O projeto Gender Balance do Técnico foi apresentado na Conferência do projeto europeu Systemic Action for Gender Equality (SAGE) que decorreu no ISCTE–IUL, a 3 de junho, onde foi elogiado pelos diversos participantes.
A professora Helena Geirinhas, responsável pelo grupo de trabalho que promove as questões do Gender Balance no Técnico, começou por explicar, na sua apresentação durante a Conferência, que a preocupação com a questão da igualdade de género foi reforçada pelo facto de “surgirem estudos que demonstram que as organizações de topo que promovem a diversidade nas suas equipas têm melhores resultados”. O trabalho iniciou-se com um diagnóstico da realidade da diversidade de género no Técnico onde se concluiu que havia muito a fazer.
Um dos objetivos prioritários do grupo Gender Balance é alargar o universo de recrutamento “aumentando a percentagem de candidatas que entram no Técnico: alunas, funcionárias, investigadoras e professoras”, explicou Helena Geirinhas. O número das alunas tem vindo a crescer desde 2014, ano em que se começaram a implementar medidas para promover a diversidade. Mas há ainda um longo caminho a percorrer porque existem apenas 28% de alunas entre os matriculados e há cursos como Engenharia Informática e de Computadores que têm apenas 12% de alunas. “Já atraímos os melhores alunos e queremos atrair também as melhores alunas”, sublinhou Helena Geirinhas.
O projeto “Engenheiras por um dia” é uma das iniciativas promovidas para mostrar nas escolas secundárias que a engenharia também é uma profissão de mulheres. Um projeto que deverá ser alargado ao projeto “Girls@Técnico” que prevê a realização de “um workshop de uma semana para alunas do 8º e 9º ano para promover a engenharia e tecnologia desconstruindo a ideia de que estas são domínios masculinos”.
Outra das linhas de ação é promover a chegada de mais mulheres ao topo da carreira no Técnico porque a percentagem de mulheres “decresce consideravelmente a cada nível de progressão”, acrescentou. Por exemplo há departamentos onde “numa equipa de cem professores, só existem duas catedráticas, o que não é normal”, sublinhou a responsável pelo grupo de Gender Balance.
Os números revelam que há 24,5% de mulheres docentes no Técnico, mas só 16% chegam a professoras catedráticas. Para ultrapassar este desequilíbrio há que “eliminar os entraves associados à promoção aos lugares mais elevados da hierarquia” e “tornar o IST mais amigo das mulheres”.
Um dos exemplos de medidas aprovadas é a implementação de bolsas para de dispensa de serviço docente, uma ação inédita nas universidades portuguesas, que prevê uma dispensa de dar aulas durante seis meses após o gozo da licença de parentalidade, para que os docentes possam continuar a sua investigação.
A atribuição do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo, que já está na sua 3.ª edição, é uma forma de distinguir exemplos de engenheiras que se destacaram na sua carreira ou no seu percurso académico O prémio destina-se a galardoar duas mulheres formadas pelo Técnico: uma antiga aluna que carreira estabelecida e percurso excecional e uma recém graduada já com provas dadas. Outra das iniciativas são as alumni talks que permitem às atuais alunas conversar com alumni com percursos de sucesso. Há também o ciclo de conferências “Women in Science and Engineering” que pretende reforçar o Empowerment da comunidade IST através da divulgação de casos de sucesso de mulheres empreendedoras.
O Técnico foi também a primeira instituição de ensino superior a integrar o iGen – Fórum das Organizações para a Igualdade, com mais de 60 organizações que se comprometem a implementar medidas de promoção da igualdade de género.
Durante a Conferência SAGE, coordenada por Lígia Amâncio, foram apresentados diversos projetos de promoção da igualdade de género nas universidades portuguesas.
Na sessão de abertura, Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior sublinhou que existem poucas dirigentes mulheres nas instituições de ensino superior. “Nos próximos anos será iniciado um processo de recrutamento e desenvolvimento de carreira que será uma oportunidade única para que a questão da diversidade de Género seja tratada. Porque não há mérito que resista se a carreira de professor catedrático tem apenas 20% de mulheres”, sublinhou o governante.
Apenas 13% das instituições de ensino superior em Portugal são lideradas por mulheres, que continuam a enfrentar barreiras no acesso aos cargos de maior prestígio das universidades e politécnicos, revela um estudo divulgado na semana passada.
Há já alguns anos que as mulheres representam a maioria dos doutorados, mas depois continuam a ter grandes dificuldades em aceder aos cargos de maior prestígio, segundo o estudo que analisou o universo de professores que trabalha nas universidades e institutos politécnicos.
A identificação das disparidades foi feita pelo projeto europeu SAGE – Systemic Action for Gender, financiado pelo programa Horizonte 2020, que contou com a participação do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.
O estudo põe a descoberto os obstáculos à ascensão na carreira académica e a dificuldade em serem nomeadas ou eleitas para cargos de liderança na academia.
Nas 15 universidades que integram o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e nas 15 instituições do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), são quase sempre os homens quem decide.
As exceções são o ISCTE-IUL, a Universidade de Évora, a Universidade Católica e o Instituto Politécnico do Cávado e do Ave.
Estas diferenças não encontram reflexo no número de docentes do ensino superior, que é quase paritário entre ambos os sexos: 45% são mulheres e 55% são homens, segundo dados de 2017.
Apesar de o número de docentes no ensino superior português ser quase igual entre ambos os sexos, apenas um em cada quatro professores catedráticos é do sexo feminino.
A prevalência dos homens também é marcante na categoria de professores associados, já que apenas um em cada três é mulher.
As desigualdades não são um problema exclusivo de Portugal. Em toda a Europa há mais mulheres doutoradas do que homens e eles continuam a ocupar a maioria dos lugares de maior estatuto académico.
No encerramento da sessão, Rosa Monteiro, Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, anunciou que está a ser estudada a hipótese de considerar o critério da Diversidade de Género na Avaliação que é feita pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES).