A professora Ana Paiva, docente do Departamento de Engenharia Informática (DEI) e investigadora do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e Desenvolvimento (INESC-ID) foi recentemente nomeada fellow do Radcliffe Institute for Advanced Study da Universidade de Harvard, juntando-se a um grupo impressionante e muito diverso, cujo trabalho abrangerá as ciências, as humanidades, as ciências sociais, e as artes.
Na qualidade de fellow “Katherine Hampson Bessell”, para o biénio de 2020-2021, a docente do Técnico terá oportunidade de prosseguir um projeto individual numa comunidade dedicada à exploração e investigação. Através desta fellowship, a professora Ana Paiva dedicar-se-á a investigar como projetar máquinas que apoiam a pró-socialidade nas sociedades.
“Fiquei incrédula e super entusiasmada por ter sido escolhida para integrar um grupo absolutamente fantástico de fellows neste ano de 2020-2021”, confessa a investigadora do INESC-ID. “Acho que é uma oportunidade enorme não só para mim, mas também para o meu grupo de investigação, pela experiência e ligações que se estabelecerão”, vinca a investigadora. Por outro lado, para a docente do Técnico esta fellowship tem inerente “uma grande responsabilidade” na medida que “os objetivos que me proponho a atingir são inovadores e claramente desafiantes explorando a interseção da informática, inteligência artificial e das ciências sociais ligadas ao comportamento humano, em particular, ligadas ao altruísmo”.
Sublinhando que este programa de fellowships “é único no mundo” e tenta reunir pessoas de várias áreas desde a literatura, às artes, à física, medicina, matemática, e até à informática, e não só, a professora Ana Paiva salienta que é este cruzamento de ideias e de experiências “que vai promover e motivar a criatividade levando a novas formas de perspetivar os problemas específicos de cada disciplina”. A fellowship opera normalmente de uma forma presencial, em Harvard, e os fellows trabalham juntos no instituto durante o seu ano académico. Este ano, e devido à pandemia, o programa irá começar de uma forma virtual, “podendo eventualmente, e de acordo com as recomendações da Universidade de Harvard, passar a residencial, quando tal for possível”, como refere a professora Ana Paiva.
Ainda que o seu projeto Radcliffe não esteja diretamente relacionado com a robótica social- área em que a investigadora do Técnico se tem especializado ao longo dos anos- não deixa de lhe estar associado ao combinar inteligência artificial com modelação social. “A essência do problema surge da visão de que no futuro as sociedades serão hibridas, compostas por humanos e máquinas inteligentes autónomas. Estas máquinas (agentes) terão capacidade de cooperar com os humanos dessa sociedade podendo mesmo influenciar e alterar o seu comportamento”, explica a professora Ana Paiva. Assim, e através do seu conhecimento, a docente estudará “o altruísmo tentando perceber como é que as máquinas poderão promover a cooperação e a pró-socialidade, neste novo universo híbrido de humanos e máquinas”, refere.
No comunicado enviado sobre o novo grupo de Fellowships, Tomiko Brown-Nagin, reitora do Radcliffe Institute for Advanced Study, destaca que esta equipa “reflete a nossa convicção de que o intercâmbio interdisciplinar e a exploração profunda que Radcliffe permite são extremamente importantes para Harvard e para o mundo em geral – especialmente em tempos como estes, em que temos de enfrentar desafios sem precedentes”. No mesmo comunicado pode ler-se: “os nossos bolseiros promoverão a compreensão humana nas ciências, nas ciências sociais e nas humanidades. O seu trabalho criativo irá mudar a forma como vemos o mundo”.
Entre os fellows que compõem a turma da professora Ana Paiva no Radcliffe Institute for Advanced Study estão, entre outros: um cartunista que desenvolve banda desenhada tendo como pano de fundo os cuidados de saúde; um astrónomo que interroga os mistérios da aceleração cósmica; um professor de política de saúde que tem como determinação reduzir a violência armada e um médico apaixonado pelo potencial das mulheres como agentes de paz. Esta diversidade de experiências e de conhecimentos do grupo torna este desafio ainda mais aliciante na ótica da docente do Técnico. “Acredito vivamente que também será muito enriquecedor”, frisa. “Penso que nós, engenheiros, por vezes nos esquecemos que as ciências sociais ou as artes podem ter um papel muito importante nos sistemas que construímos. Aprender sobre esta diversidade de pensamentos, disciplinas e métodos é algo que será certamente um desafio para mim no próximo ano, e espero que a minha investigação saia mais rica com esta experiência”, afirma.