Em vez das tradicionais bancas no espaço da Feira Internacional de Lisboa (FIL), as startups presentes nesta edição da Web Summit fazem-se conhecer através de páginas online, apresentações virtuais e demonstrações dos seus produtos. Entre talks, conferências, masterclasses, reuniões com potenciais investidores ou clientes, e os encontros no “Mingle” que lhes permitem expandir a rede de contactos, é difícil encontrar um espaço nas agendas destes batalhadores. Ainda assim, conseguimos falar com 5 empreendedores do Técnico que cativaram atenções com as suas ideias e vontade de vencer.
Elizabeth Cruz e Miguel Ventura, antigos alunos do Técnico, disponibilizaram-se prontamente a apresentar-nos a GORODATA, uma plataforma alimentada por Inteligência Artificial que congrega informação empresarial crucial. Os dois empreendedores conheceram-se nos corredores do Técnico, e nem imaginavam que um dia mais tarde haveriam de se tornar parceiros nesta aventura pelo mundo do empreendedorismo.
“A ideia por detrás da GORODATA foi surgindo nos últimos anos, em que estivemos ambos muito ligados à área da Inteligência Artificial e Data Science e vimos uma grande oportunidade no que diz respeito a encontrar dados não estruturados e transformá-los em informação estruturada”, explica Elizabeth Cruz. “Nós selecionamos aquilo que é relevante e congregamos os dados num formato resumido porque no fim do dia o recurso mais precioso das pessoas é tempo, e nós ajudamos na aquisição da informação necessária em menos tempo”, complementa Miguel Ventura.
A startup com o mesmo nome da plataforma foi apenas registada em maio deste ano, e só há dois meses a equipa avançou com a abordagem ao mercado. “Até agora a recetividade tem sido bastante boa”, partilha Elizabeth Cruz. A participação na Web Summit é parte da estratégia de lançamento da empresa, e além de clientes, os dois antigos alunos estão também à procura de investimento.
A antiga aluna partilha que já estivera em edições anteriores da cimeira tecnológica a representar outras empresas, e confessa que esta edição virtual lhe parece abrir mais janelas de conexão. “É tudo mais fácil, é só explorar, conectar, fazer um chat e o contacto fica mais facilitado”, refere. “Claro que não tem aquele ambiente de Web Summit, com a quantidade de pessoas e versatilidade que estamos habituados, mas a nível de contactos penso que funciona bem, pelo menos para nós está a correr muito bem”, adiciona.
A cofundadora da GORODATA sabia que mais cedo ou mais tarde o seu caminho passaria pelo empreendedorismo: “sempre tive muitas ideias de negócio, cheguei a montar um pequeno negócio de venda de livros usados quando era mais nova”, recorda. Já o seu parceiro de negócio sente-se atraído por “resolver problemas interessantes, não me faz grande diferença estar a resolvê-los numa coisa onde tenho mais ou menos participação”, sublinha Miguel Ventura. À imagem de um típico engenheiro do Técnico não consegue dizer que não a um bom problema, especialmente se a solução para os mesmos tiver como bónus a criação de valor para a sociedade. No desafio de criar e fazer crescer a GORODATA, encontrou tudo isto.
Utopia-on : uma Fintech que promete dar que poupar
Adriano Júnior é aluno do curso de Engenharia Civil no Técnico e fundador da Utopia-on. Colocou o curso em stand-by para perseguir uma ideia que tinha em mente há algum tempo e que lhe parece ter muito potencial no mercado nacional. Natural de Moçambique, veio para Portugal estudar e quando em 2015 o seu país natal entrou numa em crise começou a perceber o valor da literacia financeira. Percebendo que ele próprio não tinha grandes conhecimentos na área, começou a estudar sobre a matéria. Partindo do seu próprio exemplo e ao perceber que são muitos os que desconhecem a importância deste tópico, o aluno do Técnico decidiu avançar, há cerca de um ano, com o projeto da Utopia-on.
