David Russo, alumnus de Engenharia Química e cofundador da CyberS3c, é dono de um percurso invulgar, repleto de audácia. O seu trajeto académico tornava difícil adivinhar que seria hoje em dia um dos “soldados” que luta por tornar o ciberespaço nacional mais seguro. Já a paixão que sempre nutriu pelo mundo da Informática permitia desconfiar que, mais cedo ou mais tarde, o seu caminho profissional passaria por esta área. Ainda enquanto aluno do Técnico, David Russo percebeu que existia uma grande lacuna no mercado que poderia ajudar resolver, “juntando a indústria química com a cibersegurança”. Hoje em dia, através da CyberS3c, dos serviços e formações que a empresa fornece, contribui ativamente para a segurança informática nacional.
Desde cedo que David Russo sempre sentiu uma especial curiosidade em perceber como tudo funcionava à sua volta. A tecnologia está presente nas primeiras memórias que tem: “lembro-me de ser criança, e de ver o meu pai a trabalhar numa máquina com o Windows 3.1, algo que me fascinava, e questionava-me como é que aquela máquina funcionaria”. Pelo que lhe contam a curiosidade era tanta que foram poucos os computadores que resistiram às suas “experiências”.
Com a ambição de descoberta chegaria a vontade de adquirir conhecimento, de ir mais longe. “Ninguém ficava muito feliz quando alguma máquina deixava de funcionar. Então, tinha de aprender a corrigir. Estas correções levavam-me a ter muitas vezes que desmontar, trocar peças, a escutar, fundamentalmente a escutar para compreender de onde vinha o problema, e, também, a ouvir os outros a ensinarem-me”, conta o alumnus.
A curiosidade sobre os sistemas tornar-se-ia ainda mais evidente quando, com apenas 8 anos, David Russo descobriu o livro “MS-DOS”, que veio juntamente com um computador. “Comecei a alugar livros na biblioteca, os meus pais notaram o interesse e compravam algumas revistas da especialidade. Recordo-me que outro ponto fundamental foi que numa dessas revistas vinha uma distribuição Linux”, recorda.
Uns anos depois, ao entrar no Ensino Superior este fascínio não seria esquecido, e a escolha era “mais que óbvia”. “Sabia que a área de Engenharia era imprescindível, pelo meu gosto em compreender como tudo funciona, o Técnico tornou-se a ambição, pelo seu grande nome e reconhecimento de excelência”, refere o alumnus. Na escolha do curso, porém, não optaria pelo mais óbvio: “quis perceber como o mundo funciona e aprender algo diferente”, lembra. As boas notas a Química no secundário pesariam na decisão final e a sua escolha acabaria por recair em Engenharia Química.
Graças a esta decisão, que para muitos pode parecer estranha, David Russo é hoje portador de uma diferenciada capacidade de compreensão do mundo e de uma carreira singular. “Apesar de serem dois mundos de conhecimento quase opostos, percebi como é que se complementam de uma forma única”, afirma. Mas quanto a isso já lá vamos, por agora continuemos pelo Técnico e pelas bases que daqui levou.
O método e a disciplina que levou na bagagem e a que recorre diariamente
Quando entrou no Técnico, David Russo não sabia o que o esperava, e se isso o poderia ter assustado, teve o efeito contrário, dando-lhe “mais entusiasmo para continuar, para explorar o desconhecido”. “O curso começou a tornar-se muito mais interessante quando comecei a ter algumas cadeiras mais viradas para a indústria. Recordo-me que um dos pontos fundamentais para perceber qual a área que queria especializar-me, foi na cadeira de controlo e nas cadeiras em que eram abordados os riscos na indústria”, partilha o antigo aluno.
Ao longo do curso teve sempre como objetivo “compreender as várias temáticas que eram ensinadas”. Pelo caminho foi construindo amizades e as suas melhores recordações estão mesmo relacionadas com isso e são, na verdade, mais do que memórias, visto que são amigos que mantém até hoje. Como frisa o alumnus, “a exigência, sempre foi palavra de ordem no Técnico”, e “as várias dificuldades só foram possíveis de ser ultrapassadas com muitas noites de estudo e com as amizades que fiz”. Com a dificuldade veio o método e a disciplina, competências que o caraterizam hoje enquanto profissional.
O percurso de David Russo enquanto aluno e como profissional confundem-se porque se sobrepõem. Ainda enquanto estudante, deu apoio a algumas cadeiras enquanto docente convidado da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e já na altura era formador da área de cibersegurança e CTO da CyberS3c, a empresa que cofundou com Sérgio Silva. Foi também cedo que percebeu existir uma lacuna na Indústria e que poderia facilmente relacionar as suas competências em Engenharia Química com Cibersegurança.
CyberS3c: uma empresa que procura tornar o ciberespaço nacional mais seguro
David Russo conheceu Sérgio Silva, cofundador da CyberS3c, numa conferência, a ISELTech, e passado alguns meses foi a uma formação daquele que é o seu atual sócio. “A partir daí mantivemos contacto até que um dia, nos reunimos e criámos um conjunto de ideias, num café, sobre o que poderia ser a CyberS3c que conhecemos hoje e, desde esse dia, trabalhamos para criar a empresa que existe hoje”, explica o antigo aluno.
Tendo como principal missão dotar as organizações nacionais de capacidade de resiliência a CiberAtaques, para que desta forma possa existir uma CiberSoberania efetiva, a startup fornece serviços, formações de awareness e formações especializadas. “Temos várias iniciativas no ponto de vista de awareness, de modo a conseguirmos capacitar com alguns conceitos fundamentais os profissionais portugueses”, explica David Russo.
Indo ao encontro desta missão, a CyberS3c tem criado vários protocolos, o último dos quais com a PSP. “Este tipo de protocolos permite-nos ajudar numa missão tão crucial nos dias de hoje, o combate ao cibercrime”, realça o CTO da empresa. “Neste momento, a CyberS3c é a única empresa a nível nacional a colaborar com a GNR no Curso de Segurança e Proteção de Infraestruturas, o que revela a importância da criação da ponte entre as duas especialidades na proteção de Infraestruturas Críticas da área”, acrescenta David Russo.
A realização que encontra naquilo que faz torna-se evidente quando o questionamos sobre o que é mais recompensador naquilo que faz. “Considero tudo o que faço gratificante”, responde com um sorriso e muita convicção. “Desde o primeiro dia que iniciei esta jornada, posso afirmar que não existe um único dia em que não tenha um desafio, seja no âmbito profissional, ou no pessoal, nunca parei de aprender e isso permite-me chegar a diversas soluções, para problemas que vão surgindo. Também só se torna possível devido a trabalhar numa equipa fantástica desde o início”, vinca o antigo aluno.
David Russo lembra que “existe uma grande falta de profissionais de cibersegurança em Portugal”, e que os alunos do Técnico “por deterem algumas mais-valias, como a resiliência e a capacidade de ultrapassar obstáculos criando soluções criativas e funcionais” são recursos preciosos e muito desejados neste mundo. “Estas mais-valias são fundamentais num operacional de cibersegurança”, sublinha o alumnus.
Aos que já têm este interesse desperto, o antigo aluno deixa algumas dicas: “o melhor conselho que posso dar, é para continuarem a estudar, pois a cibersegurança é uma área que está constantemente em mudança, tudo é dinâmico e não é facilmente resolvido, apenas, com procedimentos bem definidos”. “É importante continuarem a estudar e, acima de tudo, sigam os vossos sonhos, se é cibersegurança que desejam seguir o caminho está à vossa espera”, colmata.