O CENTRA e os Buracos Negros
Para o professor Vítor Cardoso, docente e investigador do Centro Multidisciplinar de Astrofísica e Gravitação (CENTRA) do Técnico, e também professor na Universidade do Mississippi, o estudo da Teoria da Relatividade de Einstein começou como um “desafio”. “Decidi a sério dedicar a minha carreira a isto quando um colega me disse que nunca faria Relatividade porque era muito difícil, e que o que se poderia descobrir já estava descoberto… nada como um desafio!”, explica. A Ciência agradece – nos últimos cinco anos, o docente recebeu duas bolsas do European Research Council (ERC) no valor de 2,5 milhões de euros que tem utilizado para se dedicar à Física Teórica, nomeadamente à compreensão dos buracos negros, da matéria escura e das ondas gravitacionais.
Vítor Cardoso é também o líder do GRIT – o grupo que, dentro do CENTRA, estuda a dinâmica dos buracos negros e as teorias gravitacionais que vão para além da Teoria de Einstein – onde podemos encontrar estudantes de mestrado, doutoramento e pós-doutoramento, mas também professores e investigadores. O que os une é simples: a vontade de investigar fenómenos que, para a maioria das pessoas, são totalmente estranhos e inatingíveis.
“Neste momento”, explica Vítor Cardoso, “meio mundo da Física está a utilizar aparelhos ultrassofisticados para ver as ondas gravitacionais”. Entre esses está o supercomputador Baltasar Sete Sóis, que o grupo utiliza para resolver as equações de Einstein e cujo nome foi inspirado na personagem de José Saramago em Memorial do Convento. “O Baltasar Sete Sóis é um personagem interessante, pois ajuda o padre Bartolomeu Lourenço a construir o seu sonho”, disse ao jornal Público. “Gostámos desta ideia, de o Baltasar ajudar a construir um sonho (…).Posso dizer que, ao fim de cinco anos, o Baltasar já construiu muitos sonhos!”
De acordo com o físico, a falta de aplicações práticas “imediatas” não é um problema nesta linha de investigação. “A humanidade distinguiu-se de outras espécies pela curiosidade, mesmo quando não tem efeitos imediatamente práticos. Quem é que não gosta de saber que Júpiter tem anéis, ou que a Lua tem um lado sempre escuro? Acontece, surpreendentemente, que a resposta a estas perguntas tem contribuído para um bem-estar intelectual e físico. A grande maioria dos problemas acaba por nos trazer mais conforto no dia-a-dia… Mas além disso tudo, perceber o nosso Universo e o que nos rodeia é também uma questão de cidadania, ajuda-nos a tomar decisões mais informadas.”
O objetivo final do trabalho feito pelo grupo é “compreender”, assegura Vítor Cardoso, que considera que “ser cientista é um privilégio”. “Quando se conseguem respostas, o cientista tem acesso a algo intemporal e secreto. Ficamos a saber algo que mais ninguém, até esse momento, sabe.” Além disso, está convencido que esta área terá uma enorme importância no futuro, onde “se avizinham tempos excitantes”. Um dos maiores prazeres que tem? “Ter novos alunos, muito mais inteligentes que eu, a ensinar-me e a levar esta área em novas direções!”
ISTnanosat em órbita
Outra opção para quem quer estar ligado ao espaço através de algum projeto é o ISTnanosat, o primeiro nanosatélite criado por estudantes, professores e radioamadores do Técnico e da Associação Portuguesa de Amadores de Rádio para a Investigação, Educação e Desenvolvimento (AMRAD). O projecto conta ainda com o apoio de empresas do sector aeronáutico e aeroespacial como é o caso do CEiiA, da Edisoft e da D-Orbit.
O satélite, baseado no modelo CubeSat, está a ser desenvolvido por vários estudantes de licenciatura e mestrado de várias áreas no campus do Taguspark, onde foi criada uma “ground station”, um centro de rastreio de satélites – muitos deles aproveitam aquilo que começou por ser uma atividade extracurricular para fazer a sua tese. Para já, o projeto tem três missões (mas o número poderá aumentar ou alterar-se a sua natureza, explica o professor Rui Rocha, um dos responsáveis): participar no projeto HUMSAT, da Universidade de Vigo, que pretende fazer a monitorização de áreas remotas ou de difícil acesso na Terra; estudar os efeitos da radiação e variação térmica em ambiente espacial no processamento de sinais em nanotecnologias; e, finalmente, estudar aquilo a que se chama “Anomalia do voo rasante” (flyby anomaly), a mudança de velocidade inesperada que um corpo observa quando passa pela Terra.
“A ideia deste projeto é aplicar o conhecimento dos alunos de forma concreta. É um projeto muito desafiante, porque não é a mesma coisa fazer eletrónica para funcionar na Terra ou para funcionar no espaço: os desafios e as preocupações são muito diferentes”, garante o docente que, juntamente com o professor Moisés Piedade, foi um dos principais impulsionadores do projeto. Em última análise, afirma, “o que queremos é que este se transforme num projeto-bandeira dos alunos do Técnico, como hoje é o Projeto Formula Student”.
Hoje, os alunos que trabalham no ISTnanosat estudam áreas como a energia, as comunicações ou o controlo de atitude, o “centro” do pequeno cubo que esperam pôr em órbita dentro de dois ou três anos, provavelmente “à boleia” de um lançamento da Agência Espacial Europeia. No futuro, no entanto, esperam ter mais alunos de outros cursos, como a Engenharia Aeroespacial, a trabalhar na estrutura do satélite, por exemplo. “Temos espaço para toda a gente, mesmo para quem não está a fazer uma tese nesta área. A grande mais-valia em termos que aprendizagem que o ISTnanosat traz é ser um projeto real, que obriga os alunos a terem um contacto mais direto com o que os espera no mundo real”, resume Rui Rocha.