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Vítor Cardoso – Professor do Técnico recebeu Prémio Universidade de Lisboa 2023

Galardão é atribuído pelo “extraordinário contributo para o desenvolvimento da física teórica e para o progresso da ciência a nível global”.

“Pedia-vos que colocassem o primeiro slide da minha apresentação, por favor”. A tela, antes preenchida pela fotografia de Vítor Cardoso e pelo nome do evento, escureceu completamente – um retângulo preto ocupava agora a parede, em representação de um buraco negro. “Esta é uma das coisas que procuro”, explicou o investigador – “há lá uma mensagem escondida”.

São palavras de quem, pelo seu “extraordinário contributo para o desenvolvimento da física teórica e para o progresso da ciência a nível global”, acabava de receber o Prémio Universidade de Lisboa 2023. Vítor Cardoso, professor catedrático do Instituto Superior Técnico e diretor do Centro de Gravidade do Instituto Niels Bohr, proferia a sua alocução no Salão Nobre da Universidade de Lisboa, a 3 de fevereiro, referindo-se a buracos negros, ondas gravitacionais e, acima de tudo, à importância da reflexão e da procura do conhecimento apenas pelo conhecimento.

Este último ponto fora sublinhado pelo reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, no seu discurso de abertura da cerimónia. Descreveu Vítor Cardoso como “alguém que trabalha naquilo a que podemos chamar ‘o coração da descoberta’, na investigação orientada pela curiosidade, motivada pela procura do conhecimento e não por aplicações práticas imediatas”. Destacou ainda o entusiasmo do docente pela ciência e o facto de abordar assuntos “de forma rigorosa, mas simples e despretensiosa”.

Perante a sala cheia, Vítor Cardoso dedicou uma parte da sua intervenção a equiparar o processo científico a um esforço de escavação, no qual nunca se sabe se será encontrado ouro ou se nunca será feita uma descoberta concreta. Não obstante, para o docente, “compreender deveria ser um fim em si mesmo”, uma vez que “pensar e refletir é o maior dom que nos foi dado”. “Nós somos partes de um todo e alguém, algures, vai usar o resultado deste nosso esforço”, afirmou. A “escavação”, que lhe “dá muitas angústias”, também lhe “dá um prazer enorme” e, mesmo no escuro dos túneis em que nos aventuramos, “todos nós brilhamos”, concluiu.

Finda a celebração, o físico junta-se assim a outros nomes do Técnico a receber o Prémio Universidade de Lisboa, como António Guterres, galardoado na edição de 2020, e Jorge Calado, premiado na edição de 2016. A fechar a cerimónia, ao fundo da escadaria da Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa, um grupo de jovens do conjunto Tocá Rufar marcou o passo com uma atuação de bombos e tambores, naquilo que poderia ser descrito como o ritmo imparável da descoberta científica quando alimentada pela curiosidade humana.

 

Em 2022, Vítor Cardoso recebeu uma bolsa do European Research Council (ERC) no valor de dois milhões de euros para estudar buracos negros, cerca de um ano depois de ter obtido uma outra bolsa da fundação dinamarquesa Villum Fondon, de 5,3 milhões de euros, para criar e liderar o grupo de investigação que integra atualmente no Niels Bohr Institute. Em 2024, publicou um ‘manual de instruções’ para entrar em buracos negros, obra apresentada num evento no Técnico.

De acordo com a Universidade de Lisboa, este galardão tem como critérios de seleção o “contributo notável para o progresso da ciência e projeção internacional do país, atendendo à qualidade das publicações, ao rigor e originalidade dos trabalhos, aos prémios e distinções recebidas e aos cargos desempenhados” pelos candidatos.

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