“Na nossa empresa tentámos ajudar as pessoas a fazer um melhor uso do seu dinheiro e a ganharem literacia e saúde financeira”, contextualiza Adriano Júnior. O empreendedor não podia estar mais satisfeito com esta participação na Web Summit. “Já tinha participado com o bilhete estudante, e esta é a primeira participação como startup. Está a correr muito bem, tenho tido muitas reuniões, estou a conhecer muita gente interessante, alguns com interesse na minha ideia e que querem perceber melhor como podemos colaborar. Tenho encontrado potenciais parceiros e investidores”, relata.
O aluno de Engenharia Civil confessa que já tinha “o bichinho do empreendedorismo” quando entrou no Técnico, mas assume que a Escola “foi crucial para eu perceber o que existia no mundo tecnológico”. “O Técnico é de facto uma faculdade fantástica, e usufrui muito da experiência, ia a muitos eventos e tentei absolver todo o conhecimento sobre o mundo e a indústria que nos é fornecido. E tudo isso aguçou-me o apetite de criar a minha própria empresa e fez-me perceber que Portugal e Lisboa seria um bom sítio para o fazer”, afirma, com toda a convicção.
Clynx vê participação na Web Summit como “um investimento no nosso futuro”
O nome da Clynx não é desconhecido da comunidade do Técnico, e certamente soará cada vez mais familiar a muitos portugueses. O ano de 2020 tem sido para a Clynx, ao contrário do que acontece com muitas empresas, um ano em cheio, não fosse a plataforma Motiphy + ideal para facilitar a vida dos pacientes em tempos de pandemia. “A nossa solução tornou-se ainda mais importante porque dá ao paciente a possibilidade de fazer fisioterapia em casa de um modo mais conveniente, mais agradável, e também mais seguro, tendo em conta o contexto em que vivemos”, explica Joana Pinto, cofundadora da empresa. “As mais-valias são, pois, estendidas ao fisioterapeuta que assim pode assegurar a gestão do plano de tratamento e o acompanhamento de todas as sessões sem se colocar em risco”, acrescenta a antiga aluna do Técnico.
A equipa da Clynx já participara na Web Summit em 2018, uma participação que lhes permitiu amealhar muitos contactos e da qual retiraram alguns frutos. Este ano repetem a experiência, ainda que em moldes diferentes. “Conseguimos participar através do programa Road2Web Summit da Startup Portugal”, partilha Joana Pinto.
A conversa sobre esta participação e o que dela esperam retirar, conta com outro dos fundadores da startup e também antigo aluno do Técnico: Gonçalo Chambel. O alumnus evidencia que sendo este um “evento onde existem muitas oportunidades de aprendizagem com outros profissionais e que nos permite ter acesso a outras visões, procuramos usufruir desse networking ao máximo”. “O evento permite-nos ter acesso a uma rede de contactos muito grande e que nos pode ajudar imenso a perceber, por exemplo, como é o mundo da fisioterapia em outros países”, adiciona.
Joana Pinto complementa que a vinda ao evento é vista pela equipa como “um investimento no futuro”. “É uma forma de começarmos a ter contactos em outros países, perceber em que outros países é que a nossa solução se ajusta, conhecer os sistemas de saúde, perceber em que mercados daqui a um ou dois anos quando quisermos internacionalizar poderemos começar e também criar uma bagagem de contactos que nos vai ajudar nisto”, acrescenta.
Mais do que contactar com o maior número de pessoas possível, a equipa está focada em criar contactos com valor “e em conseguir mantê-los”, tal salienta Joana Pinto.
A equipa da Clynx acredita que vai fechar o ano da melhor forma somando mais clientes em mais cidades portuguesas. ” Se pelo menos um ou dois destes contactos que estamos a fazer na Web Summit resultasse em algo promissor seria muito bom também”, afirma Joana Pinto.
A lista de startups com ligação ao Técnico vai muito para além destes 3 exemplos, e além de longa é também muito diversa nos domínios em que toca, abrangendo áreas como a educação, a Inteligência Artificial, serviços, hardware e IOT, saúde, segurança, etc.