Organizado por alunos e para alunos, as Jornadas de Engenharia Física(JEF) proporcionam o contacto entre os futuros engenheiros e cientistas com investigadores e profissionais da área da Física, mas vão muito para além disso. As diversas atividades assumem-se como travessias, que apesar de distintas pelos vários temas em que tocam, têm sempre como fim o conhecimento- da investigação que faz, dos centros de investigação que a promovem, dos desenvolvimentos e aplicações que surgem, do mercado e dos percursos distintos que esta formação permite seguir. Tudo isto foi mantido na 7.ª edição das JEF que decorreu entre 15 e 17 de março, captando as atenções dos alunos do Técnico e de outras universidades.
“Foi uma passagem bastante orgânica e bem-recebida por todos”, é assim que Rafael Almeida, membro da organização das JEF, analisa esta transição das jornadas para o digital. Chegado o final de mais uma edição, e dada a adesão registada, o aluno atreve-se a afirmar que “as expectativas foram superadas e bastante”. “Sentimos que conseguimos chegar a muitos mais alunos, quer do curso de MEFT, quer outros cursos do Técnico, quer mesmo alunos de outras universidades portuguesas”, refere o elemento da organização.
Entre palestras científicas, workshops, sessões de conhecimento dos centros de investigação e de contacto com empresas não faltaram oportunidades para robustecer o conhecimento na área e projetar o futuro. Rafael Almeida partilha o ótimo feedback que a organização recebeu, por exemplo, em relação aos “Meet the Centres!”, uma adaptação das “Inside Views” de anos anteriores em que os participantes eram levados até aos laboratórios e centros de investigação associados. “Este ano, esta componente foi atingida através da separação dos alunos em breakout rooms com representantes dos vários institutos e laboratórios”, revela o membro da organização.
O painel das “Alumni Talks” foi também um sucesso, e este ano o regime online permitiu mesmo quebrar barreiras físicas e chegar a antigos alunos de Engenharia Física Tecnológica que trabalham ou fazem investigação além-fronteiras. Nuno Loureiro, professor e investigador no MIT, João Pedro Canhoto, Data Scientist na Expedia Group, Tiago França, aluno de doutoramento e professor assistente na Queen Mary University of London, e Carlos Russo, Product Owner na Critical TechWorks, aceitaram “voltar a casa” para partilhar o que têm andado a fazer desde que acabaram o curso. Ainda não tendo analisado a fundo o feedback deixado pelos participantes – e sempre fulcral para delinear futuras edições- a organização acredita que esta foi mesmo a “atividade mais cativante e surpreendente para todos”.
Cativante é também o adjetivo certo para definir a palestra de Marija Vranic, investigadora no Grupo de Lasers e Plasmas do Instituto de Plasmas de Fusão Nuclear (GoLP/IPFN), e uma das oradoras convidadas para integrar o leque de palestras científicas que fechariam com chave de ouro as JEF. Antes de tudo a investigadora do GoLP ajudou a perceber o que torna os plasmas tão especiais, explicando ainda como podem os mesmos ser estudados e depois sim mergulharia no “Mundo mágico dos Plasmas Extremos”, o tema da palestra. “Mais de 90% do universo visível é composto por Plasma, que é popularmente conhecido como ‘o quarto estado da matéria”, começava por referir a investigadora. Após explicar o que acontece quando temos campos extremos dentro do plasma, a investigadora mostrava como são estas condições extremas reproduzidas em laboratório.
Marija Vranic enunciou também os desenvolvimentos dos últimos tempos nesta área e clarificou como é que os mesmos podem ajudar a dar resposta a algumas perguntas em aberto, nomeadamente em relação à dinâmica de objetos astrofísicos. “Este tipo de trabalho que liga processos fundamentais do plasma no laboratório e no espaço mostra-nos que a maioria destes eventos são fundamentais e que tudo o que conseguimos saber no laboratório pode vir a ser relevante para a Astrofísica, e vice-versa”, concluía.
O regime online permitiu que as JEF chegassem a um “número consideravelmente superior de pessoas, quer participantes, quer também oradores”, tal como assinala Rafael Almeida. “Este maior outreach é de certeza algo que queremos manter e reforçar para o futuro; por outro lado, a componente presencial é algo que não nos podemos esquecer; por isso, uma versão híbrida das Jornadas de Engenharia Física poderá ser um evento que veremos num futuro próximo”, avança o aluno. Para já, uma coisa é certa: o sucesso desta edição já ninguém lhes tira.