Campus e Comunidade

Rogério Colaço regressou (38 anos depois) à sua Escola Secundária para dar uma aula

A Escola Secundária de Azambuja recebeu o atual presidente do Técnico, Rogério Colaço, que cumpriu “o sonho” de regressar à sua casa para dar uma aula sobre nanotecnologia.

Nos corredores e espaços comuns de recreio da Escola Secundária de Azambuja soam as campainhas. É o primeiro aviso para todos os estudantes de que é tempo de ir para as salas de aula. Num desses corredores está Rogério Colaço, atual presidente do Instituto Superior Técnico e antigo estudante da Escola, que viaja tantos anos nas suas memórias até ter idade e tamanho para conseguir passar, sem se baixar, por baixo de umas escadas que acaba de rever. O tempo passou. Cresceu. 38 anos depois de concluir o ensino secundário, volta à sua Escola para dar uma aula diferente aos atuais estudantes de ciências e tecnologias (e seus professores) sobre Nanotecnologia, cruzando o tema com o ChatGPT. O convite partiu de uma antiga colega de secundário e atual professora de Física e Química na Escola, Paula Almeida . “Lembro-me de [quando terminou o ensino secundário] ter pensado um dia gostava de voltar aqui e falar daquilo que eu aprenderia fora daqui”, recorda Rogério Colaço. Esse dia chegou: a 3 de dezembro de 2024 o auditório da Escola encheu-se para o ouvir partilhar o que faz enquanto professor e investigador do Técnico e testemunhar como aplica o que considera ser a principal missão de um professor: “inspirar as pessoas a gostarem de fazer qualquer coisa e a irem um bocadinho além daquilo que têm à sua volta”. Durante a aula, o foco foi posto nas diferenças tecnológicas entre o mundo de 1986 e o de 2024, em particular numa verdadeira revolução testemunhada por Rogério Colaço: o primeiro computador que utilizou na faculdade “pesava uma tonelada e tinha menos capacidade de memória que os telemóveis que hoje em dia temos nos nossos bolsos”. “Em 40 anos, um sistema tecnológico diminuiu 10 mil vezes de tamanho e aumentou mil vezes de memória”, aprofundou. A viagem científica começou com a frase do Richard Feynman “Há muito espaço lá em baixo”, que resumia a nanotecnologia como nova área de saber.

 

Quinto da esquerda para a direita: Rogério Colaço; Quarta da esquerda para a direita: Paula Almeida.

Nessa manhã, no percurso entre Lisboa e Azambuja, Rogério Colaço foi também ao fundo das memórias pessoais [ver entrevista a seguir a este artigo]: a quinta sem eletricidade onde cresceu, o mundo rural de brincadeiras infinitas, a pesca no Tejo, os jogos de snooker no café O Cortiço e o seu dia-a-dia nesta escola, que incluía “ir às aulas da manhã e depois jogar uma boa futebolada” (também inclui uma mancha que fez enquanto guarda-redes que terminou numa ida ao hospital e chegada a casa de ambulância). Mas também as razões que o levaram a ser um bom aluno: “o que correu bem comigo, e essa é a primeira grande diferença, foi que gostava de ir para a escola”. Mas havia mais: “Um corpo docente muito jovem, de grande qualidade, pessoas que se tinham formado no pós 25 de Abril e que traziam o sonho de ensinar os miúdos da altura com ferramentas de ensino diferentes, de os expor à cultura, à arte, à ciência de uma forma diferente”.
Hoje, nos corredores da escola, a agitação é grande com a visita e os elogios são retribuídos. “Vou falar de si na reunião de Câmara [para onde se dirigia] como uma pessoa que nos orgulha”, partilhou José Paulo Pereira, professor na Escola, antigo estudante do Técnico e atual vereador da Câmara Municipal de Azambuja. “É um privilégio ter hoje connosco pessoas que são ouvidas no mundo inteiro, recebidas com honras em faculdades do mundo inteiro, pessoas que fazem a diferença e podem também mudar a vossa vida com as pistas que vos mandam”, declarava a diretora da Escola, Madalena Tavares, antes do início da aula, identificando Rogério Colaço como “um filho desta casa”. Com efeito, tanto na Escola como nas ruas de Azambuja, o presidente do Técnico sente-se verdadeiramente em casa. Na vila, ainda encontra muitas pessoas que o conhecem “desde miúdo”. “Conhecem os meus pais, os meus avós, que eram pessoas daqui, tratam-me como sempre me trataram. É sempre bom termos um sítio onde quando lá voltamos somos a mesma pessoa que sempre fomos”, conta. Quanto às escolas “são casas nossas que nos marcam para toda a vida”, define. O regresso à Escola Secundária de Azambuja terminou com um aplauso geral dos estudantes, alguns deles filhos de antigos colegas de escola de Rogério Colaço, e com um sentimento de dever cumprido, depois de 1h30 de aula. “Demorei 38 anos a cumprir este sonho. Cumpriu-se hoje”.

