“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”, a genial frase é de Peter Drucker e podia muito bem ter sido proferida para definir a Academia Europeia de Inovação (EIA 2018, na sigla inglesa), uma vez que retrata na perfeição a sua essência. Foi exatamente do futuro que se falou e para o qual se trabalhou nas últimas três semanas no Centro de Congressos do Estoril, onde mais de 700 pessoas entre empreendedores, investidores e mentores de todo o mundo marcaram presença tendo como objetivo central promover a criação de novas startups e ideias de negócio. Por entre os cerca de 500 participantes de todo o mundo há 20 alunos do Técnico desejosos de transformar ideias em potenciais Unicórnios e de fazer parte desta ponte para o futuro que é o empreendedorismo.
Neste “campo de férias” o trabalho faz parte da agenda diária, e a criatividade e o empenho funcionam como elixir de divertimento. Os participantes formam equipas de cinco elementos, e contam com o apoio de conceituados mentores. O objetivo geral é chegar ao evento final, o “Grand Pitching”, a 3 de agosto- dia em que subirão ao palco as 10 melhores ideias de negócio, para disputar o dinheiro de um grupo de investidores de risco, que contam com membros dos grandes patrocinadores do evento, o Banco Santander e a Daimler AG. No total, e depois de algumas desistências, são 77 equipas que partem de ideias, muitas vezes até sonhos, e tentam transformá-las em soluções tecnológicas que resolvam problemas relacionados com o ambiente, a educação, o emprego, saúde, etc. Ideias impossíveis não existem até serem testadas, e é isso mesmo que se faz desde o primeiro dia na EIA: verifica-se constantemente o possível sucesso, averiguam-se riscos, validam-se estratégias, mas sobretudo aprende-se constantemente.
Victor Negirneac, aluno de Engenharia Física Tecnológica, faz todas as manhãs duas horas de viagem desde a residência de estudantes do Técnico até ao Estoril, mas “valem totalmente a pena”. É um dos 20 alunos do Técnico na Academia, usufruindo da bolsa oferecida pelo Banco Santander e sem “a qual a participação não estaria ao meu alcance”. Decidiu participar porque viu na EIA “uma oportunidade a não perder para crescer a nível pessoal e profissional”. Assim que soube que tinha conseguido entrar surgiu-lhe uma ideia de projeto que descartou por considerar demasiado ambiciosa, mas acabou por se juntar a outra equipa para dar vida a um projeto não menos ousado e complexo: um marketplace que funciona como uma interface entre designers de produtos, clientes e fabricantes. “Nesta plataforma os designers não têm que se preocupar com a fabricação nem a gestão de stocks porque nós facilitamos esses processos, e os clientes obtêm produtos únicos e com garantia de qualidade”, esclarece o aluno do Técnico. Da equipa inicial de Victor Negirneac, apenas 4 elementos se mantêm. “Não somos os únicos, muitas outras equipas se viram quebrar”, frisa o aluno do Técnico. “Até agora estamos com um bom ritmo e confiantes de que conseguimos arrasar no pitch”, afirma o aluno de Física Tecnológica, acrescentando que “independentemente de ganharmos ou não, ganha-se sempre com o que se aprende; e o que aprender e com quem aprender não tem faltado na EIA”.
Há alunos do Técnico com experiências diferentes da de Victor Negirneac no que toca à formação de equipas e na prossecução de uma ideia própria. É o caso de Henrique Carvalho, aluno de Engenharia Biomédica, que está na EIA com a equipa da JUNITEC com a qual criou o Clynx – um projeto que usa a gamificação para tornar os exercícios de reabilitação física mais divertidos, disponibilizando os resultados numa plataforma acessível aos profissionais de saúde. A equipa composta por quatro estudantes do Técnico – e a que, entretanto, já se juntou uma aluna da Universidade de Berkeley, Califórnia – percebeu rapidamente que a EIA poderia ser um caminho enriquecedor para “desenvolver toda a componente de negócio do projeto em que já temos estado a trabalhar juntos há algum tempo”, explica. “É vibrante a energia que se sente no Centro de Congressos do Estoril nestes dias, com um espírito empreendedor elevadíssimo”, descreve o aluno de Engenharia Biomédica. Também o contacto com outras ideias, em alguns casos extremamente “geniais” acaba por ser entusiasmante, confessa Henrique Carvalho: “há imensas ideias incríveis e o nível de inteligência e competitividade é altíssimo em todas as equipas”.
