Quem nunca se deixou influenciar e comprou aquele suposto produto saudável sugerido numa qualquer rede social ou por um amigo, sem confirmar se o mesmo se ajusta às suas necessidades nutricionais? Ou quantas vezes tentamos seguir as recomendações do nutricionista e ler os rótulos dos produtos alimentares e desistimos a meio? Pois bem, graças a quatro antigos alunos do Técnico, passou a ser possível tomar decisões mais saudáveis numa ida ao supermercado e de forma rápida, simples e intuitiva, quebrar a barreira da leitura e interpretação dos rótulos de produtos alimentares, através da aplicação (app) MyNutriScan.
Cruzando as necessidades nutricionais de cada utilizador com a informação nutricional do produto alimentar, a MyNutriScan fornece um feedback personalizado. “A app ajuda os utilizadores a escolher produtos alimentares no supermercado mais apropriados aos seus objetivos e às suas necessidades, é como ter um nutricionista no bolso”, começa por salientar Nuno Calejo, antigo aluno do Técnico e um dos criadores da app.
Para tal, o utilizador apenas precisa de definir o seu plano – objetivos, restrições alimentares, etc.- e ao fazer scan do código de barras do produto recebe feedback personalizado sobre o produto. “Por exemplo, um utilizador alérgico ao trigo será alertado sobre a presença de trigo nos produtos, enquanto uma pessoa com hipertensão receberá avisos focados no teor de sal e gordura saturada. Para que isto seja possível foi desenvolvido um algoritmo nutricional inteligente que compara a informação nutricional do produto com os objetivos nutricionais definidos pelo utilizador”, explica o antigo aluno do Técnico.
Nuno Calejo é apenas uma das mentes por detrás deste projeto, e a que se juntam mais dois alumni e uma alumna: Nuno Ferreira, Pedro Medeiros e Rafaela Saraiva. A ideia que dá origem à MyNutriScan nasce no âmbito da hackathon da Fundação Calouste Gulbenkian, Hack for Good, onde foram desafiados a desenvolver soluções tecnológicas para problemas de cariz social. “A equipa já se conhecia através da JUNITEC [Júnior Empresas do Instituto Superior Técnico] e aceitou o desafio de desenvolver um projeto com a missão de apoiar os idosos a tomar decisões mais saudáveis na escolha de produtos alimentares no supermercado”, recorda Nuno Ferreira.
Perante a “notória dificuldade sentida pelos idosos na escolha de produtos alimentares, seja pela dificuldade na leitura dos rótulos, compreensão da informação ou conjugação com as inúmeras restrições alimentares a que estão sujeitos”, a equipa não teve dúvidas de que residia nesta problemática uma oportunidade para colocar a tecnologia ao serviço da sociedade. Após o concurso, perceberiam que estes problemas “são transversais a todas as faixas etárias e decidimos alargar o nosso público alvo e direcionar a aplicação para qualquer consumidor, independentemente da idade – o que continua a ser o nosso foco até ao dia de hoje”, recorda Nuno Ferreira.
De acordo com o Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM), 40% dos portugueses não compreendem a informação nutricional básica que permite fazer escolhas mais saudáveis, e “esta dificuldade em ler rótulos dos produtos alimentares, seja por falta de tempo ou de conhecimento, leva a uma alimentação incorreta”, destaca Rafaela Saraiva. “Este problema é ainda agravado pelo crescente número de pessoas com restrições na alimentação e que implicam um cuidado redobrado no momento de escolha de produtos alimentares”, realça a antiga aluna.
Acreditando que o primeiro passo para mudar hábitos alimentares começa no momento da escolha dos alimentos no supermercado, a equipa não hesitou em avançar com o lançamento da MyNutriScan, tornando-a uma solução real e disponível de forma gratuita para o consumidor. De acordo com Nuno Calejo o que diferencia esta app das restantes soluções, principalmente as existentes no mercado nacional, é exatamente o “grau de personalização”. O antigo aluno salienta que as “soluções existentes atualmente não são digitais e consistem na rotulagem nutricional simplificada”.
A app foi lançada no passado mês de maio, e está disponível para sistemas Android e iOS. A equipa de antigos alunos não podia estar mais satisfeita com a receção do público à mesma, e “apesar de ser um número de utilizadores ainda relativamente baixo, o feedback recebido dos primeiros utilizadores foi de satisfação e até surpresa por ser a primeira solução deste género no mercado nacional”, partilha Nuno Calejo. “O número de utilizadores atuais é ainda bastante inferior aos nossos objetivos e, apesar das limitações impostas pela situação pandémica no supermercado não ajudarem, temos definido uma estratégia de marketing para conseguir dar a conhecer a nossa solução a um grande número de utilizadores”, adiciona a alumnus.
Neste momento, a divulgação é mesmo o grande foco da equipa da MyNutriScan, fazendo com que a app chegue ao maior número de pessoas possível. “Quanto aos próximos passos, estamos a desenvolver novas funcionalidades que acreditamos que vão enriquecer muito o produto, como a recomendação de produtos alternativos quando um produto alimentar não é apropriado para o utilizador, tornando assim a aplicação mais versátil, que não só informa o utilizador, mas fornece-lhe soluções”, revela Rafaela Saraiva. Numa perspetiva mais estratégica, a equipa tem em vista a contratação de um nutricionista e o estabelecimento de parcerias com entidades como produtores, supermercados, associações, entre outros, para aproveitar as respetivas sinergias. Já a longo prazo, a ambição dos antigos alunos passa “por criar um ecossistema que reúne os principais players da indústria alimentar para ajudar os portugueses a ter uma alimentação mais saudável”, partilha a antiga aluna.
Este é um projeto que cada um dos elementos da equipa concilia com um emprego em regime full-time. Pedro Medeiros não esconde que este tem sido um desafio extra que os alumni têm sabido superar com uma grande capacidade de gestão de tempo. “Esta situação obriga-nos a sermos muito organizados e eficientes a nível de tempo para cumprirmos os prazos e objetivos a que nos propomos”, sublinha o antigo aluno. “O facto de sermos 4 pessoas com disponibilidades diferentes e responsáveis por diferentes áreas também nos confere alguma flexibilidade”, complementa.