“A criatividade é um ponto de partida não é um ponto de chegada”, esta e tantas outras frases proferidas por Miguel Gonçalves, CEO da Spark Agency, tendem a provocar várias reações nos participantes do Pitch Bootcamp@Técnico. Entre gargalhadas que se sobrepõem, há muitas expressões que espelham a assertividade do que foi dito, e entre uma e outra ‘deixa’ tenta-se sempre tirar notas. “Durante estes dois dias não haverá tempo para se sentirem cansados, apenas inspirados a lutar pelo vosso futuro”, ia alertando, logo de início, Miguel Gonçalves e aos poucos o ritmo frenético a que são sujeitos vai mostrando aos participantes que o aviso era sério, e que mesmo por entre muita animação só haverá tempo para se trabalharem a eles mesmos.
No primeiro dia, 6 de abril, a equipa da Spark envolve os bootcampers numa discussão de grupo, e em alguns momentos num debate individual, em torno da carreira e das valências e aspirações de cada um. Antes de cada momento, Miguel Gonçalves “lança achas para a fogueira” tentando despertar o melhor de cada um. “Vocês têm que se diferenciar, e mesmo que não tenham percebido haverá sempre algo em vocês que é a vossa marca e que vos distanciará dos outros”, declarava várias vezes o CEO da Spark. Se houvesse dúvidas, ele ou qualquer elemento da sua equipa tratavam de ajudar na descoberta. Nas várias atividades não há lugar a incertezas ou medos, a aprendizagem ocupa a mesa, as estratégias saem de dentro de cada aluno, e se faltar inspiração Miguel Gonçalves tira sempre do bolso uma ou outra história que dá um novo fôlego a cada um. “O Ronaldo tem que trabalhar muito para conseguir voar, por isso vocês também têm”, lança.
No final do dia, os indícios do trabalho feito estavam lá todos. Além dos post-its coloridos por toda a sala que demarcavam as valências individuais de cada um, a desorganização das mesas servia de rastro ao trabalho árduo que se tinha executado, as ligações criadas entre participantes ouviam-se nas conversas paralelas que se formavam constantemente, e as expressões animadas desvendavam um pouco do autoconhecimento que se foi construindo. Foi tempo depois de desviar o foco, abrindo as portas do Salão Nobre a três empresários de sucesso em áreas totalmente distintas: Gonçalo Quadros (CEO da Critical Software), André Simões Cardoso (Administrador da Fidelidade Companhia de Seguros S.A), e Luís Santos (Managing Partner da Alpac Capital). Pretende-se que as lições aprendidas pelos empresários inspirem, e que as dúvidas dos cerca de 193 jovens tenham uma resposta personalizada de quem outrora também já as teve. Sem subterfúgios, ou facilitismos, cada um dos oradores ia partilhando as adversidades, os truques e acasos do sucesso, o foco necessário, as certezas que se vão cimentado ao longo da carreira. “O Técnico dá-vos bases estruturais, a vida vai dar-vos o resto” salientava André Simões Cardoso, alumnus do Técnico. “Temos que descobrir aquilo que nos faz vibrar e ir atrás”, lança de seguida Gonçalo Quadros. E no meio disto tudo, é importante ser “obcecado em aprender”, como é Luís Santos que não hesitou em frisar que “se o forem e se souberem gerir o vosso ativo mais escasso – o tempo – o sucesso acabará por vir ter convosco antes do que esperam”. As palavras dos três convidados, intercaladas pelas perguntas dos participantes, faziam com que a vontade de saber mais, de absorver conselhos, de antecipar decisões fosse mais forte que o cansaço ou o nervosismo que já se construía em torno do dia seguinte.
No segundo dia, 7 de abril, o encontro estava marcado para as 8h30 e poucos foram os que se atrasaram. O nervosismo e a adrenalina não deixaram que fosse de outra maneira. À espera deles estava um “blind date” com quatro jurados de diferentes empresas, a quem tinham que chegar e cativar em breves minutos e com um original “pitch”. Alguns minutos antes o “quebra-gelo” estabelecia as “regras”: “Nada de senhor doutor ou engenheiro, aqui somos todos iguais e queremos todos o mesmo: criar valor”, dizia um dos empresários convidados.
Cátia Botas e Daniel Almeida foram dois dos alumni convidados que integraram o painel de jurados, representando a Vodafone. Há um ano atrás estavam eles do outro lado da mesa a ser avaliados. Têm consciência da responsabilidade das suas palavras e da sua avaliação: “Eu queria não os deitar muito a baixo. Eu sei que o feedback é importante e imediato, e se formos muito brutos se calhar isso vai ter o efeito contrário ao desejado”, afirmava Cátia Botas. “Eu quero mostrar-lhes que tem que se diferenciar e distanciar dos outros em determinadas coisas, mas não derrotando aquilo que eles já têm de bom no percurso deles”, destaca de seguida. Daniel Almeida acredita que no meio de todos os conselhos o melhor que lhes podemos dar é mostrar-lhe o quão importante é que não olhem apenas para o Técnico. É preciso aprender, abrir horizontes, porque é isso que nos torna diferentes”, vincou o alumnus.
No frente-a- frente com os jurados, o discurso variava sempre. Enquanto que uns sabiam o que dizer, e quase não deixam espaços para perguntas, outros iam-se deixando orientar pela reação que conseguiam obter dos jurados. Os conselhos e a aprendizagem do dia anterior iam vindo ao de cima quando o nervosismo assim o deixava. Do outro lado, a recetividade é enorme. Com atenção, todos os detalhes são apontados pelos jurados para que depois nada falhe no comentário final, e onde as criticas e os elogios se intercalaram saudavelmente. O que os alunos disseram, até o mais irrelevante, e também o que não foram capazes de dizer, mas mostraram, serve de apoio a sugestões de carreira, áreas de atuação e conselhos de como evoluir.
Encontramos Luís Alves, aluno de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, num dos momento de espera para o segundo “pitch”. Numa altura em que tudo serve para enganar os nervos, desde a nicotina até ao jogo do stop, Luís estava a tirar notas sobre o que ia dizer, “mesmo que depois me vá esquecer de metade”. Está no último ano e “por isso fazia todo o sentido vir ao Pitch Bootcamp”, declara o aluno. Não nega o cansaço destes dois dias, mas prefere pensar em tudo o que conseguiu absorver. “Nós podemos saber que somos bons, mas aqui ensinam-nos a descobrir que somos muito bons e porquê”, afirma Luís Alves. E é com esta certeza, com uma confiança reforçada e uma argumentação muito bem preparada que vai para o segundo “pitch”. “Só pode correr bem”, dizia. Afinal foi esta confiança que lhe ensinaram a trabalhar e aparentemente foi dos que aprendeu bem.