Desde cedo que Marta Oliveira percebeu que o seu futuro passaria pelo Espaço: “sonhava estar envolvida na exploração espacial – colecionava livros e filmes sobre o tema”, conta a antiga aluna do Técnico. Na família encontraria o apoio e o incentivo para aprofundar este gosto, e aos 14 anos teve a oportunidade de fazer uma viagem a Cape Canaveral, para fazer o Astronaut Training Experience do Kennedy Space Center. Foi aí que teve a certeza que este não seria um interesse momentâneo ou passageiro. Hoje em dia, com apenas 29 anos está a cumprir uma missão muito importante: a realização deste sonho de sempre. A alumna do Técnico que trabalha no laboratório de física do Porto Espacial Europeu na Guiana Francesa, foi recentemente destacada pela Forbes na lista que elege os jovens mais promissores do continente com menos de 30 anos.
Marta Oliveira não sabe se subscreve por inteiro a ideia que muitos invocam de que os tempos universitários são os melhores, mas recorda os tempos do Técnico como “anos de muita descoberta intelectual e de liberdade de escolha”. “O Técnico preparou-me para o futuro”, e por isso mais do que boas recordações a alumna guarda “as características que desenvolvi durante esse período”, entre as quais destaca: “a perseverança, a autonomia e a curiosidade perante novos desafios”.
Os colegas de curso recordam a simpatia, a inteligência, capacidade de trabalho e disciplina que caraterizam a antiga aluna. A vontade imparável e a resiliência estão-lhe no percurso e na expressão determinada. Além do espaço, Marta Oliveira gosta de explorar também o universo das artes, e é adepta de poesia e literatura, e uma praticante aguerrida de ténis.
Após a conclusão do mestrado integrado no Técnico, Marta Oliveira romaria até à International Space University (ISU). “Com uma bolsa da ESA e da FCT, fiz um primeiro programa da ISU em Ohio e depois um segundo mestrado de estudos espaciais em Estrasburgo”, partilha. Durante o mestrado, não se acomodou e além de expandir a sua rede de contactos candidatou-se a vários estágios. Acabei por conseguir um estágio na NASA Goddard”, relembra a alumna. Aproveita a recordação para partilhar uma oportunidade que no seu tempo não existia e que incentiva os jovens a agarrar: “Sei que agora a FCT [ Fundação para a Ciência e a Tecnologia] também promove um programa de intercâmbio com a NASA. O meu conselho é que concorram e tenham essa experiência! São oportunidades únicas”, sugere. Seguir-se-ia depois o desafio do programa de trainees da Agência Espacial Europeia e a integração na equipa de estratégia da agência na sede em Paris.
No laboratório de física do Porto Espacial Europeu onde trabalha hoje em dia, Marta Oliveira faz parte da equipa responsável pela manutenção e operação dos satélites lançados pela Ariane, Soyuz e Vega. “Todas as atividades da equipa são realizadas em benefício dos clientes da base durante a campanha de preparação de satélites, incluindo a realização de análises químicas e campanhas de medição física para os satélites”, explica.
A antiga aluna do Técnico acredita que o “Overview Effect”, que é vivido pelos astronautas em missão “como uma realização da fragilidade e da realidade da Terra no Espaço”, acaba por tocar, de uma forma ou de outra, todos os que trabalham na área. “Esse potencial de consciência aliado à vontade de exploração torna a área do Espaço particularmente fascinante”, declara.
Sobre o facto de o seu nome ser um dos que vigora no ranking anual da “Forbes 30 Under 30 Europe”, e que distingue os jovens mais promissores com 30 anos ou menos, Marta Oliveira confessa que “foi uma ótima surpresa”. “É um excelente incentivo para continuar no percurso em que estou e penso que em paralelo é uma responsabilidade acrescida para os próximos anos”, frisa ainda. A alumna do Técnico sublinha ainda grande representação portuguesa na listagem da Forbes- a maior de sempre aliás- elogiando a qualidade do talento nacional. “Portugal tem uma comunidade científica extremamente bem qualificada e reputada”. “Ao longo do meu percurso, pude sempre contar com os conselhos e o apoio de outros portugueses a trabalhar na mesma área. Ainda hoje muitos desses contactos são amizades que perduram”, adiciona ainda.
Com apenas 29 anos, Marta Oliveira é dona de uma carreira com contornos preciosos, mas não se deixa deslumbrar, espera sim poder “continuar a contribuir para a exploração espacial, e com a fundação da nova agência espacial portuguesa não há falta de motivação”, sublinha. Outro dos seus desejos passa por “ver a proposta de missão a Vénus EnVision materializar-se”. “Foi a proposta de missão sobre a qual trabalhei na tese e depois também mais tarde na ESA, por isso tem um lugar especial”, vinca a antiga aluna do Técnico.
Aos jovens que, tal como ela, têm o “bichinho pelo espaço” deixa um conselho que fala tanto sobre si mesma: “é preciso estar disposto a sair da zona de conforto, estar aberto às oportunidades que vão surgir, mas sem deixar de estar focado nos objetivos que se traçaram inicialmente”. Afinal o espaço pode mesmo estar à distância de um sonho.