“A principal missão do professor é inspirar as pessoas a irem um bocadinho além daquilo que têm à sua volta”

Entrevista completa com Rogério Colaço (gravada durante a viagem entre Lisboa e Azambuja, a caminho da Escola Secundária de Azambuja)


Estamos com o presidente do Instituto Superior Técnico, professor Rogério Colaço, a caminho de Azambuja. O que é que vamos lá fazer?
Rogério Colaço (RC): Recebi um convite dos professores da escola onde fiz o meu ensino secundário todo para ir dar la uma palestra, falar aos alunos e, dessa forma, estou a regressar à Azambuja 38 anos depois de ter lá saído como estudante do secundário.

E o que significa para si este regresso? Já regressou nestas condições?
RC:  Nestas condições é a primeira vez que regresso. Há alguns anos, talvez 10 ou 15, quando começou a haver as redes sociais e as pessoas se voltaram a encontrar, houve um almoço de antigos alunos da Escola de Azambuja, em que eu estive, mas foi num contexto completamente diferente, foi um convívio. Portanto, o que me pediram e para que me convidaram agora foi regressar e falar aos estudantes atuais do ensino secundário sobre aquilo que eu faço enquanto professor e investigador. E é isso que eu vou fazer.
Lembro-me, agora que penso nisso, que quando saí da Escola de Azambuja e entrei para o Técnico – eu saí da Escola de Azambuja e fui logo para o Técnico em 1986 – de ter pensado “um dia gostava de voltar aqui e falar daquilo que eu aprendi fora daqui”.

Que memórias tem da sua Escola?
RC: A Escola Secundária de Azambuja, nos anos 80, era um sítio muito especial. As memórias da vivência de todas as pessoas que por lá passaram, e das pessoas que, entretanto, tenho encontrado, são todas muito gratificantes. Eu entrei na Escola em 1980, saí em 86, e aqueles anos 80 foram, para os estudantes de lá, anos absolutamente transformadores.
Havia um corpo docente muito jovem, de grande qualidade, pessoas que se tinham formado no pós 25 de Abril e que traziam o sonho de ensinar os miúdos da altura com ferramentas de ensino diferentes, de os expor à cultura, à arte, à ciência de uma forma diferente. Havia muitas iniciativas, havia os concursos de poesia, havia as matinés com a célebre música dos anos 80, havia olimpíadas de matemática e ao mesmo tempo havia uma envolvência muito grande na política.

Eram os tempos a seguir ao 25 de Abril, havia ainda alguns resquícios do 25 de Novembro, do PREC [acrónimo para Processo Revolucionário em Curso]. Havia claramente na escola dividida entre as pessoas que eram mais à esquerda, as pessoas que eram mais à direita e todo esse melting pot era muito enriquecedor para quem por lá passou. E as memórias da Escola Secundária de Azambuja são muito gratificantes para todos os antigos alunos, pelo menos nesse período.

E como é que o Técnico entrou aqui? Houve, na altura, algum presidente ou professor do Técnico para visitar a escola?
RC: Não, não. O Técnico entrou aqui porque eu tinha um grande amigo que é um ano mais velho do que eu e que andava no Colégio Militar. E esse amigo convenceu-me a ser engenheiro. Ele queria ser engenheiro, entrou no Técnico um ano antes de mim, em 1985 e, portanto, nós fizemos assim uma espécie de pacto, de acordo, que íamos ser engenheiros e íamos para o Técnico e, pronto, fomos os dois. E essa é a razão da minha [escolha]. Às vezes as escolhas profissionais e as escolhas que marcam a vida toda das pessoas, sobretudo porque as pessoas quando escolhem são muito jovens ainda, não são feitas assim com grande convicção e com grande profundidade, é uma coisa tão simples como há um amigo que vai, diz que vai ser interessante, isto talvez seja giro, vamos lá experimentar e pronto, e cá estou eu há umas décadas boas depois disso, com esta escolha feita, e é aquilo que tem sido a minha vida.

