“No primeiro dia de aulas senti-me algo perdida.” É assim que Sara Pinto, que agora inicia o segundo ano em Engenharia Mecânica, descreve a chegada ao Técnico. A sua mãe, Helena Ramos, também foi aluna da escola e Sara até já conhecia o espaço, por ter participado em atividades do Verão na Técnica, mas isso não a impediu de sentir que “não sabia bem onde estava”.
A mãe sentiu o mesmo quando, em 1978, entrou numa escola “um pouco escura, algo degradada, enorme, pesada”. Ainda assim, lembra, “foi uma grande emoção, excitação e ansiedade” chegar ao Técnico para estudar Engenharia Eletrotécnica e de Computadores. “A memória que tenho da minha vida no Técnico é muito agradável”, diz a docente universitária, que chegou a lecionar no IST antes de se mudar para o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa.
Esta sensação de desconhecimento total do novo espaço é comum entre os novos alunos que chegam ao Técnico – sobretudo os mais jovens, sem qualquer experiência universitária. Saranvel Palanivelu teve uma impressão diferente: chegou ao Técnico em setembro de 2014 para iniciar o primeiro ano do programa KIC, depois de fazer a licenciatura na Índia, o seu país de origem. “Aquilo em que reparei logo foi no facto de o campus [da Alameda] estar localizado no centro da cidade, e gostei imediatamente do ambiente”, afirma. Apesar disso, recorda, as coisas não foram fáceis no primeiro dia: “Na Índia não mudamos de sala para as diferentes aulas, e isso fez com que no primeiro dia tenha assistido a algumas aulas em português, de outros cursos, sem perceber o que me estava a acontecer”.
Vipul Merianda, também indiano e a participar no programa KIC, refere exatamente o mesmo quando lhe perguntamos quais as maiores diferenças em relação à Universidade que frequentou anteriormente. E acrescenta “as infraestruturas”: “Fiquei muito impressionado com algumas oficinas que temos aqui. Não há nada disto nos outros sítios que conheço”.
“Vários professores foram marcos na minha formação”
Para Liliana Oliveira, que ingressou no ano passado em Engenharia Informática e de Computadores no campus Taguspark, a maior diferença face ao Ensino Secundário são as pessoas e “o ritmo de trabalho”. “A relação entre os colegas é forte e não há a competitividade que esperava. A matéria lecionada segue a um ritmo R
totalmente diferente e é preciso apanhar o comboio atempadamente, ou dá-se um efeito bola de neve e torna-se mais difícil acompanhar a matéria.”
Sara confirma a exigência, que já esperava: “Os professores e as cadeiras são exigentes logo de início, tal como me tinham dito”, refere. Em relação aos colegas, diz que tornam “bom” o ambiente, apesar de serem muitos. Exatamente o mesmo que diz Helena Ramos sobre o panorama há 30 anos. “Os colegas eram muitos, muitos, muitos…”, e acrescenta: “Os professores eram seres inatingíveis, sábios, incontactáveis…”.
Hoje, tem uma opinião diferente. “Vários professores foram marcos na minha formação. Alguns transformaram a minha visão de algumas áreas de forma completamente determinante.” Recorda alguns em particular: Campos Ferreira, Fonseca Moura ou Abreu Faro, por exemplo.
Vipul e Saranvel não mencionam professores, mas ambos afirmam que “são simpáticos”, “pacientes” e “sempre prontos a ajudar”. “Todos os professores têm sido fundamentais na minha preparação para os exames, a resolver problemas e em tudo o que preciso”, diz Vipul, confirmando que é diferente do que se passa na Índia. “Aqui há muito menos estudantes para cada professor, e isso permite que deem atenção a cada estudante e que os guiem na sua formação como engenheiros.”
Técnico é “prestígio”
Sara e Liliana não hesitam em responder por que razão escolheram o Técnico. “Familiares e amigos falaram-me do seu prestígio, que é um fator importante para os empregadores”, afirma a futura engenheira informática. Também Sara refere o “prestígio e boa reputação” como fatores cruciais para a escolha.
O facto de ser considerada uma escola “só de rapazes” (neste momento, 27% da população estudantil é do sexo feminino) não afetou a decisão de nenhuma das jovens. Liliana, aliás, diz que foi surpreendida por encontrar “tantas raparigas na área das engenharias”, e Sara afirma que não quis condicionar o seu “futuro” por causa disso. “Sempre soube que ia ter mais colegas rapazes que raparigas.”
Para Helena, a decisão da filha de escolher o Técnico para estudar trouxe “muito entusiasmo”. “Tenho que reconhecer que foi muito grande o meu entusiasmo em pesquisar todas as informações, como se de um novo retorno se tratasse. (…) Não consegui deixar de me entusiasmar pelo que ela ia aprender, e acho que no princípio sabia melhor os programas e as cadeiras que ela ia ter do que ela própria.”
Conselhos para os recém-chegados?
“Têm que ser realmente espertos e explorar tudo o que a escola tem para oferecer” é o conselho de Vipul para os novos alunos que chegam em Setembro. “Nenhum dos meus colegas sabe dos vários projetos que existem dentro do Técnico e voltam todos para casa sem ter participado em nenhum.” Para Saranvel, o fundamental é “estudar muito”. Mas afirma que “estudar pelos livros” não é suficiente: “Aqui aprendemos muito com outras coisas, não é só o que está nos livros que interessa.”
Liliana diz que o fundamental é “aproveitar tudo o que o Técnico pode proporcionar”. “Não temos que deixar de viver para fazer o curso, e com boas notas”, considera. E acrescenta: “Se pudesse mudar alguma coisa stressaria menos com os exames e tentar-me-ia divertir mais, porque no final são essas as memórias que ficam”.
Já Helena diz que deu à filha um único conselho: “Tenho que ser franca. Fartei-me de a aborrecer para estudar muito”. E parece ter resultado, já que Sara diria o mesmo aos recém-chegados. “Não se desleixem a nenhuma cadeira. O Ensino Secundário acabou e agora entramos noutra fase, muito mais complicada mas muito mais gratificante. Trabalhem, estudem, e irão conseguir fazer tudo.” !