Que oportunidades esperam um aluno de doutoramento após a conclusão dos seus estudos? Esta e outras questões que surgem à medida que se aproxima a entrega da tese – ou até mesmo algum tempo antes disso – encontraram respostas em mais uma edição das Alumni Talks – PhD Edition, na passada quarta-feira, 16 de junho. Numa edição inédita do evento, organizada pela TT@Técnico, em colaboração com o Técnico PhD Student Club e com o apoio do Santander Universidades, os alunos de doutoramento da Escola tiveram oportunidade de conhecer 3 alumni que frequentaram um programa doutoral no Técnico e perceber através dos seus percursos as oportunidades e hipóteses que têm ao seu alcance no futuro.
O formato das Alumni Talks é vencedor, e apesar de as circunstâncias pandémicas continuarem a cingir a sua realização ao digital, o evento mantém a capacidade de atrair participantes, cumprindo o objetivo de os inspirar através das experiências e determinação dos convidados. Nesta edição especial, a partilha foi protagonizada pela antiga aluna do programa doutoral em Física, Lígia Amorim (Postdoctoral Scholar at Berkeley Lab), pelo alumnus do doutoramento em Engenharia e Gestão, Francisco Silva Pinto (Researcher & Consultant in Engineering and Management) e pelo antigo aluno do programa doutoral em Segurança da Informação – por concluir, Renato Matias da Silva (Head of Advanced Analytics at Banco Santander).
Ao longo de quase duas horas, e num ambiente bastante informal, os antigos alunos partilharam o seu percurso, algumas das vivências do doutoramento e as respetivas perspetivas sobre a valorização dos doutorados por parte do ecossistema empresarial. Não se ficaram pelas respostas simples, fundamentaram-nas com exemplos e experiências pessoais e transmitiram vários conselhos. Apesar de ligados a áreas distintas, os alumni foram unânimes no destaque das valências que um doutorado detém, e que representam uma mais-valia quer para a academia, quer para as empresas.
A importância de ter experiências na indústria- nomeadamente através de estágios- ao longo do doutoramento, como e quando encetar a aproximação ao mercado, as diferenças entre trabalhar no mundo empresarial ou na academia, que competências são essenciais para fazer investigação em equipas altamente especializadas, e qual o patamar salarial de um doutorado na entrada no mercado de trabalho foram alguns dos temas abordados ao longo da sessão.
Três percursos díspares que ajudaram a esclarecer as muitas dúvidas dos participantes do evento
“Na verdade, sou um outlier neste painel, porque comecei um doutoramento em segurança da informação, mas não o terminei. Por isso, não tenho o grau de doutoramento”, começava por referir, com um sorriso, Renato Matias da Silva. A verdade é que a sua experiência no mercado, nomeadamente enquanto líder de equipa, seria muito importante para o desenvolvimento da conversa, como se denotou logo na primeira, e inevitável, pergunta acerca do reconhecimento e valorização que as empresas, a nível nacional, mas também internacional, conferem a um doutoramento.
Partindo do exemplo de um dos elementos da sua equipa, Renato Matias da Silva sublinhava que no caso do Santander esta valorização existe e que o tempo e a experiência de um doutoramento e de um pós-doutoramento são tidos em conta e refletem-se nas posições oferecidas dentro do Banco. “Hoje em dia, penso que a abertura das organizações para pessoas com doutoramento é muito mais evidente do que há uns anos. Quando comecei o meu doutoramento sentia que não havia quase nenhuma ligação entre o mundo académico e o mundo empresarial”, realçou, destacando o esforço mútuo que tem existido para fomentar esta aproximação.
Lígia Amorim traria à conversa a perspetiva de uma carreira mais ligada à investigação, revelando os desafios de experiência além-fronteiras e da adaptação a uma cultura ligeiramente diferente. A antiga aluna aconselhou os alunos que tiverem interesse em seguir uma carreira fora da universidade a “tentarem encontrar a ligação entre o que investigam e o que é interessante para as empresas”, realçando que “há muitas competências que se adquirem durante um doutoramento que são valiosas para as empresas”. Sobre as diferenças entre o trabalho que fazia no decorrer do doutoramento e o que hoje realiza, a alumna acredita que a principal mudança foi de facto na sua autoconfiança e determinação: “a principal diferença é que agora confio um pouco mais em mim mesma”. “Para mim, uma das vantagens de ficar na academia é que se tem sempre de aprender coisas novas, construir coisas novas”, declarava ainda, denunciando a paixão que encontra naquilo que faz.
Através do próprio percurso que trilhou, Francisco Silva Pinto demonstrou que o trabalho de um doutorado fala por si só, frisando que quando as empresas têm essa experiência de incorporar na sua estrutura um destes profissionais percebem o seu valor. “Um aluno do doutoramento trabalha sempre no mundo e penso que isso é a base”, sublinhava. “Deixem as pessoas compreenderem que têm um doutoramento, pela forma como fazem e falam sobre as coisas, como interagem”, aconselhava, em seguida. Mais à frente e em resposta à pergunta sobre a relevância de estar em contacto com a indústria ao longo do doutoramento, o antigo aluno vincou a importância destas experiências que permitem “fazer uma ponte” entre o mundo empresarial e a universidade. “Para mim, foi muito importante porque me permitiu de alguma forma compreender as diferenças entre o lado das empresas, e o lado académico, percebendo que existe uma lacuna significativa entre eles, e se vocês caminharem dos dois lados podem fazer uma ponte”, disse.
Entre as muitas recomendações que de forma generosa deixaram, uma das mais repetidas estava relacionada exatamente com esta preponderância dos alunos estarem permanentemente atentos ao mercado, criando relações que lhes podem ser importantes no futuro, e percecionando ainda o tipo de ofertas que existem para o seu perfil profissional.
Desafiados a olhar para trás, e a analisarem se mudariam algo na respetiva jornada de doutoramento de modo de forma a conseguirem uma melhor interação com o mercado de trabalho, os alumni desmistificaram dificuldades, lembrando que a abertura das empresas varia muito da área académica de formação.
O vice-presidente do Técnico para as Ligações Empresariais e Operações, professor Pedro Amaral, encerrou o evento evidenciando a relevância desta iniciativa na estratégia do Técnico que pretende dar um maior destaque à empregabilidade dos alunos de doutoramento. O docente lembrou que quando falamos destes alunos estamos a falar em profissionais com um leque de competências diferenciador que ao longo dos últimos anos estiveram em contacto “com um nível de conhecimentos muito, muito elevado” que é importante passar para as empresas e para a economia.