Mas na escola secundária já tinha alguma inclinação para essas áreas? O que guarda assim mais inspirador desta escola?
RC: Eu vou falar um bocadinho da Escola de Azambuja e vou aproveitar também da Escola de Azambuja como exemplo de outras escolas. Eu acho que a fase do ensino secundário, e até um bocadinho antes do ensino secundário, ali o 7.º, 8.º e 9.º anos, são muito transformadoras na abordagem que as pessoas e que as pessoas mais jovens fazem ao seu percurso formativo, e as coisas em geral não correm assim-assim: ou correm bem ou correm mal. O correr bem, e isso foi o que aconteceu comigo e com muitos amigos e colegas meus que passaram pela Escola Secundária de Azambuja, mas com certeza esta experiência acontece em muitas outras escolas, o que correu bem comigo e essa é a primeira grande diferença, era gostar de ir para a escola. Se calhar por outras coisas que não o ir aprender, mas o gostar de ir para a escola é o primeiro salto entre as coisas correrem bem no percurso formativo e correrem menos bem. E eu lembro-me, muitas vezes, quando tinha 14 ou 15 anos, de me deitar a pensar ‘tomara que a noite passe depressa para amanhã ir para escola, para brincar, jogar, estar com os meus amigos, fazer projetos, e para aprender também’.
A Escola de Azambuja, funcionava muito bem. Era um sítio muito acolhedor, era uma segunda casa, e era um sítio onde havia um projeto pedagógico bem pensado, bem estruturado, com professores muito jovens e muito empenhados, e isso foi muito diferenciador para todos nós.

Eu sempre fui um aluno bastante bom e entre as matérias que de facto gostava mais, as minhas preferidas eram Física, Matemática e Química e, portanto, o percurso acabou por ser um bocadinho natural. No Secundário, escolhi a área científica e tinha amigos que me alertaram para o Técnico, para aquilo que era a formação do Técnico e foi essa a minha escolha.

Como é que era o estudante Rogério Colaço nessa altura? Como é que um dia normal do estudante do secundário?
RC: Eu devo dizer que tive alguma sorte, porque nasci, e não fiz nada por isso, foi um acaso, com uma memória visual bastante boa. E o que é que isso quer dizer? Quer dizer que eu até vir para o Técnico, de facto, não precisava de estudar muito, portanto tinha alguma capacidade de memorizar as coisas e depois de raciocínio analítico e isso ajudava-me bastante, porque eu devo dizer que o estudante Rogério Colaço, até aos 17 anos, não gostava muito de estudar. Estudar não era das coisas mais atrativas que havia na vida para fazer. Portanto, um dia normal no estudante Rogério Colaço passava por chegar à escola, ir às aulas da manhã, depois jogar uma boa futebolada, ir à cantina comer qualquer coisa, quando ia, a comida não era uma coisa particularmente importante para mim e para os meus amigos, depois passávamos a tarde num sítio que eu penso que ainda existe, no café “O Cortiço”, que era à frente da escola. A fazer o quê? Os célebres campeonatos de snooker – era também um clássico dos anos 80. Depois convivia-se um bocadinho com os amigos e amigas, ao fim de semana havia aqui perto, em Vila Franca de Xira e no Carregado, duas discotecas que nós gostávamos muito, que tinham matinés, isto enquanto tínhamos 15 ou 16 anos, antes de podermos ir às discotecas mesmo a sério, e ao fim de semana o pessoal encontrava-se nas matinés do “Dó-Ré-Mi” e da “UDC”( União Desportiva Carregadense) e essencialmente era isso.

