“Acho que esta disciplina ‘abre’ muito a visão dos alunos que a frequentam em relação às suas opções de trabalho”: as palavras são da professora Luísa Coutinho, uma das docentes que leciona a cadeira de Empreendedorismo, Inovação e Transferência de Tecnologia no Técnico.
Aliás, essa é uma das razões por que a disciplina – opcional ou obrigatória consoante os cursos – tem sido, constantemente procurada pelos alunos. “Deve haver atenção e desmistificar a ideia de que toda a gente tem que ir trabalhar para uma empresa existente”, concorda Ricardo Amendoeira, aluno de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (MEEC), e que está este semestre a fazer a cadeira. “Também é preciso diminuir o receio que há de tentar criar um novo negócio.”
Ainda assim, nem todos os alunos que escolhem fazer cadeiras nesta área a relacionam com o seu futuro imediato. Carolina Baptista, que frequenta o quinto ano de Engenharia Química, diz que gostava de trabalhar na área de processos, pelo menos nos primeiros anos no mercado de trabalho, e que a sua opção foi tida a pensar no longo prazo: “A maioria dos engenheiros químicos hoje trabalha na área da gestão e achei que quantos mais bases tivesse, melhor”, afirma. Depois de um semestre de aulas, a expectativa que tinha foi superada. “Aprendi ali coisas que vou levar para a vida. (…) Vejo-me, um dia mais tarde, a trabalhar na área da gestão, e se tiver uma boa ideia acho que sim, queria abrir um negócio e trabalhar por minha conta.”
Mariana Marçal, do mesmo curso, tem uma opinião semelhante. “Não tenho planos para o futuro a longo prazo, e diria que a cadeira não influenciou isso. O que sei é que caso surja alguma oportunidade de me envolver num negócio, ou tenha alguma ideia, agora estou muito mais bem preparada.”
João Lourenço também esteve inscrito na cadeira no último ano. Para ele, “Empreendedorismo, Inovação e Transferência de Tecnologia” funciona como um complemento às matérias que são dadas no curso. “É necessário perceber aquilo que verdadeiramente interessa aos clientes e utilizadores do produto que pretendes conceber. Isso era algo que ainda não tinha sido abordado ao longo do curso.”
A cadeira, que tem uma base muito prática é alicerçada em sessões teóricas que abordam, por exemplo, as áreas de análise de mercado, plano de marketing, plano financeiro e case-study, implicam sempre o desenvolvimento de um produto em todas as suas fases. Essa foi, para Carolina, a parte mais complicada do processo. “Achava que o problema seria arranjar financiamento para montar um negócio, mas depois de acabar a cadeira fiquei com a ideia contrária: o problema é arranjar uma boa ideia, acreditar nela e transmitir essa crença às outras pessoas.”
Cada aluno tem uma expectativa diferente do que serão as suas aulas: para João, por exemplo, seria importante “perceber exatamente quais os passos a tomar” para criar um negócio viável, adaptando-os a “uma realidade de projeto concretos”. Francisco Lemos, por sua vez, considera que “o empreendedorismo é um conto de fadas”. “É tudo muito bonito e especial, mas abrir uma empresa e ver as dificuldades afunda esse sonho”, explica o estudante de MEEC, que já por duas vezes tentou vingar com o seu próprio negócio. E, ao contrário de outros alunos que já completaram a cadeira, considera que “o empreendedorismo não se ensina”.
O professor Miguel Amaral, também ele docente da disciplina, considera no entanto que “os inúmeros exemplos de empresas de base tecnológicas inovadoras e de sucesso criadas por alunos, investigadores e docentes ligados ao Técnico demonstram que o empreendedorismo pode ser uma alternativa viável ao emprego por conta de outrem, um desafio e um projeto de vida”.
Na área de Eletrotecnia e Computadores, por exemplo, trata-se de uma alternativa bastante viável, na opinião de Ricardo Amendoeira. “Acho que há uma relação direta entre o empreendedorismo e a minha área de estudos, uma vez que a engenharia é excelente para trazer inovação e resolver problemas.”
O estudante ainda não tem a certeza do que quer fazer no futuro, mas tem como “objetivo principal” fazer algo que lhe permita “trabalhar em vários projetos diferentes ao longo dos anos e aprender em cada novo projeto”. Por isso, garante, ser empreendedor não é uma ideia posta de parte, ainda que provavelmente fora do país: “Há países que prometem muito melhores condições para pessoas da minha área, como o norte da Europa ou os Estados Unidos”.
Além das bases de gestão, saber como fazer um plano de negócios ou de marketing e ter uma ideia “bem clara” daquilo que se quer fazer, a maioria dos alunos aponta como arma para conseguir vingar na cadeira a comunicação. “É preciso ser-se um bom comunicador, conseguir transmitir muito bem a nossa ideia de forma a conseguir apoios”, refere Carolina. Até porque durante estes meses de trabalho se contactam empresas e fornecedores – e esses são contactos que poderão fazer a diferença no futuro.
Ainda assim, garante quem já a fez, a cadeira é desafiante e trabalhosa. “Acho que deviam apostar neste tipo de cadeira, aprendemos muita coisa de uma forma fácil. É quase uma injeção de motivação semanal”, garante Carolina. !