“Digam-me num aplauso quão entusiasmados vocês estão”, este é um pedido muito comum de Miguel Gonçalves, responsável pela Spark Agency, ao longo das trabalhosas e emocionantes horas em que se desdobra o Pitch Bootcamp@Técnico. A resposta que obtém tende a variar de intensidade à medida que a aprendizagem aumenta, ao ritmo que as emoções permitem, mas soa sempre invariavelmente a vontade de mais. Naquela que foi a 10ª edição da iniciativa, o Salão Nobre encheu-se, nos dias 12 e 13 de outubro, com o talento de cerca de 160 alunos ávidos de treinar ferramentas de procura de trabalho, de apurar valências, contactando com centenas de empresas e sedentos de levarem para casa uma mão-cheia de oportunidades. E foi tudo isto e muito mais.
O ambiente dos dois dias do evento difere sempre muito, e se um é dedicado ao autoconhecimento dos participantes e de como o mercado poderá valorizar isso, o outro assume-se como a derradeira oportunidade de transpor essa aprendizagem para um diálogo produtivo com representantes das várias empresas presentes na iniciativa. Os post-its coloridos decoram a sala e ajudam os alunos a memorizar o seu valor, a música ambiente instiga a animação e a envolvente repleta de frases motivacionais não deixa que esqueçam o propósito desta participação: inspirarem-se para o futuro. A ordem de trabalhos do primeiro dia exige a procura incessante de caraterísticas individuais diferenciadoras e a formulação de uma proposta de valor. A motivação e orientação chegam também pela voz de Miguel Gonçalves que vai enumerando algumas das competências mais valorizadas pelas empresas, desvalorizando a experiência profissional que pode ser compensada por outras práticas, evocando o “óbvio que nem sempre o é”, como o mesmo vai reiterando. “Quero que amanhã mostrem o melhor de vocês, que brilhem, que se tornem únicos aos olhos de quem vos ouve”, frisa de seguida.
E por “falar” em brilhar, foi assim que os olhos dos jovens participantes ficaram num dos momentos alto deste primeiro dia, as “Lessons Learned”, e perante os conceituados convidados da sessão: Cristina Fonseca, co-fundadora da Talkdesk e da Indico Capital Partners, Rui Teixeira, membro da direção da EDP e Gonçalo Quadros, co-fundador e CEO da Critical Software. Além de dois deles se terem formado no Técnico, têm em comum a formação em engenharia, mas diferenciam-se ligeiramente pelos caminhos que seguiram. Volta, porém, a uni-los a admiração que suscitam em quem os ouve. As intervenções individuais foram breves e resumiram carreiras que tem dado tanto que falar, todos eles fizeram questão que fossem as perguntas da audiência a guiar a conversa e assim foi. Por entre conselhos sobre gestão de oportunidades, abordaram-se também os desafios que a revolução digital trará à engenharia, vincou-se a aprendizagem que advêm dos erros, a importância de estar rodeados das pessoas certas, e não se esqueceu a demanda do empreendedorismo que hoje seduz os jovens. “O processo de descoberta é longo, envolve falhar e voltar a tentar várias vezes, mas o que distingue quem vence é a resiliência”, assegurava Cristina Fonseca. “Trabalhem com as pessoas mais brilhantes que conseguirem e aprendam todos os dias”, ia aconselhando por sua vez Gonçalo Quadros. O mesmo sentido tomava o conselho final de Rui Teixeira: “tenham a curiosidade de ir experimentando o que vos faz feliz, vocês não vão saber hoje o que querem fazer amanhã, e tentem sempre retirar a máxima aprendizagem de tudo o que vos aparecer”. Melhor inspiração para o dia seguinte não poderia haver.
