O Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo, que é também uma homenagem à engenheira que lhe dá o nome, é uma forma ímpar do Técnico distinguir duas gerações de alunas com percursos notáveis. Através deste galardão, a Escola celebra o seu talento feminino, promovendo o sucesso e a determinação das premiadas de forma a inspirar muitas jovens que sonham com um futuro na Engenharia, Ciência e Tecnologia. Nesta 4.ª edição, o júri do prémio reconheceu as engenheiras Paula Panarra e Catarina Belém. Depois de várias vezes adiada, devido aos constrangimentos impostos pela pandemia, a cerimónia de entrega do prémio decorreu esta quarta-feira, 21 de abril, em formato híbrido.
O presidente do Técnico, professor Rogério Colaço abriria a cerimónia lembrando o caminho percorrido até aos dias de hoje, feito de muito talento feminino e de uma clara evolução. “30% dos nossos estudantes são mulheres, 30% dos nossos professores são mulheres, 60% dos nossos funcionários técnicos e administrativos são mulheres, das quais 50% são dirigentes. É por isso que digo que o desígnio já foi atingido e as metas em breve sê-lo-ão”, vincou. São também estes números que alimentam a sua forte convicção “de que o talento feminino nas áreas de engenharia está a ser aproveitado pelo Técnico”.
Ainda assim, o professor Rogério Colaço sabe que ainda há caminho a fazer e por isso vincou que “não deixar que o talento se perca por razões de género” é uma preocupação que “o Técnico enquanto instituição de ensino superior tem e terá sempre presente”. As últimas palavras do presidente do Técnico foram dirigidas às galardoadas que, como declarou, personificam esta “excelência da Engenharia no feminino que atingimos” mostrando “que o caminho que tem sido feito tem sido na direção certa”.
Coube à vice-presidente do Técnico para a Gestão Administrativa e membro do júri do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo, professora Helena Geirinhas, proferir uma nota introdutória sobre este galardão, uma das muitas “iniciativas para promover a estratégia do Instituto Superior Técnico para a igualdade de género e para combater a visão polarizada da Engenharia”. Recordando que na génese deste prémio está a vontade de “homenagear Maria de Lourdes Pintasilgo”, “mas também de dar espaço e palco a exemplos no feminino em particular da nossa Escola”, a professora Helena Geirinhas evidenciou que trazer talento feminino para estas áreas “é um trabalho que tem que ser feito por todos e onde cabem, em pé de igualdade, homens e mulheres”.
Após anunciar que a empresa Filstone se associará às próximas edições do prémio, a vice-presidente concluiria frisando que “o Técnico assumiu em 2016 um compromisso pela igualdade entre homens e mulheres porque entende que a diversidade engrandece a sua missão e solidifica a sua identidade. A riqueza da engenharia é também a sua diversidade”.
Catarina Belém: “No Técnico encontrei o gosto pela aquisição e partilha de conhecimentos”
Na sua intervenção, a Young Alumna premiada, engenheira Catarina Belém, não esqueceu nada, nem ninguém, que tenha impactado o seu percurso. Começou pelos apoios financeiros que lhe permitiram usufruir de “um ensino público de alta qualidade em Portugal”, lhe possibilitaram a continuação dos estudos e também a descoberta “em condições excecionais” do “gosto pela investigação e pela docência”; não esqueceu o suporte dos amigos que fez na Escola e da família; e destacou ainda, as oportunidades de aprendizagem e de fazer a diferença que encontrou no Núcleo de Apoio ao Estudante (NAPE) e no Núcleo Estudantil de Engenharia Informática (NEIIST)
Na lista de agradecimentos e de pessoas inspiradoras que encontrou no seu percurso, coube um especial destaque ao seu orientador da tese de mestrado, professor António Menezes de Leitão, que lhe proporcionou a “oportunidade de integrar um grupo de investigação de alta qualidade”, onde as “estatísticas são contrariadas e há uma maior prevalência de mulheres”. “No Técnico encontrei o gosto pela aquisição e partilha de conhecimentos, no professor António e no grupo encontrei a inspiração e a paixão pela investigação, e na Feedzai [onde trabalha atualmente] aprendi a ultrapassar os meus limites e a pesar o impacto da investigação na prática”, declarou.
Além de ser fruto “de trabalho árduo, e em equipa” e dos importantes “apoios financeiros”, para Catarina Belém este prémio resulta também de “alguma sorte”. “Tive sorte nas oportunidades que encontrei e tive sorte porque fui capaz de aprender num ambiente igual, onde existem instituições que lutam diariamente para atingir e para combater as desigualdades sociais”, denotou. Seis anos depois de ingressar no Instituto Superior Técnico em Engenharia Informática, a alumna tem a certeza que esta foi a opção certa para o seu futuro e espera “continuar a investir por muitos mais anos nesta área”. Para já, segue-se um doutoramento já em setembro na Universidade da Califórnia, uma etapa que encara com entusiasmo e confiança devido a este percurso no Técnico.
