“E quando tu olhares para trás/Com saudade verás/O que guardas no coração/E sempre lembrarás/ O que revês com emoção/E nunca esquecerás”, é a primeira estrofe de uma melodia que fala de saudade e que diz tanto sobre a Tuna Feminina do Instituto Superior Técnico. É a letra de uma canção e de uma vivência que perdura na vida das dezenas de tunantes que fizeram e fazem a história de uma tuna que celebrou recentemente um quarto de século. O momento não passou em branco, como é óbvio, e foi assinalado através de um espetáculo que juntou muitas das protagonistas destes “verdes anos”. Tal como nos encontros de família, esperavam-se 50, e apareceram 100. E não foram sozinhas: levaram as novas famílias que se uniram a esta “família de sempre” através de uma e de outra canção.
“O espetáculo dos 25 anos excedeu todas as expectativas”, partilha Mariana Sanches, atual presidente da TFIST, porta-voz de um orgulho transversal a toda a tuna. Orgulham-se da história, honram a essência e quiseram espelhar isso mesmo no espetáculo de comemoração. “Quisemos que contasse a nossa história e isso refletiu-se na escolha das músicas principalmente”, explica Mariana Sanches. Além das várias gerações de tunantes, a organização quis tornar o espetáculo ainda mais familiar, levando a palco os descendentes de alguns dos elementos mais antigos. “Quisemos envolver as crianças, e por isso o início do espetáculo foi com elas. Tivemos cerca de 20 miúdos em palco, e foi talvez um dos momentos mais bonitos desta comemoração”, vinca Mariana Sanches.
Apesar de estar há dois anos na tuna feminina do Técnico e de já ter vivido muitos momentos emocionantes, Joana Couceiro não conseguiu não se emocionar com esta celebração e tudo o que esta traduziu. “Ver as pessoas que estiveram cá no início e perceber que voltam sem hesitar, sacrificando um tempo precioso, faz-nos pensar que isto vale mesmo a pena”, frisa a tunante. “Fazem-no porque isto não foi só uma atividade qualquer pela qual passaram, é porque foi algo que lhes deixou muito boas memórias, que valeu a pena. Leva-me a pensar que, daqui a uns anos, vou sentir o mesmo”, acrescenta ainda Joana Couceiro.
Perfeição e muito rigor- na forma como se conduz música, nos movimentos que a acompanham, na entrega individual e coletiva- é o que distingue a TFIST de todas as outras tunas, caraterísticas estas que tem vindo a ser reconhecidas sucessivamente nos festivais em que participam. “Acho que o que nos distingue das outras tunas é principalmente o nosso estilo de música mais solene. E também o rigor que colocamos nas nossas atuações”, corrobora Joana Couceiro. É quase como se o pragmatismo da Engenharia também quisesse ir a palco. Mariana Sanches concorda e explica o porquê desta exigência: “Sempre nos foi passada, desde o início, a ideia de que representamos o Técnico. E isto é um peso que nos faz querer sempre ser melhores”. “Quando ganhamos prémios, a maior parte das tunas grita pelo nome, nós gritamos pelo Técnico. Acho que isso mostra que estamos a representar a nossa faculdade e temos orgulho nisso” acrescenta, não deixando margem para contradições.
Além da música e da paixão pela mesma, são muitas as histórias da TFIST que passam de geração em geração, e que de alguma forma as unem. Uma delas tem exatamente a ver com a criação da tuna, e é partilhada pela atual presidente: “A fundação da nossa tuna foi no âmbito do aniversário da AEIST [Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico]. Foi tudo feito por um grupo de mulheres que a medo, mas com muitas convicções, decidiu fundar a tuna, uma das únicas tunas femininas do país, e ainda por cima de uma escola onde há poucas mulheres”. A ousadia das fundadoras da TFIST deu origem a muitas histórias engraçadas, que hoje se recordam com admiração pelas gerações atuais. “Ainda hoje, temos algumas histórias engraçadas relacionadas com isso, em que nos perguntam onde estão os elementos masculinos”, partilha Mariana Sanches.
Os copos, as noitadas e os exageros são rótulos inevitáveis que chegam com a vida de tunante, e que afastam por vezes potenciais membros. Na TFIST luta-se para combater este estigma: “Vamos aos festivais, gostamos de nos divertir, de cantar, interagir com outras tunas, mas sem excessos. Fazemos questão de passar a mensagem que não é esse o nosso objetivo, não é isso que queremos representar”, vinca Joana Couceiro.
Família. É tantas vezes a palavra usada por quem faz parte da tuna definir a experiência, o espírito, a essência. A união é inegável, as amizades fruto das horas de trabalho, dos passos conjuntos, dos acordes em que se tropeça e se persiste. Para Joana Couceiro é também um escape. “Estava a precisar de fazer algo para além do Técnico, conheci uma rapariga que já era da tuna e ela convenceu-me a ir experimentar. Disse que me ensinavam a cantar e a tocar um instrumento e resolvi ir experimentar e nunca mais saí, conta. É, aliás, isto que acontece a maior parte das vezes, porque o retorno é enorme e até demasiado complexo para colocar em palavras. “Costumo dizer que aquilo que vivemos na tuna é tão intenso e é tão inexplicável para o exterior”, sublinha Mariana Sanches. “A música acaba por nos tornar um bocadinho mais metódicos, e de alguma forma pode ajudar-nos no curso”, frisa a presidente da TFIST, numa lista de benefícios da tuna que é extensa que por ela não tinha fim. “Os desafios que temos que superar, dão-nos uma desenvoltura, um desenrascanço, uma capacidade de improviso muito grande. Isto é muito mais do que música”, complementa ainda. Em troca de tanto, pede-se algum tempo e a entrega.