ou a presença em reuniões de calendarização com as coordenações de curso e em reuniões de curso marcadas pontualmente, assim como a garantia ao longo dos semestres de que tudo está a correr bem dentro dos moldes previstos; mas há também um leque de outras coisas que podem ser feitas e que dependem apenas da pró-atividade de cada um. Pedro não se importa de despender várias horas do seu dia para fazer um relatório de delegado QUC pormenorizado, se sentir que está a contribuir para a melhoria efetiva do ensino no Técnico: “Fico extremamente feliz se no ano seguinte o meu colega delegado me disser que aquilo que eu sugeri foi seguido, que o docente concordou e implementou”. O “traquejo” que esta responsabilidade lhe deu é inegável, e Pedro sabe que isso lhe abrirá portas no futuro. “Claro que além do benefício coletivo, há um retorno pessoal”, explica o aluno de Engenharia Biológica. “Um aumento da capacidade de comunicação”, “a capacidade de gerir determinados assuntos e perspetivas”, “de não vacilar a qualquer opinião”, “a evolução do sentido ético”, “os métodos de gestão de tempo e de organização”, são algumas das mais-valias elencadas numa lista que facilmente conseguiria estender se lhe fosse pedido. “E acabamos por ter ferramentas diferentes enquanto alunos, porque percebemos quando algo não está dentro do padrão normal, e é uma defesa que nós temos porque estamos muito bem informados”, apressa-se a acrescentar.
A eleição dos novos delegados de curso decorre entre o dia 11 e 12 de outubro, estando já decorrer a fase de apresentação de candidaturas, acessível a qualquer interessado. A escolha é feita através de um processo de votação transparente no sistema fénix, a que se espera que os colegas de curso adiram massivamente. “O número de votos expressa a confiança que os colegas têm em nós e sem dúvida que quanto mais forem os votos, mais confiante se sente o delegado para assumir a responsabilidade”, declara Pedro Garvão. Depois de eleitos, seguem-se meses de aprendizagem e algum trabalho, mas tudo com o apoio da recém-criada Comissão de Acompanhamento dos Delegados. “Ao criar esta comissão tentamos criar um espaço de apoio ao delegado, para que sintam que têm outros alunos ao lado deles, com experiência e prontos a ajudar”, assinala Francisca. “Por outro lado, começamos também a responsabilizar os alunos que assumem o cargo, desenvolvendo um conjunto de atividades e dando um conjunto de ferramentas para que se destaquem e assumam este papel da melhor forma”, complementa Pedro. Para tal, o Conselho Pedagógico elaborou um Programa de Formação variado que irá estar ao dispor dos delegados e que se distribuirá ao longo do ano letivo.
Para auxiliar no processo de escolha e para o caso de este se revelar difícil, Francisca e Pedro deixam algumas dicas: “É importante escolher uma pessoa comunicativa, que tenha gosto e interesse em estar constantemente à procura do que é que pode melhorar, que saiba fazer propostas construtivas junto dos docentes”, destaca Pedro Garvão. “Se todos os delegados tiverem uma postura ativa e interessada acabamos por ter ferramentas ótimas para continuar a melhorar a qualidade pedagógica dos nossos cursos aqui no Técnico”, acrescenta de rapidamente Francisca. À medida que argumentam percebe-se facilmente que se revêm na descrição que apresentam e que durante os mandatos que lideraram tentaram corresponder às expetativas da responsabilidade que lhes foi delegada. “Os alunos têm que encarar isto como uma oportunidade de networking, como uma oportunidade de participar e de se envolverem na escola”, frisa Pedro. O comprometimento está-lhes no tom de voz, e são apenas dois exemplos por entre um corpo de delegados vasto e à distância de uma palavra.