O desafio do segundo dia começou cedo e vinha embrulhado em muito nervosismo. Entre a ansiedade e a excitação, lá se vão definindo estratégias para conseguir transmitir da melhor forma as mais-valias, os desejos profissionais e amealhar contactos importantes perante os profissionais que acederam à chamada do Técnico e da SparkAgency. Antes de rumarem ao átrio central, onde seriam distribuídos pelas várias mesas e teriam oportunidade de durante dez minutos serem persuadidos pela argumentação e pelos sonhos dos jovens alunos do Técnico, Miguel Gonçalves dirigiu aos profissionais algumas palavras que alavancam expetativas: “Estes jovens tem um ritmo de trabalho genuinamente espetacular”. “Vocês terão oportunidade de nos próximos minutos privarem com alguns dos jovens mais bonitos que andamos a produzir no nosso país, com um potencial tremendo, por isso ajudem-nos da melhor forma que puderem”. O recado estava dado e foi seguido à risca pelos convidados, entre os quais estavam alumni do Técnico. De forma assertiva e direta foram muitos os conselhos transmitidos, sugerindo-se estratégias, áreas profissionais, e distribuindo-se muitos cartões de visita.
Emílio Fernandes foi um dos alumni que fez questão de marcar presença. Acabou o curso há 27 anos e viu neste evento uma “oportunidade de regressar” e “por outro lado de ter noção da qualidade dos alunos que hoje em dia saem do Técnico”. “Falei com miúdos geniais, que tentam sair o mais bem preparados possível do Técnico. Dois dos indivíduos com que falei eram completamente fora de órbita”, partilhava o vogal executivo do Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto. A mesma ideia partilha Lúcia Lino da AMT Consulting e antiga aluna de Engenharia Química. “Esta geração está de facto cheia de talento e o nosso papel aqui, hoje, é ajudá-los da melhor maneira nesta fase”. “O que eu senti na minha altura foi que havia um mundo inteiro que tive que ser eu a descobrir sozinha, e com estas iniciativas os alunos têm outro tipo de apoio, conseguindo perceber melhor o que valem e também um bocadinho do que os espera”, acrescenta de seguida.
“Tenho-lhes dito para não admitirem menos do que querem, não trabalharem rodeados de pessoas de pessoas que não sejam melhores do que eles e aconselhado a que não fiquem mais do que duas semanas num sítio onde não estejam a aprender todos os dias”, afirmava José Costa da Cruz, antigo aluno de Engenharia Informática e de Computadores e outro dos antigos alunos que aceitou o convite. Ao seu lado estava Rui Dias Alves, seu contemporâneo, mas alumnus de Engenharia e Gestão Industrial e cujos conselhos seguiam a mesma lógica. “Estes jovens levam para o mercado de trabalho capacidade analítica, capacidade de trabalho, volume de trabalho, etc. Qualquer empresa quer ou deveria querer um aluno do Técnico”, destacava Rui Dias Alves.
Apanhamos Rita Peneque, aluna do 5º ano de Engenharia Biomédica, antes de rumar ao segundo pitch do dia. O primeiro dia correu “relativamente bem”, confessa acrescentando que para esta segunda ronda irá ter em conta os aspetos que lhe disseram para a melhorar. Está bastante confiante, mas confessa que para isso muito serviu o trabalho que foi feito ao longo dos dois dias: “Fui percebendo quais as minhas mais-valias, o que devia destacar na minha apresentação, a melhor postura tendo em conta a minha personalidade, etc.”, assinala. No final dos pitches, com muita tensão esvaída, muitas sugestões no bolso, algumas críticas para gerir, os alunos regressavam com semblantes diferentes aos lugares do Salão Nobre. Alguns paravam a meio do caminho para trocar impressões e vitórias, tentando balancear tudo o que ouviram. Rodrigo Serrão, aluno do primeiro ano de mestrado de Matemática Aplicada, contrastava um bocadinho com os colegas. Os amigos tinham-lhe pintado um quadro diferente e por isso o balanço só pode ser positivo: “calharam-me profissionais bastante acessíveis, empenhados na avaliação que estão a fazer, que apontaram os erros que cometi, mas que acima de tudo me tentam ajudar da melhor forma com algumas dicas construtivas”, refere o aluno. “Acho que tanto para os alunos que estão à porta do mercado de trabalho como para os restantes estas iniciativas são importantes para começar a ter uma ideia do que está lá fora. Há muitas coisas que posso fazer, não posso fazer tudo e vou ter que escolher”, afirma ainda Rodrigo Serrão.
Em mais uma ronda pelas mesas dos pitches e enquanto se espera por mais uma ronda de talentos, há uma frase muito similar entre os vários painéis de profissionais: “estes miúdos são geniais”. E este evento serviu para que ambas as partes o descubram.