O jogo de luzes coloridas e os efeitos sonoros habituais que marcam a abertura da Web Summit foram este ano substituídos pela bonita Praça do Município de Lisboa, que serviria de pano de fundo ao arranque daquela que é considerada a maior cimeira tecnológica do mundo, esta quarta-feira, 2 de dezembro. À hora marcada, Filomena Cautela, a apresentadora escolhida por Paddy Cosgrave, dava as boas-vindas aos participantes que a partir dos seus escritórios ou sofás aguardavam ansiosamente pelo início do evento. Através do chat, rapidamente os cerca de 6000 participantes a postos nos seus teclados tratavam de partilhar o entusiasmo e as expectativas para esta edição.
A apresentadora elencaria os cinco palcos do evento, salientando a dinâmica oferecida pelo formato remoto, e as oportunidades de networking que as plataformas do evento oferecem. Apesar das diferenças relativamente a outros anos, a apresentadora garantia que a experiência seria igualmente “fascinante e transformadora”.
Depois de uma breve intervenção de Paddy Cosgrave, seria a vez de António Costa dar as boas-vindas a todos os participantes desta “diferente” edição. De acordo com António Costa um evento desta dimensão, que envolve mais de 150 países (online), que propicia a trocando conhecimento e experiências diversas, transmite “força e esperança”.
O primeiro-ministro salientou que apesar de este ser um ano atípico e de muita incerteza, foi também um ano em que Portugal continuou a investir nas tecnologias e na inovação. “2020 não é apenas o ano da pandemia, é o ano em que Portugal saltou para a liga dos campeões da inovação”, sublinhou referindo-se à classificação de “forte inovador” atribuída a Portugal, em junho, pelo European Innovation Scoreboard (EIS 2020). “Mesmo antes do início da pandemia, Portugal lançou o plano de ação para a transição digital visando a capacitação digital das pessoas, empresas e organismos do Estado”, lembrou. Ainda de acordo com o primeiro-ministro, este foi também o ano em que Portugal “registou 14% de aumento no número de estudantes nas áreas de investigação e tecnologia”.
Frisando que o mundo pós-pandemia vai ser diferente, o primeiro-ministro defendia que “depende de nós garantirmos que será também melhor”. “Vamos fazer da Web Summit 2020 o ponto de partida para construir este futuro melhor”, incitava, de seguida, o líder do executivo português.
Da residência do primeiro-ministro voltávamos aos espaços da Câmara Municipal de Lisboa, para ouvir as palavras de Fernando Medina que realçaria que “mais do que nunca, precisamos de eventos impactantes como este, eventos que mudam a forma como pensamos e ultrapassam os limites nestes tempos desafiantes”.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa vincou que nos próximos meses será “preciso garantir uma recuperação rápida para mitigar os impactos sociais da pandemia e da crise económica”. Nesta demanda, e segundo Fernando Medina, serão necessárias novas estratégias e muita inovação. O autarca frisaria que Lisboa vai continuar a trabalhar para ser uma cidade neutra em carbono no futuro, “com um sistema verde e mais sustentável, melhores transportes públicos e melhor infraestrutura ciclável”. Por fim, Fernando Medina reiteraria a sua convicção de que no próximo ano todos os conferencistas poderão “aproveitar as diversas coisas que a cidade pode oferecer”.
A ‘cabeça de cartaz’ do arranque oficial do evento seria presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen que frisou o impacto da tecnologia nas nossas vidas, nomeadamente em tempos de pandemia. “A Web Summit é um orgulho europeu e dá-me esperança de que os anos 2020 possam ser a nossa década digital”, disse Ursula von der Leyen. Ao longo do seu discurso a líder do executivo comunitário elencaria os desafios que se impõem à Europa no domínio do digital, salientando que a recuperação económica terá a digitalização como um dos pilares principais e deixando bem claro que acredita nas condições da Europa para ser tornar “líder global” neste domínio.
As novidades de uma cimeira que nesta edição vive ainda mais da tecnologia
Ainda não eram 8 da manhã, e já milhares de participantes estavam online nas plataformas que este ano servem de palco à Web Summit. Tal como em outras edições, é preciso aproveitar as horas para fazer face ao desconhecido. Nesta edição, a agilidade troca, literalmente, os pés pelas mãos, e faz do rato do computador o melhor aliado. Saltitando entre as duas aplicações disponibilizadas pela organização do evento – uma para telemóvel, outra para web browser-, toda a atenção é pouca para que nenhuma funcionalidade fique por descobrir. Enquanto o evento não arranca oficialmente, aproveita-se para se fazer a ponte até aos contactos, para se construir o calendário pessoal do evento, ou para agendar reuniões.
A organização fez de tudo para tentar replicar parte da experiência que o evento físico proporciona e, para isso, as plataformas oferecem funcionalidades variadas que permitem comentar aquilo que se está a ver e assim, iniciar discussões, e contactar com outros participantes. Os oradores e os temas das palestras vão ao encontro das tendências do presente e do futuro, e torna-se fácil “mudar” de palco quando os nossos interesses assim o ordenam. Contornar as multidões e fintar o cansaço são problemas que deixaram de perseguir os participantes, já a energia e dinamismo que caraterizam os eventos têm sido difíceis de capturar na versão digital.
Ainda assim, o Mingle tenta diferença neste aspeto, não fosse esta a principal ferramenta de networking do evento que pretende substituir os tradicionais encontros nas filas de espera. A nova funcionalidade junta pessoas em sessões limitadas temporalmente, com base nos perfis dessas pessoas. É um algoritmo de inteligência artificial que escolhe as diferentes pessoas para cada sessão. No final de cada sessão, se os utilizadores concluírem que há interesse em voltar a contactar-se poderão restabelecer uma nova sessão.
O formato online permitiu também que o horário das palestras e das restantes atividades fosse expandido – que passam de 6 para 12 horas. Para esta edição, a organização do evento conta com mais de 100 mil participantes e 800 oradores.
A habitual competição de startups está também a decorrer em moldes similares, com as empresas selecionadas a dar a conhecer a nova geração de negócios. A organização estima que haverá 1250 investidores registados e prontos a apoiar as ideias mais promissoras do evento.
André de Aragão Azevedo, secretário de Estado da Transição Digital, Sir Tim Berners Lee, inventor da World Wide Web, Liang Hua, chairman da Huawei, Cal Henderson, cofundador do Slack, e Young Sohn, presidente da Samsung, foram outros dos nomes sonantes que passaram ao longo deste primeiro dia pelos palcos virtuais do evento.