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Pan-European Seal Programme: uma oportunidade de “aprendizagem permanente” em torno da Propriedade Intelectual

No Dia Mundial da Propriedade Intelectual damos-lhe a conhecer a experiência de quatro graduados do Técnico que estão a estagiar no European Patent Office.

Celebrado a 26 de abril, o Dia Mundial da Propriedade Intelectual, internacionalmente designado por World IP Day ou WIP-Day, foi estabelecido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO, na sigla em inglês), no ano de 2000. A data pretende aumentar a consciência em relação à importância das patentes, dos direitos de autor, das obras literárias, artísticas, assim como, o impacto destes temas no nosso quotidiano. Para assinalar o dia e de forma a evidenciar o valor que reside no “Pan-European Seal Professional Traineeship Programme” partilhamos a experiência de 4 jovens graduados no Técnico que aceitaram o desafio de fazer parte deste programa.

Tal como muitos alunos da Escola, António Ferreira, Inês Malpique, Hajrabibi Ali e Alexandre Cuco conheceram o programa através da informação disponibilizada pela Área de Transferência de Tecnologia (TT@Técnico), mais concretamente pelo Núcleo de Propriedade Intelectual (NPI). O e-mail que os informava da possibilidade de acederem  a esta enriquecedora experiência profissional chegou na altura certa, abriu-lhes os horizontes, deu-lhes vontade de voar rumo a Munique e explorar uma hipótese de carreira que até então nem equacionavam. A pandemia acabaria por os privar da experiência intercultural, visto que estão em teletrabalho, mas em tudo o resto, e volvidos mais de 8 meses da aventura ter começado, as expectativas têm sido “largamente superadas”.

O NPI promoveu um encontro via Zoom entre os 4 jovens desafiando-os a partilhar o feedback dos primeiros meses de estágio no European Patent Office (EPO).  Com um entusiasmo notório na voz, abordaram as diversas etapas ultrapassadas até ao início do estágio em setembro de 2020, desmistificaram hipotéticos obstáculos, frisaram a relevância da oportunidade e a aprendizagem amealhada até agora, incentivando outros jovens a seguirem-lhes a ousadia porque como garantem “só há coisas boas para dizer”.

À exceção de António Ferreira cujo estágio é na área de Innovation Support na European Patent Academy, indo um pouco ao encontro da sua formação em Engenharia e Gestão Industrial, os outros três alumni estão a trabalhar diretamente em pesquisa do estado da técnica em  áreas relacionadas com as suas formações: Inês Malpique e Hajrabibi Ali, alumnae dos mestrados em Biotecnologia e Microbiologia respetivamente, estão a realizar o seu estágio no setor Healthcare, Biotechnology and Chemistry e  Alexandre Cuco, alumnus de Engenharia Mecânica, está no inserido no setor de Mobility and Mechatronics.

A aventura numa área que não dominavam e que hoje entendem como crucial

Um conjunto de coincidências esteve por trás da candidatura de Alexandre Cuco a este programa. Enquanto fazia a sua dissertação de mestrado em Munique, mais precisamente na Airbus, o alumnus de Engenharia Mecânica vivia literalmente ao lado da rua do EPO e foi o grandioso edifício que primeiramente lhe “despertou a curiosidade para o mundo das patentes”. Mais tarde, o tal e-mail fê-lo perceber que havia uma porta para entrar nesta área. Quando fez a sua candidatura ainda nem tinha entregue a tese de mestrado, mas a sua vontade de ingressar no mercado de trabalho era tanta que já tinha começado a procurar oportunidades. “Senti que um programa deste género me iria ajudar a fazer a transição para a minha carreira profissional”, afirma. O facto de o estágio ser em Munique também pesou na sua decisão, tendo assim oportunidade de continuar a explorar a cidade.

