O Campus Tecnológico e Nuclear (CTN) do Instituto Superior Técnico acolheu pela primeira vez a “Conferência da Indústria de Fusão – Portugal 2024”, que reuniu, em Loures, a 2 de dezembro, especialistas nacionais e internacionais e representantes de empresas, com o objetivo fortalecer a posição da indústria portuguesa no setor da fusão nuclear e da Big Science. O evento serviu também para celebrar o facto de se terem atingido 100 milhões de euros em contratos para construção do Reactor Experimental Termonuclear Internacional (ITER), conseguidos por empresas portuguesas e pelo Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN), unidade de investigação associada ao Técnico. O ITER, estrutura internacional em construção em França, será o maior reactor de fusão nuclear do mundo. Tem como objetivo desenvolver uma fonte de energia segura, inesgotável e responsável do ponto de vista ambiental, reproduzindo o processo que produz a energia do Sol e das estrelas.
Bruno Gonçalves, Presidente do IPFN e Investigador do Técnico, referiu que “para além do ITER, os mercados da Big Science, como o CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, o ESO (O Observatório Europeu do Sul) e a ESA (Agência Espacial Europeia), oferecem às empresas portuguesas a oportunidade de desenvolver tecnologias inéditas”. “Com os recentes investimentos privados em fusão a atingirem 7 mil milhões de euros a nível global e o mercado da Big Science avaliado em 40 mil milhões de euros, este ecossistema representa uma oportunidade transformadora”, acrescentou.
Durante o evento, organizado pela Agência Nacional de Inovação (ANI), em colaboração com o IPFN, a Câmara Municipal de Loures e o Técnico, foram abordadas estratégias e oportunidades relacionadas com o ITER, assim como o aumento da importância da indústria nacional neste sector. Destacou-se a necessidade de potenciar as sinergias já existentes, com vista à cooperação industrial e à inovação, de forma a promover o desenvolvimento e a competitividade do país. Sublinhou-se também o aparecimento de várias novas empresas, apoiadas por universidades, no âmbito do sector da fusão nuclear, contribuindo para o desenvolvimento de centrais elétricas de fusão e aumentando a importância das instituições académicas na investigação e na formação de recursos humanos.
Portugal ocupa, atualmente, o 6.º lugar em termos de volume de negócios com a Fusion for Energy e o ITER, na Europa. Segundo a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), este valor traduz-se no 4.º maior índice de retorno industrial a nível europeu, ficando apenas atrás de França, Espanha e Itália, apesar de não ter energia nuclear no seu território.
A moderação do evento esteve a cargo de José Antão, Industrial Liaison Officer da ANI. Durante a sessão de abertura, Rogério Colaço, Presidente do Técnico, sublinhou a importância do CTN para o domínio das tecnologias nucleares. Ricardo Leão, Presidente da Câmara Municipal de Loures, referiu as vantagens de unir ciência, inovação e economia para gerar riqueza. António Grilo, Presidente da ANI, reforçou que “a fusão nuclear representa o pináculo da ambição humana e a esperança de um futuro sustentável numa sociedade sedenta de energia”. João Rui Ferreira, Secretário de Estado da Economia, para além de enfatizar que a fusão nuclear irá alterar o curso da evolução do mundo, aproveitou para anunciar um concurso de 6 milhões de euros para I&D em Big Science, em pequenas e médias empresas.
Também presente no evento esteve Alain Bécoulet, Diretor Geral Adjunto do ITER, que apresentou o trabalho desenvolvido pela organização, evidenciando o esforço global dedicado à produção de eletricidade através da fusão. Benjamin Perier, Diretor de Análise de Mercado e Transferência de Tecnologia da Fusion for Energy, uma entidade conjunta da Comunidade Europeia da Energia Atómica (Euratom), abordou as oportunidades de negócio no setor. José Antão, da ANI, falou sobre as rotas de fornecimento para o ITER e outros projetos de fusão, explicando como o desenvolvimento desses projetos pode influenciar o setor da fusão nuclear a nível europeu e global.
A mesa redonda “O Ecossistema da Indústria de Fusão Nuclear na Europa e além” juntou Fábio Vinagre, Chefe do Gabinete de Relações e Apoio à Indústria da EUROfusion, e Giampiero Lapenna, Gestor de Projetos da Ansaldo Nucleare, para debater o estado atual e as perspetivas futuras deste setor. A moderação esteve a cargo de Erik Fernández, Diretor Geral da INEUSTAR/INDUCIENCIA.
À tarde, Bruno Gonçalves (IPFN) falou sobre “O Roteiro Europeu da Fusão Nuclear e a Contribuição Portuguesa”, salientando o papel e a longa contribuição do IPFN na construção do ITER, na exploração dos tokamaks JET e ASDEX e em atividades relacionadas com o DEMO (o planeado sucessor do ITER). O IPFN apresenta-sse como um dos principais fornecedores nacionais e de referência em Portugal, responsável pela contribuição científica para o roteiro europeu da fusão nuclear, no âmbito do consórcio EUROfusion.
Seguidamente, Marc Lachaise, Diretor da Fusion for Energy, abordou a política e os instrumentos industriais da Fusion for Energy, explicando o caminho para a concretização do ITER e a construção de um ecossistema industrial europeu para a fusão nuclear. Ali Benmoussa, da Direção-Geral de Investigação e Inovação da Comissão Europeia, discutiu os rumos da estratégia da União Europeia para a energia de fusão.
A conferência culminou com um debate sobre a indústria de fusão nuclear, moderado por Carlos Varandas, Presidente do Comité Científico e Técnico da EURAtom, que contou com as intervenções de Alain Bécoulet (ITER), Ali Benmoussa (Comissão Europeia), Bruno Gonçalves (IPFN) e Marc Lachaise (Fusion for Energy).
A última intervenção do dia foi proferida por Ana Paiva, Secretária de Estado da Ciência, que enalteceu a iniciativa e enfatizou a resiliência das atividades científicas nesta área, comparando o desenvolvimento da fusão com o da Inteligência Artificial.