Talento, liberdade, dedicação e igualdade foram palavras de ordem na cerimónia de entrega do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo- edição 2018, esta segunda-feira, 25 de março. A enunciá-las – e a falar por elas- estiveram mulheres talentosas que fizeram da garra o seu género e do trabalho árduo a marca diferenciadora. Além das duas contempladas desta terceira edição do galardão, a engenheira Mariana Araújo e a professora Manuela Veloso, foram outras as vozes que se fizeram ouvir nesta cerimónia, lembrando que a igualdade ainda é frágil a algumas ideologias e que a paridade é um esforço que cabe a todos.
Coube ao presidente do Técnico, professor Arlindo Oliveira, abrir a sessão e lembrar a importância deste prémio e da mensagem que lhe está subjacente. “Se queremos atrair os melhores temos que estar focados em atrair ambos os géneros e é neste sentido que temos dinamizado um conjunto de iniciativas nas quais se insere este prémio”, começava por reiterar. Sem se querer alongar, lembrou o nome, currículo e a coragem da engenheira que dá nome ao galardão, e que adjetivou como “um exemplo para todas as mulheres”. Felicitando as contempladas por aceitarem “esta distinção que o Técnico em boa hora lhes decidiu conferir”, terminava agradecendo-lhes por “serem modelos para as novas gerações”.
Foi também de talento que a professora Helena Geirinhas, coordenadora do grupo Gender Balance@Técnico, começou por falar, aquele com que o Técnico se identifica, procura e ajuda a potenciar. “Se é verdade que já conseguimos atrair alguns dos melhores talentos na área da Ciência e da Tecnologia, temos ainda um forte desequilíbrio entre géneros fruto de uma visão tradicional da Engenharia enquanto área predominantemente masculina”, declarava a docente. Ao fazer referência a algumas das iniciativas alavancadas pelo grupo Gender Balance@Técnico, assim como algumas das metas futuras, a professora Helena Geirinhas explicava que “com este prémio pretendemos reconhecer que há mulheres extraordinárias, que marcam indelevelmente a nossa história e apresentá-las como modelos para as nossas candidatas e alunas de engenharia”. “As premiadas representam duas gerações de alunas, demonstram não só a excelência de formação, mas também a diversidade de recursos que a formação do Técnico proporciona e o papel relevante na sociedade das nossas antigas alunas”, concluía com orgulho a docente.
Depois de receber o prémio, Mariana Araújo, a galardoada na categoria Young Alumnae, subiu ao palco para agradecer o prémio e a sua essência, mas acima de tudo decifrar algumas das ideologias que ainda fazem da Engenharia um “muro” que tantas raparigas julgam não conseguir transpor. “Os obstáculos que as mulheres enfrentam, hoje em dia, não são tão evidentes, tão intransponíveis, mas é por isso mesmo que se tornam tão difíceis de confrontar e combater, encontram-se dentro de nós, nas crenças internalizadas ao longo das nossas vidas”, declarava a aluna de doutoramento do Técnico. “Estas ideias sexistas que afastam as mulheres das engenharias têm muitas causas, todas elas subtis e por isso difíceis de confrontar e remover”, acrescentava de seguida. E a solução, segundo a engenheira Mariana Araújo, passa pelo esforço de “cada um em procurar e desafiar esses preconceitos, em nós mesmos e nas pessoas que nos rodeiam”, dando “esse exemplo à próxima geração”. A capacidade e visibilidade contida neste prémio são por isso louváveis para a jovem vencedora, que o entende como um meio de reconhecimento de quem o recebe, mas essencialmente como uma forma de “darmos liberdade a todas as mulheres em engenharia, de lembrar todas as raparigas que existe um lugar para elas nesta área, e que existe nelas a capacidade de estudar Engenharia e mesmo de destacar-se num cargo”.
Coube à professora Isabel Ribeiro apresentar o trajeto invejável da galardoada da categoria Role Model: a professora Manuela Veloso. Fê-lo com o entusiasmo e segurança que lhe são caraterísticas, mas também com a euforia de quem conhece a carreira que lhe coube contar. De forma simples, a docente conduziu a audiência pelo longo e extraordinário currículo da professora Manuela Veloso, dando-lhe alguns apontamentos inevitáveis quando se aborda um trajeto notável. “É uma académica com provas dadas ao mais alto nível, que tem estado na fronteira do conhecimento das áreas em que é especialista e fomentado o desenvolvimento dessas mesmas áreas muito para além dos limites da sua universidade e do país que escolheu para viver”, declarava a docente. Enumerando prémios, desafios e conquistas, terminava afirmando sem rodeios que “pelo seu valor, notoriedade e modo de estar na vida e por ser uma mulher lutadora, persistente, e que abraça desafios é uma digna merecedora deste prémio e honra a memória da engenheira Maria de Lourdes Pintasilgo”.
Na sua intervenção a professora Manuela Veloso preferiu centrar-se no que está para lá do currículo, enfatizando algumas das paixões que a foram movendo, os sítios de onde foi retirando inspiração e as pessoas que a acompanharam e suportaram o seu percurso – muitas delas presentes na audiência. Agradecendo ao Técnico a distinção e salientando o papel que a Escola teve no seu percurso pela capacidade de aprendizagem que lhe conferiu, a docente da Carnegie Mellon University (CMU) não esqueceu os estudantes que a foram ajudando a ser bem-sucedida e terminou assinalando que o caminho da igualdade passa por “dar crédito às mulheres, atribuir valor ao que dizem, dar-lhes visibilidade porque são esses passos pequenos que podem fazer uma grande diferença”.
“Dar o exemplo e partilhar a experiência de quem está nestas áreas é, sem dúvida, uma forma de encorajar outras mulheres”, começava por destacar a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, elogiando o galardão por se assumir como um reflexo disso mesmo. Saudando o Técnico pelas várias iniciativas que tem liderado em torno da igualdade de género, a governante não esqueceu no seu discurso “a mulher notável, pioneira em tantos domínios, criadora das políticas de igualdade em Portugal” que foi Maria de Lourdes Pintasilgo. Apresentando alguns números que demonstravam as diferenças que se foram esbatendo ao longo dos anos em termos de igualdade de género, mas que simultaneamente demonstravam o caminho que ainda há a percorrer, a secretária de Estado partilhou algumas medidas governativas que se têm focado na redução das desigualdades salariais e na desconstrução de estereótipos de género “que limitam as escolhas das mulheres, os seus sonhos e as suas ambições”.
Encerrada a cerimónia, foi altura de felicitar as premiadas pelo galardão, mas principalmente por serem o exemplo a seguir de que Maria de Lourdes Pintasilgo se orgulharia, abrindo os “caminhos novos” que a engenheira tanto desejava para as mulheres portuguesas.