O grupo de investigadores do Departamento de Física viu o seu artigo acerca de buracos negros com carga elétrica – sublinhado pelos Editores como de excepcional qualidade – ser escolhido para incluir a prestigiada revista da área.
Um artigo de investigadores do Departamento de Física do Técnico, que resulta de uma estreita colaboração com o Centro de Análise Matemática Geometria e Sistemas Dinâmicos (CAMGSD), integra a mais recente edição da prestigiada publicação Physical Review Letters. O professor Vítor Cardoso, docente do Departamento e Física e um dos autores do artigo, explica da seguinte forma os excecionais contornos desta publicação: “A Physical Review Letters é a revista com mais prestigio na área, onde aliás foi publicado o trabalho que deu o Nobel da Física de 2017”. “Dos artigos com honra de serem publicados aí, apenas uma fração reduzida (cerca de 10%) dos trabalhos é escolhido como “Editors’ Suggestion” e como Viewpoint (isto é, um colega ficar encarregue de escrever um artigo sobre o nosso artigo)”, expõe ainda o co-autor.
O artigo debruça-se sobre os resultados de um estudo aprofundado dos buracos negros com carga elétrica que mostram que, de facto, uma singularidade aparece no horizonte de Cauchy na maioria dos casos. “Isto é ‘bom’ num certo sentido: significa que precisamos de modificações quânticas para descrever esta região”, reitera o co-autor do artigo. A principal surpresa, porém, relaciona-se com a existência de valores da carga eléctrica para os quais parece não haver singularidade. “Isto é surpreendente, pois significa que o horizonte de Cauchy permanece ‘intacto’, ou seja, nestes casos deixa de ser possível prever o futuro”, afirma o professor Vítor Cardoso.
Os autores levantam assim a hipótese de que teoria de Einstein não consegue prever o futuro nalgumas situações. Uma das respostas possíveis a esta questão “é que as equações de Einstein precisam de melhoramentos. Uma outra mais modesta é a de que existam efeitos que não foram tomados em linha de conta, que impedem que isto aconteça”, declara o professor Vítor Cardoso. Ou ainda que “talvez Einstein estivesse certo, mas haja um censor no Universo que impeça buracos negros com aquela carga elétrica de alguma vez se formar”, equaciona ainda o docente do Técnico.
A somar sucessos nos últimos anos, o grupo de investigação liderado pelo professor Vítor Cardoso traça como um dos objetivos futuros: “que o Técnico seja um centro internacional de Gravitação e que deixe um legado de descobertas importantes na área”. “Estamos num momento crucial da história: a astronomia de ondas gravitacionais vai-nos dar acesso a informação que nos esteve vedada durante cem anos…este é o momento para perceber como as coisas funcionam”, frisa de seguida. Resumindo, podem-se esperar anos de “muito boa ciência”.