No verão de 2018, Guilherme Farinha, Mário Gamas, João Januário e Gonçalo Abreu decidiram lançar a Alfredo AI, acabados de se graduar no Técnico, estavam à procura de uma casa para morar. Confrontados com a volatilidade que o mercado imobiliário apresentava na altura, questionavam-se frequentemente sobre se os vários apartamentos que encontravam e se aqueles que preenchiam os seus requisitos seriam uma compra justa. “Fizemos uma pesquisa e não existia uma única ferramenta que permitisse responder a esta pergunta. Dado o nosso background estatístico e tecnológico, o Alfredo começou como um algoritmo que construímos para solucionar esta questão”, recorda Gonçalo Abreu, CEO da startup que está a revolucionar o sector imobiliário português.
Depois de desenhado o produto, chegaria a altura de testá-lo junto de potenciais clientes, e a recetividade não podia ter sido melhor. “Ao mostrarmos o que tínhamos feito a profissionais do imobiliário percebemos que havia um mercado a explorar. Arranjamos o nosso primeiro cliente e o projeto arrancou a todo o gás”, relembra Gonçalo Abreu. Moral da história: em vez de comprar uma casa, o grupo de amigos montou uma startup que ajuda a comprar e vender as mesmas.
Com apenas um ano de vida, este projeto está a dar o fulgor tecnológico necessário no sector imobiliário, poupando tempo e dinheiro aos utilizadores, oferecendo-lhes uma análise idónea e transparente dos dados. “O mercado imobiliário necessita de inovação no tratamento, análise e exposição dos dados. As novas gerações são cada vez mais exigentes no acesso à informação, muito por causa das novas tecnologias”, explica Gonçalo Abreu. Para além de uma necessidade de mercado e da resolução de um problema, o grupo de alumni sentiu “a necessidade de criar uma startup que refletisse o modo como a universidade nos formou, isto é, um sítio que premeia a partilha, um ambiente de trabalho seguro onde as pessoas possam expor as suas ideias e conhecimentos”, frisa Gonçalo Abreu.
Através de machine learning e sistemas distribuídos, o Alfredo – o algoritmo por detrás da startup- traz estrutura ao mercado imobiliário, contradizendo a velha teoria de este sector e a tecnologia não combinam. A tecnologia foi totalmente desenvolvida pelos alumni do Técnico, e assenta em investigação interna e tecnologias open source.
“Em machine learning, o tema dos modelos black box models é amplamente discutido na Academia, como tal, no Alfredo existe um grande esforço de aproximação dos stakeholders, para entender exatamente o problema e incorporar na análise um conjunto de regras que permita respeitar aquilo que deve ser uma modelação ética”, explica Gonçalo Abreu. É esta capacidade de “nos aproximarmos das necessidades dos stakeholders do mercado imobiliário e desenvolver soluções tecnológicas no estado de arte”, que tem vindo a diferenciar o Alfredo no mercado. A pipeline de dados do Alfredo agrega tudo o que está disponível publicamente. Posteriormente, existe uma camada de inteligência que filtra ruído- resultante do facto dos dados agregados produzidos por pessoas estarem sempre sujeitos a erros de inserção. “Os nossos utilizadores têm acesso ao produto final não tendo que fazer este processo manualmente”, evidencia o CEO da startup. “Atualmente, devido às parcerias estabelecidas, também temos acesso a dados que não estão publicamente disponíveis. Estes apenas são usados para efeitos modelação, isto é, melhorar as nossas estimativas de valor dos imóveis”, adiciona ainda o alumnus.
Os números traduzem este sucesso, e há já cerca de 2000 agentes de mediação imobiliária a usar o Alfredo. Recentemente a startup fechou uma parceria com o Novo Banco. “Um dos nossos principais objetivos sempre foi trabalhar com o setor bancário dado a sua exposição ao mercado imobiliário através do crédito habitação”, destaca Gonçalo Abreu. “A parceria com o Novo Banco foi um voto de confiança nas análises que oferecemos”, acrescenta.
Apesar de estar para já focado neste sector, o Alfredo e as suas potencialidades podem beneficiar outras áreas, como frisa o CEO da startup: “A nossa tecnologia já está a ser usada no sector financeiro. Uma das componentes mais fortes do Alfredo é a maneira como o nosso pipeline limpa e extrai inteligência dos dados, que acabam por servir como forma de descrever comportamentos geográficos”.
O grupo de antigos alunos não tem dúvidas do papel do conhecimento que adquiriram no Técnico teve nesta solução com êxito, lembrando o valor da investigação produzida na escola. “O trabalho desenvolvido pelo Instituto Superior Técnico na área de Machine Learning é de relevo mundial. Encontra-se, um pouco por todo o lado, tecnologia de Machine Learning que usa algoritmos investigados e desenvolvidos na escola”, vinca o CEO da Alfredo AI. “Há empresas com uma relação científica próxima com o Técnico, nomeadamente, a Unbabel. Gostaríamos que também fosse esse o caso do Alfredo”, refere, de seguida, o alumnus, sublinhando novamente que “nada disto seria possível sem a formação recebida no Técnico e o apoio que nos continua a dar”.
A equipa de alumni tem várias iniciativas em curso que prometem alavancar ainda mais o sucesso da startup. “Queremos aproximar-nos das instituições nacionais com o intuito de melhorar a informação disponível sobre mercado imobiliário; levantar a nossa primeira ronda de investimento, acabando a fase de bootstrap; expandir para outros países; e ainda produzir investigação científica”, adianta Gonçalo Abreu. E já que falamos de futuro, o CEO da Alfredo AI adianta os planos para o mesmo: “Ambicionamos ser a startup de inteligência artificial que torna o acesso e tratamento de dados do mercado imobiliário mundial uma realidade. Com raízes no Técnico”. Avaliando o sucesso alcançado em apenas um ano de atividade, não será com certeza sonhar alto demais.