O antigo aluno sabe o privilégio de poder dizer que numa carreira ainda tão curta já passou pela Airbus e pelo EPO. “São experiências completamente diferentes, mas acredito que se complementam”, afirma. Na Airbus, Alexandre Cuco trabalhou num departamento de investigação e desenvolvimento, e lembra-se bem de ver uma patente que um dos investigadores tinha conseguido. “Isto foi bastante interessante para mim porque pela primeira vez vi o que acontece depois de se inventar alguma coisa”, recorda.  Agora no EPO, tem oportunidade de escalar o seu conhecimento nesta área que “até há cerca de seis meses atrás nem sabia existir”, como confessa. “É uma parte vital do processo de inventar alguma coisa, e acredito que qualquer engenheiro recém graduado deveria saber de que modo e como pode proteger a sua invenção”, vinca o antigo aluno.

Apesar de ter “gostado muito do mestrado” e do trabalho laboratorial que fez durante a tese, Inês Malpique sentia que num próximo passo “queria explorar a vertente não laboratorial da Biotecnologia, sem saber ao certo as ofertas de trabalho que existiam”, recorda. Assim, quando foi confrontada com esta oportunidade começou a tentar perceber “o tipo de trabalho que iria fazer caso fosse aceite”. O mundo da propriedade intelectual, que pouco conhecia até então, suscitou-lhe desde logo o interesse, “especialmente na vertente científica” e a este facto juntava-se a hipótese de “ir trabalhar para Munique numa instituição com um ambiente muito internacional”. Percebeu de imediato que era a experiência que buscava para aquela fase da sua vida e não hesitou em concorrer.

De acordo com a antiga aluna do mestrado em Biotecnologia “o programa está delineado para a aprendizagem constante, e não apenas relativamente ao trabalho que fazemos”. “Temos tido vários tipos de formações, umas com o objetivo de nos ajudar a entender quais os pontos fortes e fracos de cada um e saber utilizá-los a nosso favor no mundo profissional, outras ligadas à produtividade, eficácia e organização, e até sessões relacionadas com entrevistas de trabalho e CVs”, partilha. A tudo isto junta-se ainda o curso de alemão que também lhes é oferecido. “Nota-se que neste programa estão preocupados em investir na nossa formação e dar-nos a melhor preparação possível para o mundo profissional”, sublinha Inês Malpique.

” A propriedade intelectual e a inovação são fatores cruciais que devem ser valorizados por todos os engenheiros”

Hajrabibi Ali partilha da mesma opinião, considerando o programa “bastante completo”. “Somos muito bem acompanhados e integrados desde o início, temos inclusive um tutor cada um, o que nos ajuda imenso através do estágio, porque é também um programa exigente”, justifica a antiga aluna do mestrado em Microbiologia. “E mesmo sendo estagiários, fazemos de facto parte da equipa e da instituição! O trabalho que vamos desenvolvendo contribui verdadeiramente para o que se faz no EPO”, frisa. Para além disto, Hajrabibi Ali destaca ainda “o ambiente extremamente estimulante e, sobretudo, multicultural do programa”, ainda que a pandemia tenha condicionado um pouco esta vertente do estágio.

A antiga aluna do mestrado em Microbiologia tinha acabado de defender a tese e andava à procura de trabalho quando esta oportunidade lhe caiu na caixa de e-mails. “Não estava nos meus planos fazer um doutoramento (pelo menos para já), mas sabia, por exemplo, que queria passar uma temporada fora do país e também estava aberta a carreiras alternativas, ligadas à minha área (Biologia/Microbiologia), embora me sentisse um pouco perdida nesse aspeto”, lembra. Perante a oportunidade o seu primeiro pensamento foi:“Porque não?”. “Achei que seria uma boa oportunidade de explorar um trabalho ‘fora da bancada’ de laboratório, para além de que ser uma instituição da Uniao Europeia também era um plus”, conta.

