Há alguns anos que a equipa do projeto Rocket Experiment Division (RED) do Núcleo de Estudantes de Engenharia Aeroespacial (AéroTEC) ambicionava participar numa competição internacional de rockets. Em 2020, a oportunidade chegou através da Agência Espacial Portuguesa- Portugal Space que os convidou a fazer parte do European Rocketry Challenge (EuRoc), o primeiro concurso europeu de lançamento de foguetões desenhados e montados por estudantes universitários. Depois da demonstração em forma de um teste estático de propulsão na edição do ano passado, a equipa está preparada para se estrear este ano na competição, sendo mesmo a única equipa portuguesa a participar.
O EuRoC tem como objetivo desafiar estudantes de licenciatura e mestrado a lançarem os seus foguetes de propulsão sólida, líquida ou híbrida, até altitudes de três mil ou nove mil metros. A competição, que se realiza em outubro, em Ponte de Sor e Constância vai contar com a presença de 20 equipas, provenientes de 13 países, tais como: Reino Unido, Suíça, Polónia, França, Grécia, Alemanha, Dinamarca, entre outros.
“Para a edição de 2021 sentimos que já poderíamos entrar mesmo na competição, então formalizamos a nossa candidatura e fomos aceites como participantes”, recorda Gonçalo Maia, coordenador do RED. Será uma estreia em grande, com o peso e o orgulho naturais de serem a primeira equipa portuguesa a participar numa competição universitária de lançamento de ‘rockets’ na Europa. “Sermos pioneiros em Portugal nesta área é um grande motivo de orgulho para a equipa”, afirma o coordenador da equipa. “Começamos a trabalhar no projeto numa altura em que o Espaço começava a ser cada vez mais falado em Portugal e conseguirmos ao fim de 4 anos de crescimento competir no EuRoC é um grande objetivo concretizado”, destaca, em seguida, o aluno do Técnico.
Blimunda é o nome do rocket com que equipa do Técnico se prepara para brilhar nos céus de Ponte de Sor. É fácil perceber onde foi encontrada a inspiração para o batizar, não fosse Blimunda a personagem central da obra “Memorial do Convento” e considerada por muitos como a mais fascinante figura feminina do universo de Saramago. “A escolha do nome é feita através de sugestões dos membros do projeto que depois são submetidas a várias votações para a escolha final”, explica o coordenador do RED. O objetivo da equipa é manter a tradição de dar nomes femininos aos rockets, iniciada com a missão Aurora, homenageando, em simultâneo, a literatura portuguesa. O nome da personagem “que via para lá do olhar humano” encaixa na perfeição naquilo que a equipa quer que este rocket represente: inovação, olhar visionário e convicção.
A participação numa competição com esta grandiosidade exige “uma extensa pesquisa sobre todos os sistemas que fazem parte do rocket de modo a que cumpram os requisitos definidos pela organização”, como sublinha Gonçalo Maia. Apesar da experiência que detinham com os rockets anteriores e que é crucial nesta etapa de preparação, a equipa está focada para que nenhum detalhe fique ao acaso, de forma a cumprir “todos os requisitos e conseguir a melhor performance dentro das regras”, como vinca o aluno do Técnico.
Em relação à construção do rocket em si, o coordenador da equipa assume a felicidade da equipa por sentir uma aproximação da indústria em Portugal, “de forma a termos componentes de qualidade e a aprendermos e melhorarmos o nosso produto”. Por isso mesmo, é incontornável o agradecimento aos patrocinadores que tornaram “possível a construção do Blimunda, quer com o fabrico de peças, quer no processo de design, onde através da sua experiência e conhecimento dão uma ajuda valiosa aquando da escolha de materiais, componentes ou formatos específicos para as nossas peças”, refere Gonçalo Maia.
Uma equipa multidisciplinar e com muita vontade de aprender
O projeto RED conta com 45 membros, divididos pelas equipas de Controlo, Eletrónica, Gestão e Marketing, Estruturas, Recuperação e Propulsão. A diversidade de áreas que estes alunos estudam – Engenharia Aeroespacial, Eletrotécnica e Computadores, Mecânica, Física e Tecnológica e Materiais- contribui para uma visão abrangente e para a construção de “rockets cada vez mais completos”, como enfatiza o líder do projeto.
Mas afinal que sonhos leva a equipa na bagagem para Ponte de Sor? A resposta vem envolta em pragmatismo e humildade: “Tendo em conta que é a primeira competição em que o RED vai participar não temos expectativas. Vamos com o objetivo de aprender com equipas mais experientes e melhorar o projeto para futuras competições”, declara Gonçalo Maia. Ainda assim, a vontade de trazer um prémio para o Técnico não deixa de estar presente, arrumada ao lado do orgulho de levar a bandeira da escola até à competição. “Claro que se conseguirmos trazer algum prémio para o Técnico seria um motivo de orgulho enorme para toda a comunidade académica, não só para a equipa”, vinca o coordenador do projeto.
No futuro, e sendo que já existem mais equipas em Portugal que partilham este gosto pelo Espaço, o coordenador do RED espera que “outras equipas portuguesas se possam juntar a nós a participar no EuRoC”. Para já, espera-se que o representante luso na competição voe bem alto, cumprindo-se o sonho desta talentosa equipa, porque como Saramago escreveu “são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita”.