Encélado, a sexta maior lua de Saturno, deverá ser o “alvo mais interessante” para a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla inglesa) – eis a conclusão de um relatório elaborado por uma comissão especialista liderada por Zita Martins, professora do Instituto Superior Técnico. A Encélado, seguem-se outros satélites naturais como Titã e Europa, esta última uma lua de Júpiter.
Desde janeiro deste ano que Zita Martins preside o grupo de trabalho que dá à ESA aconselhamento sobre a ciência e exploração do Sistema Solar, o Solar System Exploration Working Group (SSEWG). Desta vez, a astrobióloga coordenou também os trabalhos da comissão especialista para a missão “Luas dos Planetas Gigantes”, que acompanhará iniciativas da ESA como Juice (uma sonda que explorará luas de Júpiter), LISA (para a deteção e estudo de ondas gravitacionais no espaço) e NewAthena (um telescópio de raios-X).
Esta comissão especialista teve como objetivo analisar as vantagens em termos científicos de visitar várias luas de Júpiter ou de Saturno, com foco no estudo da habitabilidade desses satélites, procurando indícios de vida ou de condições que a permitam. Em declarações publicadas no site da ESA, Zita Martins explica que “os conceitos [que a comissão recomendou] para a missão iriam fornecer tremendo retorno científico, impulsionando o nosso conhecimento, e seriam fundamentais para a deteção bem-sucedida de biomarcadores nas luas geladas”.
A astrobióloga acrescenta que se sentiu muito feliz por fazer parte deste processo, “presenciando em primeira mão os primeiros passos que potencialmente levarão à investigação das luas dos planetas gigantes”. “A procura por condições de habitabilidade e vestígios de vida no Sistema Solar é desafiante do ponto de vista técnico e científico, mas é muito entusiasmante”, remata.
As três condições mais consensuais para um “ambiente habitável” que possa suportar vida como a conhecemos são a presença de água líquida, de uma fonte de energia e de um conjunto específico de elementos químicos. Ao apresentar todos estes fatores, Encélado torna-se um alvo particularmente apetecível – segundo a ESA, “as plumas ejetadas da sua crosta gelada são ricas em compostos orgânicos, alguns dos quais essenciais à vida” e o oceano que se esconde debaixo “parece conter uma poderosa fonte de energia química que poderá abastecer organismos vivos”.
Através da Ariane 6 (a bordo da qual irá um satélite construído no Técnico já este verão), a ESA coloca a hipótese de dar início a uma missão desta natureza no início da década de 2040, chegando a Encélado cerca de uma década depois. “O impacto de uma missão assim poderá ser enorme”, avança a ESA. “Colocaria a Europa – uma vez mais – num lugar único na vanguarda das ciências do Sistema Solar”.