Por entre o grupo de engenheiros do Aerial Robotics Lab no Imperial College of London que está na génese do drone capaz de descolar debaixo d’água está um antigo aluno do Técnico, André Tristany Farinha. O AquaMAV – como se designa o drone – está a despertar a curiosidade do mundo por ser uma espécie de “peixe voador” capaz de mergulhar e descolar verticalmente a grande velocidade, atuando “em cenários onde a superfície da água está agitada ou atulhada com detritos”, como sublinha o próprio André Tristany Farinha. Além disto, o drone permite também executar missões anfíbias, “algo muito pouco usual, mas que recentemente foi também demonstrado por mais outro drone”, partilha o alumnus do Técnico. Os detalhes do funcionamento do dispositivo foram publicados num artigo científico no periódico Science Robotics, do qual André Tristany Farinha é co-autor.
“Para descolar debaixo de água, o AquaMAV usa sistemas de propulsão de alta densidade energética, como é o caso de gás à pressão, ou como na mais recente iteração, combustão. Este último método tira proveito da água já presente, que reage com Carbeto de Cálcio (CaC2), libertando acetileno”, explica o alumnus do Técnico. “Este é extremamente inflamável, o que cria alta pressão dentro de uma câmara de onde água é ejetada a grande velocidade”, acrescenta. O processo é otimizado de tal forma que apenas uma gota de combustível permite o drone saltar da água mais de 10 vezes até uma altura de cerca de 6 metros. “Tudo isto é executado com uma única parte móvel: uma pequena bomba que traz a água do exterior para o interior do drone para reagir com o combustível”, salienta André Tristany Farinha. E se robôs semelhantes exigem condições calmas para saltar da água, o sistema do AquaMAV – que pesa apenas 160 gramas – gera uma força 25 vezes superior ao peso do robô, permitindo por isso a sua utilização em ambientes mais agitados.
“Um dos grandes incentivos do projeto é a utilização do drone após desastres naturais como tsunamis ou grandes tempestades. Este pode ser usado como uma ferramenta extremamente rápida para se obter dados sobre locais inundados, ou até mesmo trazer de volta amostras de água para futura análise”, refere o antigo aluno do Técnico. “Recentemente tenho trabalhado de forma a tentar usar estes drones em recolhas de dados para estudos ambientais, como no estudo da saúde de recifes de corais ou a composição de águas infetadas por blooms de algas”, partilha ainda.
O artigo no Science Robotics explica isto e muito mais, explorando em detalhe o funcionamento do sistema de propulsão a combustão, nomeadamente os processos físicos que permitem modelar o sistema, os fatores determinantes que distinguem o projeto e o desenvolvimento do protótipo em si. Ainda assim e para descobrir mais sobre este robô, o antigo aluno do Técnico, aconselha “a ver são os vídeos de alta velocidade do drone em ação”. “É difícil colocar em palavras uma descrição do protótipo em funcionamento”, refere. Mas assim esforça-se para tal: “Um robô de 160 gramas a atingir pressões superiores a 7 atmosferas e sujeito a forças superiores a 30 vezes o seu peso é algo realmente único. Especialmente se ainda estiver inteiro no final do processo”.
A equipa do Aerial Robotics Lab testou o robô num laboratório, num lago e ainda num tanque de ondas, mostrando a capacidade do mesmo em escapar da superfície da água, mesmo em condições relativamente complicadas.
Depois de terminar o seu mestrado em Engenharia Mecânica no Técnico, André Tristany Farinha, rumou à Bélgica e foi lá que o seu gosto por investigação despoletou. Por lá conheceu alguém que sabendo dos seus gostos lhe falou do Aerial Robotics Lab no Imperial College of London. Depois de alguma pesquisa, surgiu a vontade de se candidatar e rapidamente uma oferta para integrar o mesmo. “Penso que o que diferenciou a minha candidatura foi ter estado muito envolvido num projeto de engenharia liderado por estudantes, o PSEM, durante o curso”, confessa o alumnus do Técnico. O envolvimento num projeto desta dimensão veio dar um sentido ainda mais entusiasmante a esta ida para Londres. “É claro que existe excelente investigação em Portugal, mas algo único como este projeto que requer destreza em tantos temas diferentes em que gosto de trabalhar é difícil de encontrar”, salienta.