Até conseguir derrotar o malévolo dragão, o grande inimigo do The Elder Scrolls 5: Skyrim, considerado pela comunidade de gamers como um dos melhores jogos dos últimos tempos, é preciso passar por muitas etapas e personagens. O dono da loja onde podemos comprar e vender as armas, o velho agricultor que descansa em frente a um moinho ou a criança que brinca freneticamente à nossa passagem tornaram-se mais desafiantes a partir do momento em que Manuel Guimarães, aluno do Técnico, transformou o reportório das mesmas em algo muito mais realista e dinâmico. “Ao experimentar vários jogos, cada vez com melhores gráficos e histórias, fui sendo surpreendido pela muito básica ou nenhuma inteligência que apresentavam as personagens com quem o jogador era suposto interagir”, explica o aluno.
Aceitando o desafio do seu orientador Pedro A. Santos, professor do Departamento de Matemática do IST e investigador no Grupo de Agentes Inteligentes e Personagens Sintéticas (GAIPS) do INESC-ID, Manuel Guimarães desenvolveu um mod (uma modificação ao jogo original) que adiciona comportamento social às personagens, recorrendo à inteligência artificial e baseando-se numa arquitetura de interação social chamada “Comme il Faut”. Hoje em dia, as personagens de Skyrim executam até dez ações sociais diferentes para alcançar os seus objetivos e podem ir desde a sedução até à troca de insultos. Quando combinadas estas ações “geram um número imprevisível de situações que apesar de diferentes são consistentes com o mundo e as relações entre as suas personagens”, afirma ainda o autor do mod.
Para o aluno do Técnico “esta vertente social é algo que os jogadores sempre quiseram. Ninguém quer um jogo onde as personagens se limitam a despejar história e são quase escravos do enredo”. A independência e esta pitada de realismo que Manuel Guimarães “ensinou” as personagens a ter, trouxe uma nova dinâmica ao jogo e parece estar a cativar a comunidade de jogos, obtendo já mais de 15 mil jogadores diferentes e uma pontuação de 5 estrelas, com 95 % de reviews positivas por parte da comunidade de modders e jogadores. Para além do sucesso junto da comunidade, este trabalho também ganhou a atenção dos media, em websites como a Eurogamer, a Kotaku e a Rolling Stone. Já foram publicados mais de 30 artigos sobre este trabalho em mais de 12 países diferentes, como o Brasil, Alemanha, Rússia, USA, Reino Unido, entre outros.
Esta investigação pretende ir muito para além do sucesso do novo mod, sendo o grande objetivo de Manuel Guimarães, do professor Pedro A. Santos e de Arnav Jhala, do Departamento de Ciência Computacional da Universidade Estatal da Carolina do Norte, e parceiro nesta investigação, mostrar às “empresas de desenvolvimento de videojogos que se utilizarem o conhecimento obtido pela comunidade académica, neste caso de Inteligência Artificial, é facilmente possível tornar os seus jogos mais credíveis, interativos e como consequência, divertidos”, destaca Manuel Guimarães. Prova de que este é um projeto a prosseguir é o artigo que os três investigadores publicaram recentemente para a comunidade científica e que vai ser apresentado na IEEE Conference on Computational Intelligence and Games (CIG),que decorre entre 22 e 25 de agosto, em Nova Iorque.
