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Um laboratório na palma da mão: crianças descobrem a ciência em microescala no Técnico

Segunda sessão do “Explica-me como se tivesse 5 anos” mostrou como funcionam laboratórios miniaturizados.

Na manhã de 12 de novembro o Salão Nobre do Instituto Superior Técnico encheu-se de passos curtos, cadeiras a serem arrastadas e murmúrios expectantes antes do início da segunda sessão do “Explica-me como se tivesse 5 anos”. No fundo da sala, uma voz de criança antecipou o tema do encontro: “Não consigo ver nada.” A frase ecoou o desafio da manhã – explicar um universo que existe, mas que não se vê, na 3.ª temporada da iniciativa “Explica-me como se tivesse 5 anos – Conversas sobre Ciência no Técnico para crianças e adultos curiosos”, a decorrer todos os meses integralmente em formato presencial.

De bata branca, Vânia Silvério, investigadora do Técnico / Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores – Microsistemas e Nanotecnologias (INESC MN), levantou um pequeno círculo de silício, brilhante sob a luz dos projetores. “Chama-se bolacha”, frisou. “Mas esta não é para comer”. A peça, lisa e brilhante, marcou o início da viagem ao interior de laboratórios miniaturizados.

Enquanto descrevia como estes discos servem de base a estruturas microscópicas, as crianças inclinavam-se nas suas cadeiras, seguindo cada gesto. “Os quadradinhos pequeninos que vocês vêem chamam-se chips”, acrescentou, mostrando como uma única ‘bolacha’ pode ser dividida em múltiplos dispositivos. Uma mão levantou-se para lançar a primeira pergunta: “Para que é que serve?” A questão abriu caminho à descrição de processos que se desenrolam em dimensão microscópica.

As dúvidas sobre bactérias, moléculas e reações químicas sucederam-se. Vânia Silvério explicou que estes dispositivos permitem observar fenómenos impossíveis de detetar a olho nu e realizar testes semelhantes aos de um laboratório convencional. Lembrou ainda que a miniaturização pode reduzir o uso de animais em investigação. “Queremos evitar usar mais ratinhos”, mostrando como alguns destes chips substituem procedimentos de maior escala.

A investigadora conduziu depois a plateia de curiosos às ‘salas limpas’, onde estes dispositivos são produzidos. Descreveu os fatos integrais, máscaras e proteções necessárias para evitar contaminações que podem surgir até de pequenas fibras libertadas pela roupa. A imagem de um laboratório onde tudo conta despertou novas perguntas e expressões de surpresa.

A escala invisível começava a tornar-se concreta através de imagens projetadas, comparações com objetos familiares e demonstrações em vídeo. Ao explicar os microcanais por onde circulam líquidos, Vânia Silvério comparou-os a “uma mangueira muito fininha”, permitindo visualizar como diferentes forças fazem avançar pequenas quantidades de fluido. Mostrou também partículas que “giram” no interior dos dispositivos, conceito ligado à spintrónica, que, naquele instante, foi visualizado através de gestos redondos feitos por braços pequenos alinhados na primeira fila.

A sessão seguiu depois rumo ao Espaço. Vânia Silvério explicou que estes laboratórios podem funcionar fora da Terra, onde a ausência de gravidade altera o movimento dos líquidos e a forma como ocorrem determinadas reações. De imediato, vários rostos se voltaram para cima, como se tentassem seguir o percurso desses dispositivos num ambiente sem uma força “que nos puxa para baixo”. 

Várias perguntas sucederam-se até ao final, sempre acompanhadas de corpos que se inclinavam para ver melhor as diferentes ‘bolachas’ de silício, variando em tamanho e material. “Como é que fazem estas bolachas?” tornou-se a questão mais repetida da manhã. A explicação sobre técnicas que usam luz para escrever camada a camada – comparáveis a uma “impressora de luz” – captou novamente a atenção da sala.

No final da manhã, permaneceram olhares fixos nos pequenos círculos de silício pousados sobre a mesa, ecos de gotas em microcanais vistas em vídeo e conversas animadas sobre “coisas que não se veem mas estão lá”. A sala foi esvaziando aos poucos, mas a ideia principal permanecia: naquele encontro entre curiosidade e investigação científica, o mundo invisível tornara-se, por momentos, visível aos olhos curiosos das crianças.

O ciclo “Explica-me como se tivesse 5 anos”, organizado pelo Técnico e direcionado para crianças do 1.º ciclo de escolaridade, pretende aproximar a investigação científica da sociedade, em particular promovendo o diálogo entre  cientistas e crianças. Todas as sessões estão esgotadas.

Próximas sessões:

Sessões passadas:

8 de outubro de 2025, 10h – “Como funciona um satélite?” – João Paulo Monteiro (ISR-Lisboa)
Reportagem: “Mas como é que funciona um satélite?”: Técnico abriu portas à curiosidade dos mais pequenos

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