O consumo exagerado de energia, com consequências graves para o ambiente e finanças, é o que motiva Ricardo Gomes, investigador doutorado em Sistemas Sustentáveis de Energia, a estudar soluções que permitem efetuar a modelação energética de áreas urbanas.
Ser jogador de futebol foi um sonho que Ricardo Gomes deixou na meninice, para, na vida adulta, encarar os desafios de investigador especialista em modelação energética de edifícios. Formou-se em Engenharia do Ambiente e começou logo a trabalhar como investigador na área de simulação de edifícios. Foi ali que Ricardo desenvolveu o seu interesse pela vertente dos edifícios sustentáveis. Motivado para obter competências técnicas e práticas na área, decidiu inscrever-se no Doutoramento em Sistemas Sustentáveis de Energia do Instituto Superior Técnico e desenvolveu a sua atividade no campus do Taguspark de 2014 a 2019.
“O meu doutoramento correu muito bem, porque na altura tínhamos uma equipa muito grande, que era o MIT Portugal, era muito giro, tínhamos colegas de diferentes áreas, as instalações são top, tem vista para mar, gostei mesmo muito de ter feito aqui o meu doutoramento”, declara.
Uma experiência que, segundo conta, vai levar para vida, não só pelas aprendizagens, mas também pela convivência que teve com os colegas e professores. Entretanto, o que o recém-doutorado não imaginava é que a sua estada no Técnico ia perdurar além dos estudos.
De estudante, Ricardo Gomes passou a investigador da unidade de investigação IN+ (Centro de Estudos em Inovação, Tecnologia e Políticas de Desenvolvimento do Instituto Superior Técnico), onde, atualmente, participa no projeto C-TECH, desenvolvendo uma plataforma digital para reduzir o consumo de energia nos edifícios.
“Eu faço modelação de áreas urbanas. Recolho informações sobre os edifícios que estão numa determinada área, sobre como é que esses edifícios foram construídos, que soluções construtivas têm, que pessoas ocupam os edifícios, ou seja, padrões de ocupação, se são pessoas com mais idade, se são pessoas novas. Recolho informações sobre a tipologia do edifício, se é uma escola, uma universidade, se é uma indústria, se é um comércio… e toda essa caracterização vai ter implicações no consumo do edifício”, explica.
Com os dados recolhidos, o investigador faz a avaliação de consumo e estuda as possíveis medidas que podem resultar na redução do consumo de energia, “seja em termos de implementação de energia renováveis, seja melhorar a área envolvente dos edifícios, através de isolamentos, paredes, painéis solares, janelas mais eficientes. E analiso, através dos modelos, quanto é que consumimos a menos e quantas emissões CO2 evitamos. Daí o sistema sustentável de energia”, descreve.
Em Portugal, os edifícios representam cerca de 30% do consumo de energia. O trabalho do investigador Ricardo consiste em apresentar soluções que, dependendo de padrões de edifícios, poderá reduzir o consumo entre 30 a 40%.
“Nós temos as metas para cumprir, temos que atingir a neutralidade carbónica em 2050, por isso, é muito importante que os edifícios tenham o menor consumo possível de energia, ou zero consumo. O objetivo é ter consumo zero nos edifícios novos, ou seja, os edifícios a produzirem a sua própria energia e não consumir nada na rede. E nós contribuímos para isso”.
Um contributo que dá a Ricardo Gomes muito prazer, seja a nível profissional, seja a nível pessoal, uma vez que está a contribuir para reduzir a pegada ambiental na cidade que o viu nascer, Lisboa.
“Uma grande parte dos edifícios em Lisboa é de construção anterior aos anos 80, e há ainda edifícios mais antigos. A legislação que obriga a colocar isolamentos nas paredes e a ter mais cuidado com os edifícios em termos de construção é posterior à década de 80. Assim sendo, há uma grande necessidade de reabilitação, e de uma reabilitação em que faz sentido reduzir os consumos”, explica.
Entretanto, para o futuro, o investigador pretende ir ainda mais longe, mas sem fugir da área de sistema sustentáveis de energia: “A longo prazo gostava de estudar as áreas ligadas à pobreza energética. Para ajudar as pessoas com menos posses, no sentido de terem uma melhor qualidade de vida dentro dos edifícios, acho que há ainda muito por fazer em Portugal”, ressalta.
Quando não está a fazer ciência, o jovem investigador de 38 anos gosta de estar com a família e os amigos. Gosta de fazer desporto e de ler. Dos livros que já leu, Ricardo não hesita em indicar a obra “Comportamento” do cientista e escritor americano Robert Sapolsky, como a obra, que sem dúvida, mais marcas deixou.
“Gosto muito deste livro porque nos ensina a ser melhores pessoas de uma forma científica. E isso é engraçado. É ser mais tolerante com as diferenças, e perceber que nós não somos assim tão diferentes uns dos outros”, defende.
Na perspetiva de Ricardo, é igualmente importante que os investigadores estejam abertos para partilhar o conhecimento adquirido, e para isso recomenda que se aproveitem as ferramentas e mecanismos de comunicação, cada vez mais disponíveis, para ajudar os investigadores a passar a sua mensagem.
“Há cada vez mais programas de carácter científico, mais podcasts, mais cursos online, há cada vez mais ferramentas que permitem que o investigador não se isole e que seu trabalho seja ser comunicado de forma eficaz. Por exemplo, eu na semana passada fiz o “90 Segundos Ciência”, tive essa sorte.”, conclui.