O empreendedorismo e a inovação sempre foram valores que inspiraram António Ferreira, aluno de Engenharia e Gestão Industrial. Assim, e quando confrontado com o anúncio destes estágios não teve dúvidas.  “A principal motivação para a minha candidatura ao estágio foi o facto de se tratar de uma experiência profissional internacional, numa instituição prestigiada e de renome como o EPO”, realça.  A experiência internacional associada ao estágio também influenciou a sua decisão, uma vez que como refere “tinha a ambição de mudar de país e de cultura, e emigrar para Munique foi imediatamente uma possibilidade que me cativou”.

Apesar de já ter ouvido falar de PI em algumas disciplinas do curso, António Ferreira reconhece que o seu conhecimento na área era reduzido, mas hoje declara com convicção que “a propriedade intelectual e a inovação são fatores cruciais que devem ser valorizados por todos os engenheiros, especialmente aqueles que estão em início de carreira”. “A inovação é um alicerce e desempenha um papel fundamental no paradigma europeu, tanto nas empresas, como nos centros de investigação, universidades, centros de transferência de tecnologia, startups, etc. pelo que é muito gratificante pertencer a um instituto que promove e cria inovação”, garante o aluno.  No decorrer do seu estágio, na European Patent Academy, tem tido oportunidade de “contactar com várias empresas inovadoras europeias, principalmente PMEs” e reitera o quão interessante é “aprender sobre o papel da propriedade intelectual no seu crescimento”.

Uma experiência que abre portas para o futuro

 Pela preparação concedida e por estarem inseridos numa equipa profissional disponível para os ajudar sempre que “surge qualquer dúvida”, os alumni acreditam que este é um desafio ao alcance de qualquer aluno da Escola. “Acredito que a melhor qualidade de qualquer aluno do Técnico é a capacidade para se adaptar e resolver problemas rapidamente”, vinca Alexandre Cuco, incentivando quem tenha interesse a aventurar-se sem medos. Hajrabibi Ali concorda plenamente: “não é preciso ter um conhecimento prévio, aprendemos tudo aqui. E há imensos departamentos por onde escolher. Variedade de backgrounds não falta!”. Se procuram uma experiência internacional e quiserem perceber como é trabalhar numa prestigiada instituição da UE, acho que é uma excelente oportunidade e não podia recomendar mais”, colmata a alumna.

Realizados com a experiência, os 4 jovens não descartam a possibilidade de investir numa carreira nesta área e nenhum tem dúvidas de como este estágio lhes abriu horizontes. “É uma possibilidade definitivamente em aberto, mas se tal não acontecer, os ensinamentos deste estágio vão-me acompanhar em qualquer posição que ocupar”, refere António Ferreira sobre a hipótese de seguir carreira nesta área. “Como engenheiro e gestor industrial, a aproximação e ligação à indústria será sempre um factor preponderante na minha carreira, e ter conhecimentos de propriedade intelectual será certamente uma mais valia no futuro”, adiciona. Também Inês Malpique acredita “que ter sido selecionada para este programa, numa instituição prestigiada como o EPO, me abrirá portas para um futuro profissional que eu possivelmente nunca iria ter explorado se não fosse por esta oportunidade”.

O papel do NPI na promoção deste programa e de outras atividades

O Pan European Seal resulta de um memorando de entendimento estabelecido entre o Instituto Superior Técnico, o EPO e o EUIPO. “O programa tem como finalidade capacitar alunos na área da Propriedade Industrial através da realização de estágios nas referidas instituições europeias”, realça Patrícia Lima, coordenadora do NPI, o núcleo responsável pela promoção do  Pan European Seal no Técnico. Patrícia Lima sublinha ainda “a grande adesão dos alunos que encontram na área da Propriedade Industrial mais uma alternativa como saída profissional”.

Além da promoção deste programa, o NPI gere todo o portefólio de Propriedade Intelectual do Técnico, fomentando a sua colocação no mercado. Cabe também a este Núcleo, integrado na Área de Transferência de Tecnologia, a responsabilidade de promover a divulgação da Propriedade Intelectual à comunidade académica, através de apresentações sobre o tema, em conjunto com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e outras entidades envolvidas nesta área.