O ano de 2020 seria um ano em grande para a equipa de Formula Student do Técnico, a FST Lisboa, com a entrada garantida em três das competições mais importantes do ranking mundial de Formula Student: a FS Spain, FS Germany e a FS Áustria, e ainda a estreia do protótipo autónomo desenvolvido de raiz pela equipa de estudantes do Técnico. Quando a pandemia de Coronavírus começou a assombrar o mundo estava a FST a celebrar esta vitória, e começava a arregaçar mangas para avançar na construção dos dois protótipos que levariam o nome do Técnico além-fronteiras: o FST 10e e o FST10d. A chegada do novo coronavírus a Portugal começaria por colocar tudo isto em stand-by, e pouco tempo depois adiaria os planos competitivos da equipa para 2021. Ainda assim, e apesar da mudança de foco imposta pela pandemia, a equipa de alunos fez das adversidades um caminho alternativo, unindo-se torno de um objetivo comum: terminar ambos os carros até dia 15 de setembro, aproveitando o tempo que resta para testar ao máximo os protótipos e aprimorar as suas potencialidades.
“No início a equipa foi um pouco a baixo, é normal dado que as competições são o ponto alto do ano”, começa por recordar Inês Netto Viveiros, líder da equipa. A vontade de fazer o projeto avançar, de dar corpo ao projeto seria mais forte que este desalento e rapidamente a equipa decidiu “construir ambos os carros dando oportunidade à equipa de ver o trabalho materializado e a correr”. “Para além disso, encaramos o cancelamento das competições como uma oportunidade única de aumentar a fase de testes aos protótipos que se mostra sempre fulcral no aumento da performance dos mesmos”, afirma a líder da equipa. Este prolongamento do tempo de testes permitirá, como evidencia a aluna do Técnico, “a implementação de mecanismos necessários à validação de sistemas e de obtenção de dados muito úteis para o design dos futuros carros” – algo que normalmente não é feito devido à falta de tempo e disponibilidade da equipa na altura em que as competições se aproximam.
Quando o Técnico decidiu suspender as suas atividades letivas, e semicerrar as suas portas físicas seguindo o plano de contingência da instituição, e mais tarde o plano de Contenção e Mitigação do Coronavírus do governo, as competições de Formula Student ainda não tinham sido canceladas, e por isso a equipa de alunos resolveu desenvolver um plano de contingência que os permitisse trabalhar em segurança. O início do estado de emergência obrigá-los-ia rapidamente a passar de um regime de trabalho presencial – dominado pela cumplicidade de quem trabalha e sonha lado e a lado- para o regime de teletrabalho. A mudança obrigaria a uma redefinição do foco que passou a ser “a documentação como investimento no futuro da equipa, assim como um planeamento detalhado de todos os passos envolvidos na manufatura para que esta fosse o mais eficiente possível, quando fosse seguro regressar ao trabalho presencial”, revela a líder da equipa.
Para além de importante para prosseguir este novo foco,a criação de novas dinâmicas de trabalho eram cruciais para que a união que pauta a equipa não se desvanecesse. “Como tentativa de atenuar a distância, marcámos briefings diários que, aliás, ainda se mantêm para que todos os membros possam saber e ver o que foi feito na oficina mesmo não podendo estar presentes”, conta Inês Netto Viveiros. “Aderimos também à plataforma discord, onde criamos um ambiente de trabalho para equipa, organizado à ‘nossa medida’, e que incluía inclusive as ‘salas’ – em formato virtual- de que dispomos regularmente no nosso laboratório, e onde todas as pessoas eram incentivadas a trabalhar durante o dia”, relata ainda a líder da equipa. O objetivo da estratégia foi sempre claro: continuar a trabalhar de casa, mas em equipa, tendo “companhia para conversar ou pedir ajuda a qualquer instante”.