Paula Panarra: “Acreditem, a oportunidade existe e vale a pena”.
Assumindo a honra e o orgulho com que recebe esta distinção, a engenheira Paula Panarra começaria por agradecer não apenas este “prémio a nível pessoal”, mas também de agradecer a existência do mesmo, “e o facto de o Técnico fazer uma série de Iniciativas que permitem de facto materializar aquilo que se procura no correto entendimento da diversidade, da inclusão e da igualdade de oportunidades”. Realçando o papel da Escola no seu percurso, afirmou: “há uns anos saí do Técnico para o mundo, mas sem dúvida que o mundo me foi aberto graças às competências que adquiri na minha passagem pelo Técnico”.
Apesar da “evolução do ponto de vista da representatividade das mulheres transversal em todos os setores” a diretora-geral da Microsoft Portugal salientou que “existe ainda um longo caminho a percorrer para que mais mulheres possam assumir cargos ainda hoje associados maioritariamente ao género masculino, em particular no setor da tecnologia, e em particular em posições de liderança”.
Recorrendo a alguns dados, a alumna evidenciava que num mundo cada vez mais digital “precisamos de todo o talento, masculino e feminino, na área da tecnologia, porque é aí que a empregabilidade vai existir nos próximos anos”. “A promoção de uma maior representatividade e captação de talento feminino para áreas como as Ciências e Tecnologia deve partir de um esforço conjunto entre três pilares que considero fundamentais neste sentido: a educação, as empresas, e a própria sociedade”, vincou.
Ao destacar o valor que a diversidade “seja a nível de género, etnia ou cultura” traz às organizações, Paula Panarra partilhava o orgulho de “liderar uma empresa como a Microsoft em que há muitos anos se tem vindo a percorrer esse caminho, utilizando diferentes recursos na nossa estratégia de diversidade e inclusão, seja com parcerias estratégicas ou nos nossos próprios objetivos, trabalhando para capacitar todo um ecossistema Global e fazendo-o nós próprios também”. Ao terminar, a alumna deixou umas palavras às atuais e futuras alunas da escola: “acreditem, a oportunidade existe e vale a pena”.
Mensagens da presidente da FCT e da Ministra da Coesão Territorial fecham com chave de ouro o evento
Ainda que de forma virtual, também a presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), professora Helena Pereira, participou na cerimónia através de um vídeo. Enaltecendo a iniciativa e felicitando as vencedoras, garantiu que “a diversidade é um elemento-chave para acompanhar os processos complexos do presente e certamente dos que se avizinham”. “Só as interligações entre disciplinas, de linguagens e conhecimentos, mas também de abordagens, de emoções e vivências nos permitirão uma evolução sustentada”, adicionou.
A presidente da FCT lembrou ainda as linhas gerais prosseguidas na instituição: “aumentar a Ciência e a privilegiar o conhecimento, premiar a competência e incentivar a formação avançada, num quadro de interação e corresponsabilização entre todos, não esquecendo a diversidade científica e também o equilíbrio de género”. “Os painéis de avaliação dos grandes concursos da FCT possuem a partir deste ano um número igual de mulheres e de homens”, partilhou.
A mensagem, também em vídeo, da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, fecharia o evento. A governante recordou o percurso pioneiro de Maria de Lourdes Pintasilgo que se destacou “por abrir portas, por dar o exemplo e sobretudo por alargar horizontes, por alargar as mentes, por mostrar que não havia cargos nem profissões para homens ou para mulheres, e sobretudo por mostrar às mulheres que é possível, o que quer que queiram é possível”. “Este prémio honra o seu legado, e por isso presta um serviço à coesão social e à coesão territorial”, defendeu Ana Abrunhosa.
Mais do que um prémio pelo trabalho que as duas vencedoras já alcançaram, a Ministra da Coesão Territorial considera que este é um “sinal de força para o que ainda vão alcançar”, “uma amostra de que são capazes ainda de fazer mais e que vão continuar a ser elas também pioneiras que inspiram tantas outras mulheres a fazerem aquilo que querem”. “Porque o mais importante é que, sejamos homens ou mulheres, possamos fazer as escolhas que nos fazem felizes e que a sociedade, a comunidade onde vivamos respeite essas escolhas, sejam elas quais forem”, complementou, salientando o “privilégio de participar nesta sessão, que de forma tão digna, honra o trabalho de duas mulheres, evocando mais uma vez uma grande mulher do nosso país”.