Campus e Comunidade

“O Técnico deu-me a capacidade de me desenrascar sozinho”

Miguel Duarte, alumnus do Técnico, investigador e voluntário em missões humanitárias.

Miguel Duarte não é um jovem de “meias vontades”. Entre o fazer ou não fazer parte, o alumnus escolhe sempre ir. É um jovem de causas, que reverte dificuldades em lições e que tem vindo a fazer da entreajuda um modo de vida.  Veio para o Técnico em 2010, cheio de certezas de que queria estudar física teórica e, em particular, buracos negros. Escolheu por isso o curso de Engenharia Física e Tecnológica “por considerar que seria o melhor curso de física em Portugal”. Os primeiros tempos correram-lhe mal, como os “de muitos outros”, relembra. Foram meses repletos “da frustração característica de quem começa pela primeira vez a ter más notas, e ainda por cima numa coisa de que se gosta mesmo, é quase insuportável”, recorda.

A carga de trabalho que foi encontrando ao longo dos três primeiros anos do curso era tanta que foi forçado “a largar determinadas coisas que eram importantes para poder ter sucesso na física e isso faz mal a qualquer pessoa”. Percebeu nessa altura que embora a sua paixão residisse na Física algo teria que mudar.  Seguiram-se tempos de aventura, com experiência múltiplas, mas a paixão pela física manteve-se inabalada e regressou para o mestrado com uma vontade de estudar renovada. “Tive bons professores no mestrado e acabei por gostar muito de o fazer. A tese foi algo que me deu um gozo enorme”, destaca. Pelo caminho fez parte da equipa que reformulou o jornal “Diferencial”. “Queríamos combater a apatia face aos problemas do mundo que parece estar a proliferar na nossa geração e, à nossa escala, tivemos alguns sucessos que nos souberam muito bem”, salienta o investigador.

Uma vontade de fazer a diferença que lhe é inata, e que se repercutia na vontade de participar de “algum modo” na crise dos refugiados. “Segui de perto as notícias acerca da guerra da Síria e sempre me senti impotente e ao mesmo tempo hipócrita por me sentir impotente”, diz o alumnus. As estrelas e os buracos negros foram aí ultrapassados pela vontade de ajudar os que estavam a sofrer. “Como que por magia, uma velha amiga veio ter comigo na semana em que apresentei a tese e falou-me do projeto de resgate marítimo”, lembra. Foi sem hesitar. Juntou-se à tripulação de um navio alemão que faz resgate de migrantes provenientes do norte de África. “Em duas semanas resgatámos 423 pessoas, mas perdemos algumas, impossível saber ao certo quantas”, recorda Miguel Duarte. Voltou à terra com a sensação de que tinha acabado de fazer a melhor coisa da sua vida. “Senti que, só por causa de nós, muitas daquelas pessoas continuavam vivas e isso deu-me uma alegria serena e constante”, afirma Miguel Duarte.

Experimentada a sensação,a opção  só podia ser repeti-la, e por isso voou até à ilha de Lesbos, na Grécia, onde trabalhou durante 2 meses com a Plataforma de Apoio aos Refugiados prestando auxílio nos campos às pessoas que atravessavam o mar Egeu a partir da Turquia. Já este ano andou à boleia pela Turquia a ajudar certos projetos relativos aos refugiados e juntou-se a mais 3 missões, onde vários milhares de pessoas foram resgatados. “Ao longo de todas estas missões e projetos estive em contacto com o sofrimento humano e fui ensinado pelas circunstâncias a lidar com isso”, partilha o alumnus. “Não é uma coisa bonita e há mesmo coisas com as quais custa viver”, acrescenta. Não deixa, porém, de acoplar à narração da experiência diversos adjetivos que refletem bem que as coisas boas suplantaram as más. “É extremamente gratificante saber que, por muito cruel que o mundo seja, estou a fazer alguma coisa em relação a isso”, destaca.  “Fui mesmo muito feliz”, refere ainda.

Para Miguel, a escola teve influência na preparação deste caminho. “O Técnico deu-me a capacidade de me desenrascar sozinho. Em condições adversas, sinto que tenho mais capacidade de resolver problemas porque estive tanto tempo nesta escola”, explica. Por isso e por outras coisas aconselha “alguns jovens” deste país a virem para o Técnico, até porque “esta faculdade é para quem gosta realmente de engenharia e tenciona trabalhar muito”. Nunca se arrependeu da sua escolha apesar das dificuldades, afinal “uma vitória em condições adversas é sempre uma vitória que sabe melhor”, frisa o antigo aluno. Está atualmente dedicado à investigação, desenvolvendo um projeto em gravitação no grupo de astrofísica do Departamento de Física. Pondera candidatar-se ao Doutoramento,  provavelmente no Técnico, caso não aconteça estará sempre ligado à escola visto que como afirma “de um modo ou de outro, foi aqui que construí parte de mim”.