Um das decisões que resultaram do confinamento foi a de confiar o design exterior dos carros de corrida a todos os alunos universitários, envolvendo mais estudantes na fantástica dinâmica de criação do carro. Para tal a equipa decidiu criar o Wrap Design Contest, cujo objetivo é chegar a um design final para o FST 10e e FST 10d agora em desenvolvimento e que competirão lado a lado, no próximo verão de 2021. “Geralmente o design em vinil dos nossos carros é feito por alguém da equipa ou por um dos nossos sponsors. Este ano, com o concurso, esperamos ter designs inovadores, mas também dar a conhecer a equipa a mais estudantes de todo o país”, sublinha Inês Netto Viveiros. Neste momento, o concurso conta já com inscritos das universidades de Lisboa e do Porto. “Temos feito um esforço comum com as diferentes faculdades das duas universidades para conseguir levar esta iniciativa ao maior número de estudantes”, aponta a líder da FST Lisboa.
Para além deste trabalho, a FST Lisboa foi também um dos núcleos de estudantes que se aliou aos investigadores do Técnico na produção de viseiras de proteção para doar aos profissionais de saúde, envolvendo-se no processo de impressão das mesmas. “Doamos também diretamente a algumas instituições que eram mais chegadas a alguns de nós, mas no geral estivemos envolvidos no processo de impressão”, afirma Inês Netto Viveiros.
Agora, e já de volta à oficina, “para além do uso de máscara, da frequente lavagem e desinfeção das mãos, ferramentas, bancadas de trabalho, a equipa tenta ao máximo manter o distanciamento social e está a também a trabalhar em pequenos grupos como forma de reduzir a quantidade de pessoas presentes na oficina em cada momento, assim como a probabilidade de contaminação de toda a equipa”, como relata a líder da equipa. “Deste modo é-nos fácil fazer o rastreamento de quem possa estar infetado caso um dos membros da equipa teste positivo”, salienta ainda.
Quando foi decretado o estado de emergência a equipa estava literalmente com as ‘mãos na obra’, e muito pouco da manufatura dos protótipos estava concluída ou sequer iniciada. Atualmente, a pouco e pouco e com a capacidade de trabalho que todos reconhecem a esta equipa, vai-se recuperando o tempo perdido e avançando no percurso definido. “Já estamos a construir o nosso chassis monocoque- uma das peças principais e mais complexas do carro elétrico – que estimamos que esteja concluída em meados de julho. Este marco é de extrema importância para a equipa”, relata com orgulho a líder da equipa. “Sinaliza o momento em que podemos iniciar a montagem de todos os sistemas no carro. É uma altura em que, de dia para dia, é possível ver facilmente a evolução”, acrescenta.
Uma vez que a deadline para finalização dos protótipos da FST Lisboa foi adiada para setembro, a data e moldes da já tradicional apresentação dos protótipos à comunidade estudantil – o conhecido Rollout da FST Lisboa- tornaram-se indeterminados. Ainda assim Inês Netto Viveiros adianta alguma das novidades técnicas destes novos protótipos: “salientamos as melhorias em todo o assembly da roda (suspensão), na bateria e pacote aerodinâmico do protótipo elétrico e todo o software que está a ser desenvolvido pela primeira vez para o autónomo”. “Para melhor dar a conhecer as novas especificações dos dois carros, publicámos, no mês passado, a nossa ‘Design Magazine’ que está disponível para consulta e que serve de guia a estes novos protótipos”, destaca ainda a aluna do Técnico.
Olhando à distância para estas mutações do plano inicial para 2020, Inês Netto Viveiros frisa que “a adrenalina se mantém na maioria dos membros. Pouca coisa é mais motivante do que a primeira vez que ligamos o carro, o colocamos em pista e ele anda”. “A experiência de competição em si, não foi roubada, apenas adiada para o verão seguinte. Este facto coloca mais pressão na equipa na medida em que, com mais tempo espera-se melhores resultados”, complementa a líder da equipa.