Voltando ao percurso que estamos a fazer [entrevista gravada na viagem na A1 entre Lisboa e Azambuja]… é um percurso que ainda faz muitas vezes? Ainda tem muitas ligações aqui nesta região?
RC: Tenho muitas ligações, a minha mãe ainda vive na casa dela, onde eu vivia quando estudava em Azambuja. Venho aqui muitas vezes, quase todos os fins de semana e às vezes durante a semana, venho aqui perto muitas vezes onde eu morava que não é em Azambuja, mas é aqui no concelho de Alenquer. Mantenho alguns amigos com uma relação bastante profunda que são daqui. Muitos deles já não estão aqui, houve uma quantidade de pessoas relativamente grande da minha geração que (e)migraram, para fora ou para Lisboa, essencialmente, mas que mantêm alguma relação. Encontramo-nos às vezes, no Verão.
Há uma altura aqui, que é uma altura de encontro muito típica para muitos de nós, que é a Feira de Maio de Azambuja, uma feira muito típica aqui desta zona do Ribatejo. Portanto, a resposta é sim, mantenho algumas ligações, apesar das vidas das pessoas entretanto se ter diversificado muito e se terem, digamos, afastado um bocadinho em muitos casos aqui do centro de Azambuja. Curiosamente, quem me convidou para vir aqui é uma antiga colega de turma minha aqui na Escola de Azambuja, a Paula Almeida, que hoje é cá professora e que há uns tempos me lançou o desafio para vir falar aos estudantes.

 

Rogério Colaço com a ex-colega de turma e atual professora de Física e Química na Escola, antes do início da aula.

Também participava nas largadas de touros e nesse tipo de eventos?
RC: Também, também, cheguei a levar uma cornada de um touro aqui nas costas, que ainda hoje me dói (riso). As largadas de touros duravam três dias. São três dias de festa e era um momento fantástico para a miudagem toda. Para aqueles que eram mais novos, devido à festa, era o momento em que as pessoas podiam ficar até mais tarde. Havia pessoas que faziam diretas: a largada de sexta feira acaba mais tarde, depois há as tasquinhas e o pessoal ia ficando. Aquilo era a desculpa perfeita, porque os pais também participavam e também estavam lá, para se fazer uma noitada grande, com os toiros, a conviver e depois pelas tasquinhas, pela feira de Azambuja, era de facto um momento que marca muito esta geração daqui, nos anos 80, e eu penso que ainda hoje marca. Quando vamos aqui à Feira de Maio de Azambuja, há muita gente jovem também aqui a conviver e a festejar.

Ainda continua a vir à Feira?
RC: Ainda continuo, não venho todos os anos, mas venho muitos anos, sobretudo quando combinamos com amigos.

O que é que sente na relação com as pessoas de cá? Há uma história de ter sido reconhecido há pouco tempo, porque foi visto numa entrevista, de ter sido abordado na rua, isso é verdade?
RC: Sim, sim, há várias pessoas que me tinham perdido o rasto que de vez em quando me veem em entrevistas ou nos media e que me voltam a contactar. E as abordagens na rua, quer dizer, são um bocadinho mais frequentes. O facto de ser presidente do Técnico dá alguma visibilidade à minha imagem, as pessoas acabam por me reconhecer e algumas, curiosamente, por associar a minha imagem hoje à minha imagem de há 40 anos, que é um bocadinho diferente e tratam da mesma maneira [como tratavam há 40 anos].
Quando nós saímos de um sítio que é a nossa terra, o sítio onde nós crescemos, quando lá regressamos somos tratados como sempre fomos, como filhos da terra, como pessoas da terra. E isso é muito reconfortante. Quer dizer, é sempre bom termos um sítio onde quando lá voltamos somos a mesma pessoa que sempre fomos. À medida que vamos ficando mais velhos, as pessoas mais velhas vão desaparecendo e vão sendo menos frequentes, mas ainda encontro muitas pessoas que me conhecem desde miúdo, conhecem os meus pais, os meus avós, que eram pessoas daqui e que me tratam como sempre me trataram. Às vezes perguntam-me como é que vão as coisas, tentam perceber melhor o que é que eu faço. Mas aqui é a minha casa, é esta região.

