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A sequência de sons ritmados percorreu o Salão Nobre do campus Alameda do Instituto Superior Técnico, fazendo quase duas centenas de cabeças erguerem-se de imediato. A mensagem transmitida em código Morse, e que se traduz em “VVV, ISTSat-1” (o satélite construído no Técnico e atualmente em órbita à volta da Terra a ‘dizer que está tudo bem’), marcou o início da manhã de 8 de outubro de 2025, em plena Semana Mundial do Espaço, e deu o mote para uma conversa sobre satélites e exploração espacial. A sessão inaugurou a 3.ª temporada da iniciativa “Explica-me como se tivesse 5 anos – Conversas sobre Ciência no Técnico para crianças e adultos curiosos”, a primeira a decorrer integralmente em formato presencial.
À frente da ‘pequena’ plateia, João Paulo Monteiro, docente do Técnico e investigador no Instituto de Sistemas e Robótica (ISR-Lisboa), preparava-se para responder à pergunta que dava título à sessão: “Mas como é que funciona um satélite?”. Os braços no ar antes mesmo de começar mostravam que a curiosidade já estava em órbita.
O espaço, habitualmente ocupado por estudantes universitários, encheu-se de vozes infantis, risos contidos e passos apressados. No ar, o som das mochilas a pousar e o chiar de sapatos pequenos sobre o chão misturavam-se com a expectativa que antecede sempre uma descoberta. Cerca de 180 crianças, do 1.º ao 4.º ano de escolaridade, juntaram-se para aquilo que seria a sua ‘primeira aula’ no Técnico.
“Este é o tipo de satélite em que trabalhamos no IST NanosatLab”, explicou o investigador, mostrando uma réplica do ISTSat-1, o primeiro nanossatélite totalmente feito em Portugal a ser lançado para o Espaço. “Sabem para que serve um satélite?”, perguntou, lançando mais um desafio à imaginação do público. As respostas surgiram em coro, misturando suposições e certezas. À medida que descrevia como estes instrumentos auxiliam nas comunicações, previsões meteorológicas e observação da Terra, os alunos inclinavam-se para a frente, seguindo cada palavra como quem acompanha um lançamento.
Enquanto passavam imagens da Terra vista do Espaço, João Paulo Monteiro explicava que os satélites comunicam através de antenas e que é na sala de controlo que os investigadores “conversam” com eles. “A única forma de perceber o que o satélite diz é através de um computador que traduz os seus sinais”, explicou, entre perguntas que chegavam de todos os lados da sala. É precisamente desse modo que recebem o “ …- …- …- / .. … – … .- – .—-” do ISTSat-1.
“Como é que se vê um satélite com o telescópio?”, “Quanto tempo demora a fazer um satélite?”, “Porque é que usam fatos quando os constroem?”. Já na sessão aberta à participação das crianças, cada resposta abria caminho a novas perguntas, e o entusiasmo parecia desafiar a gravidade. A conversa seguia o percurso de uma missão: da ideia à construção, da Terra ao Espaço.
Para tornar a exploração mais concreta, João Paulo Monteiro descreveu as condições extremas que o ISTSat-1 enfrenta em órbita, conduzindo a plateia numa breve viagem imaginária para lá da atmosfera terrestre. Explicou que, a milhares de quilómetros da superfície, a temperatura pode variar entre valores muito elevados e extremamente baixos, num ambiente sem ar nem som. Foi neste cenário que o pequeno satélite português começou a operar, orbitando a cerca de 30 mil quilómetros por hora.
Contou ainda que o satélite, que passa “quatro vezes por dia sobre as nossas cabeças”, deverá permanecer no espaço entre 10 e 15 anos, e que o seu desenvolvimento exigiu uma década de trabalho de estudantes e investigadores do Técnico. “Os satélites não voam como os aviões”, reforçou, quando questionado sobre como se mantêm no espaço. “Estão num ambiente sem ar, e é a gravidade da Terra que os mantém a orbitar o planeta”.
“Como é que sabes muito?”, ouviu-se de uma das primeiras filas, arrancando risos à plateia. João Paulo Monteiro sorriu e respondeu que o conhecimento surge do estudo, da investigação e da experiência acumulada ao longo dos anos, mostrando que a ciência se constrói passo a passo.
A viagem terminou com a projeção de uma fotografia da equipa responsável pelo projeto, onde figurava também Paxi, a mascote da Agência Espacial Europeia (ESA), prontamente reconhecida por muitos dos participantes. A imagem serviu de ponto de chegada para falar de cooperação e de trabalho conjunto. “Para lançar um satélite”, explicou o investigador, “é preciso tempo, colaboração e vontade de aprender” – os mesmos ingredientes que tornam possível qualquer projeto científico.
Entre perguntas, risos e demonstrações, a ciência ganhou forma tangível para um público que escutava com o mesmo espanto de quem descobre o Espaço pela primeira vez. Ao fim da manhã, o burburinho regressou ao Salão Nobre, agora preenchido por vozes entusiasmadas a repetir palavras novas – “órbita”, “painel solar”, “rocket” – que pareciam flutuar como pequenos satélites na memória.
Nos próximos meses, mais seis investigadores e investigadoras do Técnico vão subir ao palco para responder a novas perguntas relacionadas com a ciência e a investigação que realizam. O ciclo “Explica-me como se tivesse 5 anos”, organizado pelo Técnico e direcionado para crianças do 1.º ciclo de escolaridade, pretende aproximar a investigação científica da sociedade, em particular promovendo o diálogo entre cientistas e crianças.
Próximas sessões:
- 12 de novembro de 2025, 10h – “Como funciona um laboratório que pode viajar na palma da mão?” – Vania Silvério (INESC-MN)
- 14 de janeiro de 2026, 10h – “Para que serve a radiação?” – Joana Madureira (C2TN)
- 6 de fevereiro de 2026, 10h – “Sabiam que há cidades onde cada gota conta… e outras onde todas as gotas se perdem?” – Filipa Ferreira (CERIS)
- 18 de março de 2026, 10h – “Qual é a magia dos comboios?” – Hugo Magalhães (idMEC)
- 29 de abril de 2026, 10h – “Universo – Infinitamente grande ou Infinitamente pequeno?” – Pedro Abreu (LIP)
- 13 de maio de 2026, 10h – “Podemos medir a música?” – Diogo Oliveira e Silva (CAMGSD)