Como reconhecimento do percurso, do trabalho de excelência e dos contributos incontornáveis na área da microbiologia, a professora Isabel Sá Correia é este ano uma das cientistas distinguidas pela Federation of European Microbiological Societies (FEMS). A docente do Departamento de Bioengenharia (DBE) e investigadora do Instituto de Bioengenharia e Biociências (iBB) é agraciada com o FEMS Special Merit Award 2022 juntamente com a microbiologista holandesa Dra. Elisabeth Bik, consultora em integridade científica.
“Estou, compreensivelmente, muito honrada e reconhecida por este Prémio de Especial Mérito atribuído pela FEMS”, confidencia a docente do Técnico. “Ele também me dá muita satisfação pois, durante mais de uma década, colaborei de modo muito próximo com a FEMS sentindo-me muito solidária com os seus objetivos”, acrescenta.
No comunicado de imprensa enviado pela FEMS que dá conta deste reconhecimento, é destacado o papel “central” da docente na Sociedade Portuguesa de Microbiologia (SPM) “durante muitos anos”, permitindo “que essa organização se ligasse e apoiasse microbiologistas em Portugal e no estrangeiro”. A professora Isabel Sá Correia liderou a sociedade entre 2009 e 2020 e reconhece que ao longo deste período “a interação da SPM com a FEMS foi alargada e consolidada”
Também não é esquecido pela FEMS o contributo da docente do Técnico na organização de “muitos encontros internacionais” no decorrer da sua longa carreira, “permitindo aos microbiologistas encontrar-se, trabalhar em rede e partilhar a investigação”. “Estas oportunidades são vitais para que a ciência floresça”, pode ler-se no documento.
Na origem deste reconhecimento, estão ainda os esforços e realizações da professora Isabel Sá Correia como Delegada da FEMS, membro do corpo editorial da revista FEMS Yeast Research e como “arquiteta” do Dia Internacional do Microrganismo.
Instituído em 2003, o prémio de Especial Mérito da FEMS procura recompensar aqueles que deram contribuições consideradas excecionais para a promoção dos objetivos da FEMS e da comunidade microbiológica em geral. Deste modo, o galardão reconhece e homenageia indivíduos que, altruisticamente, foram “acima e além” em termos de esforço e realizações de serviços extraordinários prestados à FEMS, sendo um reconhecimento público do apreço da federação.
Depois de se licenciar em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico, Isabel Sá Correia orientou a sua formação e atividade científica para a área de Ciências Biológicas, completando uma pós-graduação em Engenharia Biológica (Biologia Molecular) pela Universidade Nova de Lisboa em colaboração com os Estudos Avançados do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC). Em 1984 doutorou-se, como Fulbright Scholar, tendo realizado estudos de pós-doutoramento na Universidade de Illinois em Chicago, Medical Center, Chicago entre 1985 e 1986. Obteve a agregação pelo Técnico em Engenharia Química (Biotecnologia/Ciências Biológicas), em 1992.
Em 1975, era já professora assistente do Técnico e após ter completado o seu doutoramento tornar-se-ia professora auxiliar da Escola. Menos de uma década depois (1995) tomava posse como professora catedrática do Departamento de Engenharia Química (DEQ).
Iniciou no Técnico e coordena a área científica de Ciências Biológicas. Além de membro da direção do iBB, é coordenadora do grupo de Ciências Biológicas do iBB e do DBE e coordenadora do Programa de Doutoramento em Biotecnologia e Biociências. Acumula ainda as funções de membro do Conselho Geral da Universidade de Lisboa e da Assembleia de Escola do Técnico.
Tem presentemente um h-index 49 (Web of Science) e um Google Scholar h-index de 66, integrando as listas dos cientistas mais citados a nível mundial (Stanford University, 2020, 2021). A sua intensa atividade científica reflete-se no número de artigos de que é coautora – mais de 300. É também editora de 2 livros internacionais e de 3 números especiais para revistas internacionais, 2 livros de resumos de conferências, 26 capítulos de livros e 2 patentes.
Ao longo da sua carreira, a docente do DBE inspirou e foi mentora de centenas de graduados do Técnico, orientando 30 teses de doutoramento e 64 dissertações de mestrado. Muitos dos seus “filhos científicos” prosseguiram carreiras independentes em diversas escolas da Universidade portuguesa e em institutos de investigação nacionais e estrangeiros.
Coordenou a componente de Biologia Molecular da base de dados pública YEASTRACT/YEASTRACT+, uma ferramenta de bioinformática muito popular para a análise de regulação genética e genómica em leveduras. Publicou sequências de genomas de diversos microrganismos.
Do seu currículo constam inúmeros cargos relevantes, como o de vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Biotecnologia (1993 -2003), da qual é membro honorário, e diretora do Boletim de Biotecnologia (1993 – 2011). É também membro dos corpos editoriais das revistas Microbial Cell e OMICS: Journal Integrative Biology. Pertenceu também, entre 1997 e 2006, ao corpo editorial da revista da Sociedade Americana de Microbiologia, Applied and Environmental Microbiology.
A comunidade científica e académica não tem ficado indiferente a este percurso, e ao longo dos anos foram muitas as distinções que o foram reconhecendo, tais como: o Prémio Estímulo à Excelência (2004), Prémio Científico (Bioquímica) Universidade Técnica de Lisboa/Santander Totta (2009). Foi em 2015, eleita membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa. Em 2018, é a vez do Instituto Superior Técnico reconhecer o contributo excecional da docente, atribuindo-lhe o título de “Professora Distinta do Instituto Superior Técnico”. No final de 2021, a professora Isabel Sá Correia foi a vez da SPM distinguir a investigadora do iBB agraciando-a com o Prémio Professor Nicolau Van Uden.
Criada em 1974, a FEMS reúne 56 Sociedades científicas de Microbiologia membros de 41 países, entre elas a SPM e os seus principais objetivos são promover a microbiologia na Europa e no mundo através da investigação, networking, ensino e divulgação; e ajudar as Sociedades membro a servir a comunidade da microbiologia. “A FEMS é uma rede ativa e diversa que inclui 30.000 profissionais comprometidos com o avanço da microbiologia em prol da sociedade, nas áreas de saúde, energia, alimentação, materiais e meio ambiente”, destaca a professora Isabel Sá Correia.