“Dedicou-se ao estudo da termodinâmica de fluídos moleculares e das suas misturas, tendo publicado mais de 170 artigos em revistas internacionais e formado várias gerações de químicos em Portugal”. Este é um dos vários motivos por detrás da atribuição da medalha de mérito científico ao professor Jorge Calado, um dos mais icónicos docentes Técnico, e um dos 11 distinguidos com a medalha de mérito científico pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
A entrega das medalhas decorreu na abertura do Encontro Ciência 2019, esta segunda-feira, 8 de julho, no Centro de Congressos de Lisboa, porém o docente do Técnico não conseguiu estar presente. Umas horas depois e porque a honrosa distinção assim o exigia, questionamos o galardoado sobre como se sentia com a mesma. A resposta não podia ser mais autêntica: “Um amigo meu disse-me há vinte anos que as medalhas e condecorações não se usam nem se recusam. Estou completamente de acordo”.
O facto de o professor emérito do Técnico ter sido o primeiro químico a receber o Prémio Ferreira da Silva, o mais alto galardão da Sociedade Portuguesa de Química, e também vencedor do Prémio Universidade de Lisboa 2016 foram também destacados na entrega desta medalha. Além disso, e como é do domínio público o professor Jorge Calado tem “tido uma contribuição ímpar a nível internacional na promoção da cultura científica e da relação entre as Artes e as Ciências, designadamente através da música e da ópera e das suas múltiplas relações com o desenvolvimento científico ao longo dos últimos séculos”, e esse contributo não foi esquecido pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. “Na minha carreira, orgulho-me de três coisas, por esta ordem: obra científica publicada; o facto de ter conseguido ‘fazer escola’, com mais de duas dezenas antigos doutorandos hoje professores em universidades portuguesas e estrangeiras ou a trabalhar em grandes empresas e instituições internacionais; e ter contribuído para a divulgação da cultura científica em Portugal e lá fora, e de ter posto no mapa a importância das relações das ciências com as artes e teoria das ideias”, refere o professor Jorge Calado.
As medalhas de mérito científico são uma iniciativa instituída pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior que galardoa “individualidades nacionais que pelas elevadas qualidades profissionais e do cumprimento do dever se distinguiram pelo valioso e excecional contributo para o desenvolvimento da ciência ou da cultura científica em Portugal”. Além do professor Jorge Calado, foram premiados os cientistas Maria João Saraiva, António Firmino da Costa, Helena Santos, Luís Moniz Pereira, Cecília Leão, Manuel Nunes da Ponte e Deolinda Lima.
Nascido em Lisboa em 1938, o professor Jorge Calado licenciou-se em engenharia químico-industrial no Técnico, em 1961. Passou três anos na Universidade de Oxford, no Reino Unido, onde se doutorou em termodinâmica em 1970. Na mesma década, iniciou em Portugal um grupo na área da termodinâmica, na qual trilhou um notável caminho ao longo de várias décadas.
No Técnico ficou conhecido pelas suas aulas peculiares, muitas vezes dadas em jardins, nas quais contagiava os alunos com o seu gosto pela Química e Física, mas também com o seu conhecimento no domínio das artes. Foi esse mesmo conhecimento imenso e a versatilidade que o carateriza que o levaram a lecionar o curso sobre artes e ciências na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Além de tudo isto, o docente é crítico cultural do semanário Expresso, tendo no passado criado a Coleção Nacional de Fotografia para o Ministério da Cultura e sido consultor da Expo 98. Em 2012 publicou o livro aclamado Haja luz! Uma História da Química Através de Tudo (editado pela IST Press), onde mistura as suas duas paixões: arte e a ciência.