Ciência e Tecnologia

O jovem cientista português que conquistou Dublin

O recém-chegado aluno do Técnico, Francisco Araújo conquistou o segundo lugar na 30ª edição do Concurso para Jovens Cientistas da União Europeia (EUCYS).

As últimas semanas de Francisco Araújo foram repletas de triunfos. Além de entrar no Técnico naquela que era a sua primeira opção, Matemática Aplicada e Computação, o jovem de 17 anos alcançou o segundo lugar da prova geral, e ainda o prémio de honra na 30ª edição do Concurso para Jovens Cientistas da União Europeia (EUCYS), em Dublin. Além de ganhar um prémio monetário no valor de 5 mil euros e a possibilidade de assistir à cerimónia dos Prémios Nobel 2018, o aluno do Técnico  “ajudou a provar novos teoremas”, conheceu imensas pessoas e na bagagem trouxe imensos ensinamentos para o ano letivo que agora começa.

Cresceu com a matemática em casa, e acredita que foi o facto de o pai ser matemático que lhe despertou “o bichinho” pela área. “Acho que houve alturas em que não gostei assim tanto de matemática, porque tinha professores que não me motivavam a gostar, mas isso mudou depois”, apressa-se a acrescentar. Quem o ouve falar não acredita que isto seja uma paixão de poucos anos. Tenta traduzir a matemática pura em palavras, mas tropeça várias vezes no raciocínio lógico de quem sabe o que está a dizer, mas não sabe ao certo como o dizer sem cair na incoerência das palavras. Foi este o caminho que percorreu quando nos tentou explicar a essência do trabalho que o levou a vencer o EUCYS: “Bom, tem a ver com teoremas da comutatividade para grupos e semigrupos. O meu trabalho passa por provar que em certas estruturas algébricas existem condições que implicam que essas estruturas são comutativas, ou seja a ordem dos operandos não altera o resultado final”. Para provar isto, além de passar horas à volta de um programa que permite provar teoremas de estruturas algébricas, Francisco procurou “humanizar a prova do computador”. Quando o questionamos sobre quantas horas lhe roubou todo este processo hesita a fazer a contabilização, querendo sempre dar repostas exatas como se exige a um matemático, mas depois lá acaba por encontrar um número redondo que faça jus ao trabalho que desenvolveu durante dois anos: “Cerca de 150 horas, talvez”, refere.

Na verdade, o agora aluno do Técnico desenvolvera o seu trabalho quando ainda estudava no lisboeta Colégio Planalto, cumprindo os requisitos curriculares que a instituição segue. Só mais tarde e “um bocadinho” por influência do irmão- que ficou em primeiro lugar na edição 2014 do EUCYS, que decorreu em Varsóvia, na Polónia- decidiu concorrer à Mostra Nacional de Ciência, organizada anualmente pela Fundação da Juventude. Foi o segundo lugar nesse concurso nacional que lhe permitiu rumar a Dublin para concorrer ao EUCYS 2018, que Francisco define como sendo “uma espécie de liga dos campeões das feiras de ciências de cada país”. Apesar de saber a qualidade do seu trabalho, o jovem apaixonado por matemática nunca achou que pudesse vencer o segundo lugar do concurso geral: “Fiquei bastante feliz e surpreendido. Sabia a qualidade do meu trabalho, mas também via a qualidade do trabalho dos outros e eles também eram os melhores dos seus países”. O aluno do Técnico destacou-se por entre cerca de 140 pessoas, e o seu projeto competiu diretamente com 88 projetos de diversas áreas científicas, provenientes de 38 países. Na preparação para o desafio, o irmão deu-lhe algumas dicas: “Disse-me que o mais importante era que me divertisse. A qualidade do trabalho era extremamente importante, mas a maneira como comunicávamos aquilo que tínhamos feito também era”, vincula Francisco Araújo.

Por causa do concurso chegou com uma semana de atraso ao Técnico, mas não sente que isso tenha tornado a adaptação  mais difícil. “Valeu a pena faltar”, frisa. “Tenho estudado mais do que aquilo que estava à espera de estudar na primeira semana, mas acho que está a correr bem”, declara o aluno. “O curso claramente é um bocadinho mais exigente do que aquilo que eu estava à espera”, acrescenta de seguida. O irmão -também aluno do Técnico, mas de Engenharia Mecânica- já o havia alertado para o rigor e o trabalho exigidos na instituição, porém Francisco considera que esta semana que passou em Dublin lhe deu ferramentas para gerir melhor toda essa exigência: “acho que a experiência neste concurso me ajudou imenso a ter foco no trabalho. Mostrou-me que para uma pessoa conseguir fazer algo bom basta trabalhar e ter as ferramentas certas”, partilha. “Penso que isto também se aplica ao Técnico. Uma pessoa desde que se dedique e trabalhe o suficiente também consegue tirar boas notas”, assinala de seguida.
Enquanto apaixonado pela matemática e consciente de que existem vários fantasmas em torno da área, Francisco explica que o truque passa por “olhar para a matemática e não olhar com estranheza para o que vemos, porque às vezes basta termos alguém que nos explique as coisas bem e descomplique o que vemos”, assinala. “A matemática é um desafio”, remata.