Uma equipa de investigadores do Instituto Superior Técnico, liderada por Paulo Peças e Marco Leite do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM), desenvolveram um protótipo de viseiras de proteção para os profissionais que estão na linha da frente na luta contra a Covid-19. Depois de conseguida a validação do protótipo, a equipa já arrancou com a impressão das mesmas e lança agora o desafio a quem detenha impressoras 3D para se juntar a este projeto que coloca a tecnologia ao serviço da medicina, no momento em que esta mais precisa.
A ideia de desenvolver este material partiu de uma lista de necessidades que têm sido identificadas pelos hospitais. “Estamos atentos a esta problemática da Covid-19, e queríamos ajudar de alguma forma. Começámos há uma semana a identificar componentes e peças que estavam a faltar e, com a colaboração da Faculdade de Medicina [da Universidade de Lisboa], concluímos que faltavam estas viseiras de proteção que tipicamente deviam ser feitas em fabrico aditivo”, explica o professor Paulo Peças. “Identificada a necessidade, começámos a desenhar a nossa viseira com algumas características específicas do Técnico, embora o modelo seja baseado num projeto que já existe”, adiciona o docente.
“O modelo de viseira do Técnico combina e recombina vários conceitos que existem neste momento na Internet, entre outros o modelo apresentado pela Prusa, um modelo de Espanha com uma impressão de uma pala, outro de uma universidade Sueca e também um modelo do ISEP no Porto”, explica o professor Marco Leite. O símbolo do Técnico presente na viseira “serve para os voluntários poderem identificar os modelos recebidos”, e a equipa está constantemente a tentar aprimorar o fabrico da peça para suportar o acetato, sendo bem-vindas todas as sugestões externas que possam ajudar neste processo de melhoria contínua.
O modelo produzido pelo Técnico tem uma especificidade importante num momento de crise e de escassez de materiais, como o que se está a viver. “A nossa viseira permite facilmente a colocação/ substituição do acetato comum que serve como barreira de proteção, para que assim se possa facilmente permutar no hospital quando necessário, apenas recorrendo a um novo acetato perfurado com um furador comum. É facilmente reutilizável e é isso que a distingue”, realça o professor Paulo Peças.
Conseguida a validação por parte de um profissional de saúde do Hospital de Santa Maria, a equipa de investigadores partiu imediatamente para a produção. O interesse da comunidade do Técnico já começou a surgir com vários investigadores a juntarem-se a este movimento. “Ainda não consigo precisar quantas pessoas estão envolvidas ao certo, mas pelos pedidos que me chegaram, acredito que estarão entre 20 a 30 investigadores do Técnico a começar a produzir as viseiras”, adianta o docente do DEM. “Para além destes investigadores temos o apoio do Fórum Mecânica que nos está a ajudar na logística de recolha das armações e na preparação do acetato para enviar. Os núcleos do Técnico também podem desempenhar um papel muito importante neste projeto”, sublinha ainda o docente do Técnico.
Esta terça-feira, 24 de março, a equipa já conseguiu entregar um lote de viseiras fabricadas no seu laboratório ao Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, na Amadora, seguindo hoje uma remessa para o Hospital de Santa Maria. “Estas entregas vão sendo feitas mediantes as solicitações que nos chegarem. Gostava que conseguíssemos entregar cada vez mais”, declara o professor Paulo Peças. Para que tal aconteça basta que quem tenha impressoras 3D se disponibilize a colaborar com este movimento solidário.
Salientando que “o modelo foi desenvolvido de modo a tirar o máximo partido das impressoras 3D dos laboratórios de investigação e dos materiais existentes no Técnico, o professor Marco Leite vinca o apoio fulcral da “empresa Portuguesa fabricante de filamento (FILKEMP) que se dispôs a oferecer filamento ao Técnico”, mas adianta também que o mesmo está a acabar, sendo por isso necessário o apoio de todos para que seja possível continuar prosseguir esta missão. “Neste momento, estima-se a curto prazo que haja escassez de PLA [material que está a ser usado no fabrico das viseiras], por isso lanço também um apelo à comunidade industrial para nos ajudar, fazendo-nos chegar este material ou disponibilizando financiamento para o conseguirmos adquirir”, refere, por sua vez, o professor Paulo Peças.
Nesta fase, a equipa já está também a “disponibilizar um novo modelo, compatível com o anterior, mas que procura simplificar a ligação com elástico, assim como melhorar ligeiramente o tempo de fabrico”, adianta o professor Marco Leite.
Para manter o distanciamento social necessário nesta altura, os investigadores definiram dois horários para entrega de viseiras nas instalações do Técnico em lotes de dez unidades. A higienização material ficará a cargo das unidades de saúde.
Pede-se à comunidade existente nas proximidades do Instituto Superior Técnico que tenha acesso a Impressoras 3D FDM a colaboração no sentido de aumentar a produção diária. A equipa aceita também doações de folhas de acetato.
Recomendações de Fabrico – FDM
Procedimento para a montagem de viseiras
Procedimento para o corte de acetatos
Material: PLA ou PetG
Espessura de camada 0.2
Enchimento de 20%
Numero de contornos: 2
Numero de camadas de topo e base:2
Não requer suporte
Nao colocar BRIM
Tempo de impressão ronda as 3h.
Estes parâmetros terão de ser adaptados mediante a impressora disponível.
Instruções para entrega
A entrega em lotes de 10 unidades deverá ser feita nas instalações do Instituto Superior Técnico, Pavilhão Central, sala C01, todos os dias de semana, 11h-12h e 16h30-17h30.
Contactos:
Paulo Peças: ppecas@tecnico.ulisboa.pt
Marco Leite: marcoleite@tecnico.ulisboa.pt