Também Afonso Gonçalves, Carolina Poupinha e Rita Prates têm em comum a ligação ao Técnico, e mesmo não se conhecendo acabaram por ficar na mesma equipa na EIA. Agradou-lhes a essência da inFill- um projeto que pretende acabar com o uso de copos descartáveis de bebidas em eventos, aliando um copo reutilizável a uma aplicação para o telemóvel para efetuar pagamentos através de um QR code que estará sempre associado ao copo. “Pareceu-me uma ideia bastante cativante visto tratar-se de um problema com que me deparo muitas vezes quando vou a um festival, por exemplo”, partilha Carolina Poupinha. “Esta é a ideia base, a partir daqui há muito espaço para inovar, já pensámos em inúmeras outras funcionalidades que podem ser acrescentadas à aplicação”, afirma de seguida a aluna do Técnico.
Apesar de reconhecer o valor de muitas das ideias que estão a ser desenvolvidas, Rita Prates acredita que a inFill tem grandes hipótese de ganhar: “temos esperanças que tal aconteça, pelo menos temos estado a trabalhar nesse sentido”. “Para além disso, todos os mentores com os quais temos trabalhado têm nos dado feedback bastante positivo quanto à ideia, à equipa e ao trabalho que estamos a desenvolver”, sustenta de seguida. Uma convicção de vitória partilhada pela colega Carolina que não desvalorizando a importância de vencer vinca que já ganhou pelas competências que desenvolveu sobretudo em termos comunicacionais: “nunca pensei que viesse a aprender tanto num espaço de 3 semanas”. “Estou mesmo fascinada com o programa e o melhor é poder contribuir de certa forma com aquilo que sei para a equipa e para levar em frente uma ideia que acho genuinamente boa”, adiciona de seguida Carolina Poupinha.
Além do trabalho em equipa que ocupa grande parte do tempo, há outras atividades reservadas aos jovens empreendedores. Pela manhã, o grupo tem duas horas de palestras com conceituados nomes do empreendedorismo e não só, num palco onde não se debitam apenas conhecimentos, contam-se histórias e partilham-se experiências. O objetivo é sempre fornecer aos participantes o máximo de ferramentas possíveis para desenvolverem as suas ideias. Para as tardes estão reservados os momentos de reunião com os mentores e o desenvolvimento do trabalho. “Temos sido envolvidos em todas as fases de desenvolvimento de um startup: desde a parte financeira, marketing, clientes, protótipo de produto, patentes, etc. ”, explica Rita Prates.
Cada uma das três semanas é dedicada a etapas diferentes do desenvolvimento do projeto. A segunda semana, por exemplo, teve um dia dedicado a Startup Expo Day, em que as equipas foram desafiadas a expor as suas ideias ao público, observando e registando reações importantes para aprimorar os projetos. “Alguns investidores aparecem neste evento com o objetivo de conhecer as ideias e analisar quais as mais interessantes”, conta Tiago Antunes, aluno de Engenharia Informática e de Computadores e outro dos representantes da Escola no evento. Também ele fascinado com a experiência destaca, por entre as várias mais valias da participação na EIA, o contacto com pessoas de todo o mundo: “é uma experiência excelente, permitindo-nos aprender imenso sobre todos os tópicos”. “O contacto com empreendedores é também ótimo, pois permite-nos estar em contacto com estrelas do mercado empreendedor, e perceber como estes se tornaram bem-sucedidos” denota o aluno do Técnico.
Embora por vezes divirjam os aspetos que cada participante enfatiza, o adjetivo “excelente” tende a repetir-se quando se trata de avaliar de forma geral a experiência, recomendando-a a todos os que dela possam usufruir. E como se todo este impacto na vida de cada um dos concorrentes não fosse suficiente, o resultado de todo este trabalho irá muito provavelmente dar que falar no nosso futuro.