Ainda há aqui muitos sítios que têm essa capacidade de ser esse espaço seguro da memória?
RC: Há, apesar da região ter mudado muito. O meu avô, tinha uma quinta aqui perto nesta zona, no concelho de Alenquer, mas no concelho de Alenquer na parte que encosta com o concelho de Azambuja. Por isso é que eu andei nas escolas secundárias entre Alenquer e Azambuja, portanto comecei o ciclo em Alenquer e depois mudei de casa. Os meus pais construíram uma casa nova que era mais perto do concelho de Azambuja e era mais fácil fazer o secundário em termos de transporte.
De qualquer forma, aqui nesta zona de Alenquer, Azambuja e Carregado, a minha família era bastante conhecida. Como disse, o meu avô tinha uma quinta, era muito conhecido aqui nesta região e ainda há muitas pessoas dessa altura que se lembram de mim pequeno e que muitas vezes me levaram à escola, porque havia também o apoio dos pais, os transportes aqui eram mais difíceis. Naquela altura havia grupos de pais que levavam os miúdos à escola, traziam uns, levavam outros. Ainda existem muitas pessoas dessas e às vezes, muitas vezes que encontram a minha mãe e dizem-lhe: ‘Ah, vi o seu filho não sei onde’. Há essa familiaridade, essa proximidade.

Pensa no potencial que de inspiração que a sua história pode ter nos mais jovens? Haver alguém que poderá ouvir esta apresentação e inspirar-se para a sua vida e quem sabe tornar-se, por exemplo, presidente do Técnico no futuro?
RC: Isso talvez seja demasiado ambicioso e eu não sou uma pessoa muito ambiciosa relativamente ao impacto que tenho nas outras pessoas. Dito isto, das muitas coisas que fiz na minha vida, aquelas que talvez eu tivesse gostado e continuo a gostar mais de fazer, aquela que verdadeiramente me encheu as medidas, é de ensinar.
O papel do professor não é agora, nem nunca foi, essencialmente o de transmitir conhecimento, porque o conhecimento desde há muitos anos que existe em livros ou noutros suportes, e agora existem muitos outros suportes e muitas outras formas. Portanto, o papel do professor é essencialmente duplo: estruturar o conhecimento e ser fonte de inspiração. Ou seja, todas as aulas começam com uma pergunta implícita a que o professor responde, que é “Hoje, o que vamos fazer é isto”, e sem quem responda a essa pergunta implícita é difícil começar a conhecer ou a aprender qualquer coisa. O professor tem o papel de estruturar esse conhecimento. E, depois, tem o outro papel, que para mim é o mais importante, que é o de inspirar os estudantes que estão à sua frente, sobre aquela matéria ou sobre qualquer outra coisa.
Voltando à Escola de Azambuja, apesar de eu ser um estudante de ciências, o professor que mais me inspirou a mim e a muitas outras pessoas da minha geração, de ciências e de letras, foi um professor de filosofia, que já faleceu, o professor José Luís Marques, que era uma pessoa absolutamente transformadora. Ele falava àqueles miúdos que viviam aqui coisas que eles não conheciam e vir a podiam conhecer, quer pensamentos políticos ou filosóficos, quer sejam viagens, quer fosse música, quer fosse discutirmos quem nós éramos, quem queríamos ser, qual era o nosso papel no mundo em que vivíamos. Reparem, nos anos 80 não havia a facilidade de saber como é que é viver em Tóquio ou um país e numa cultura distante, portanto a informação era muito mais contida e era muito menos acessível para todos. E o José Luis Marques de facto tinha essa capacidade de nos inspirar a pensar, a querer conhecer, a querer saber mais. E isso é o que eu acho que, de facto, é a principal missão do professor: inspirar as pessoas a gostarem de fazer qualquer coisa, inspirar as pessoas a irem um bocadinho além daquilo que têm à sua volta.

Que mensagem gostava de deixar a estes jovens?
RC: Hoje, pediram-me para falar daquilo que tem sido uma das minhas áreas de investigação nos últimos 20 anos, que são nanotecnologias e materiais nanoestruturados e como é que isso nos levou ao momento em que vivemos com a democratização do acesso à inteligência artificial. Tudo isso em menos de 40 anos. Irei falar para uma audiência de estudantes do secundário e irei tentar fazer com que dois ou três deles, se forem mais melhor ainda, considerem isto interessante e uma possibilidade para aprofundar os seus conhecimentos no futuro. É essa a minha missão hoje aqui em Azambuja.

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