O Museu de Civil do Instituto Superior Técnico, no campus Alameda, foi palco, no dia 28 de julho, do painel de conversas “Lusofonia na Era Digital”, promovido pelo Núcleo de Estudantes Africanos do Instituto Superior Técnico (NEAIST), em parceria com a Federação Académica Africana de Portugal (FAAP). O encontro reuniu autores, representantes institucionais e especialistas para discutir os desafios e oportunidades que se colocam à literatura africana num contexto marcado pela digitalização.
“Esta iniciativa pretende discutir a importância da literatura, da língua portuguesa, da educação e da cultura, bem como os desafios e oportunidades que a digitalização coloca ao setor. É uma oportunidade para partilhar ideias, levantar questões e propor soluções para o futuro”, afirmou Pedro Aguiar, presidente do núcleo de estudantes, abrindo a discussão ao público.
Regina dos Santos Duarte, representante do Plano Nacional de Leitura, destacou a importância de estimular o gosto pela leitura entre os estudantes do ensino superior. “Parece-nos muito importante que se promovam os hábitos de leitura nesta fase. Os jovens estão a definir percursos de vida e escolhas de carreira, muitas vezes focados em leituras técnicas. É importante criar espaço para outros tipos de leitura, que complementem a formação académica e contribuam para o crescimento pessoal e profissional”, afirmou, defendendo uma maior integração da leitura literária nos percursos educativos.
Entre os oradores esteve o escritor guineense Mamadú Saliu Djaló, autor da obra As Perfeitas Imperfeições, que partilhou a sua visão sobre o ‘poder transformador’ da literatura. “O livro é um convite para nos relacionarmos connosco próprios e com os outros com mais beleza e compaixão, aceitando as nossas imperfeições e as dos outros como parte do processo de crescimento humano”.
Para encerrar o painel, Rogério Colaço, Presidente do Técnico, partilhou algumas das suas memórias de infância associadas à leitura, a propósito do livro A Conspiração de Atlântida, da sua autoria e que marca o início de uma trilogia. “Não se discute o suficiente a enorme riqueza do espaço lusófono”, afirmou, sublinhando o potencial da língua portuguesa como elemento de ligação entre diferentes geografias e culturas. Acrescentou ainda que “a era digital representa uma oportunidade de força democrática”, ao permitir a circulação mais ampla de obras e ideias, e ao criar condições para a inclusão de novos autores e perspetivas.
Ao longo da sessão, os intervenientes refletiram sobre a promoção da literacia, o contributo da literatura para o pensamento crítico e para a compreensão intercultural, e as possibilidades que as plataformas digitais oferecem na construção de comunidades de leitura, partilha e criação de novos públicos. Foram ainda discutidas as desigualdades no acesso à educação literária e os riscos associados à uniformização cultural, com destaque para a valorização da diversidade de vozes e narrativas provenientes do espaço lusófono.
O encontro terminou com uma citação de Caetano Veloso (numa variação a partir de Fernando Pessoa) – “A língua é minha pátria” – sublinhando a importância do diálogo em torno da literatura e da digitalização como contributo para a construção de pontes entre culturas no espaço lusófono.
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